Ações do Magalu desabam na véspera de assembleia quente de acionistas
Papéis da varejista caíram 6,54% nesta terça-feira (28/5). Reunião vai analisar acusações de ex-donos do Kabum contra CEO da varejista
atualizado
Compartilhar notícia
As ações do Magazine Luiza registraram a maior queda do pregão da Bolsa brasileira (B3) desta terça-feira (28/5). Elas caíram 6,54%, cotadas a R$ 12,69, no dia em que o Ibovespa, o principal índice da B3, recuou 0,58%, fechando aos 123.779 pontos.
Essa, contudo, não é a única má notícia para a empresa. O tombo dos papéis ocorreu na véspera de uma assembleia extraordinária de acionistas, prevista para acontecer às 16 horas desta quarta-feira (29/5). Nela, os ex-donos do Kabum, os irmãos Thiago e Leandro Ramos, querem que a varejista mova uma ação de responsabilidade contra o CEO da companhia, Frederico Trajano.
Embora os dois fatos não estejam relacionados, um não ajuda o outro. No caso da queda das ações, Lucas Lima, analista da VG Research, considera que elas desceram a ladeira basicamente por dois motivos.
Um deles, diz Lima, é o fato de o varejo como um todo estar sendo pressionado pela alta na curva de juros americana e brasileira. Esse setor da economia precisa de crédito para vender seus produtos e sair da lama. Se as taxas de juros sobem, o crédito não vem – e as expectativas dos investidores desabam, puxando as ações.
Reunião de ações
Além disso, afirma o analista, os papéis do Magalu “ainda devem estar reagindo” ao agrupamento (o mercado usa o jargão “grupamento”) na proporção de 10 para 1, levado a cabo no pregão de segunda-feira (27/5). Nesse processo, 10 ações são reunidas numa só e seus valores, somados.
Na sexta-feira (24/5), os papéis fecharam cotados a R$ 1,32, com queda de 7,04% no dia, fazendo com que, com o ajuste, cada um passasse a valer R$ 13,20 após o pregão. Em geral, o agrupamento reduz a volatilidade dos papéis e afasta a possibilidade de uma companhia virar uma “penny stock” na Bolsa – como são chamadas as ações que valem menos de R$ 1.
De acordo com dados levantados pelo analista Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria, as ações do Magazine Luiza caíram 42,74% nos últimos 12 meses, sendo 9,63% em 2024. Nesta semana, a queda foi de 6,89%.
Ataques
No caso da assembleia extraordinária de acionistas, a perspectiva é de novas turbulências. Ela foi convocada a pedido dos irmãos Ramos, os ex-donos do Kabum, a plataforma de e-commerce focada em tecnologia e games. A dupla vendeu a empresa para o Magalu em julho de 2021, mas desde o início do ano passado contesta o negócio na Justiça. Além disso, os irmãos detêm ações ordinárias que representam 1,014% do capital social da companhia.
E toda a munição que poderá ser usada contra Frederico Trajano pelos ex-donos do Kabum na assembleia se tornou pública na sexta-feira (24/5), a partir das 18h59. Isso porque, nesse horário, a empresa publicou os documentos relacionados à convocação do encontro extraordinário de acionistas no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Controle contábil
Eles incluem uma carta enviada pelos irmãos ao conselho de administração da varejista, com data de 3 de maio, e uma declaração da dupla, de 29 de abril. No primeiro documento os Ramos afirmam que Trajano cometeu fraude contábil que teria resultado em um ajuste acumulado no patrimônio líquido de R$ 829,5 milhões. Dizem ainda que, após o início das atividades de integração das companhias, alertaram o CEO do Magalu e outros diretores da varejista a respeito de uma “grave deficiência no controle contábil de estoque”.
Eles afirmam ter alertado os executivos sobre um problema no lançamento contábil do preço de entrada das mercadorias no Magazine Luiza. Segundo os Ramos, ao contrário do que ocorria no Kabum, esse processo não era automatizado no Magalu, mas realizado manualmente por quem tinha interesse pessoal em que ele fosse registrado o menor valor possível da transação. Isso porque as bonificações para os funcionários eram tanto maiores quanto menor o preço pago pelas mercadorias.
Crédito fiscal
Os Ramos dizem também que Fred, como é conhecido no mercado, teria agido de forma intencional para deixar prescrever um crédito fiscal de R$ 39 milhões, em valores atualizados, que havia sido reconhecido a favor do Kabum. Acrescentam que a medida teria sido tomada para “satisfazer um desejo pessoal de vingança” contra eles.
Contra-ataque
Em carta enviada ao conselho de administração do Magalu, responsável pela convocação da assembleia extraordinária, Fred Trajano contestou todas as acusações. Ele afirmou que os ataques dos Ramos eram o “mais recente exemplo das condutas que têm sido adotadas por seus autores, em sua cruzada para obter da companhia vantagens que não lhes são devidas por força dos contratos celebrados quando da venda do Kabum”.
Em relação à questão contábil, Trajano disse que “todos os fatos foram exaustivamente publicados e as conclusões devidamente comunicadas aos acionistas e ao mercado em geral em novembro de 2023”. “A pretensão de reabrir artificialmente esse assunto é a prova cabal de que a autuação dos antigos acionistas do Kabum visa exclusivamente ao seu próprio (e indevido) interesse”, diz.
A respeito do crédito tributário, Trajano diz que ele só “não foi apresentado à Receita Federal porque os vendedores do Kabum se omitiram em apresentar à companhia os elementos necessários à formulação do pedido de reconhecimento. Diz o CEO do Magalu que, como eles “eram os únicos beneficiários do reconhecimento do crédito, tudo leva a crer que sua omissão se deveu à impossibilidade de cumprirem a obrigação que lhes cabia”. “Não conseguindo demonstrar a veracidade do crédito, sua reação decorre apenas de sua frustração por não obterem um pagamento que a companhia, no interesse de seus verdadeiros acionistas, corretamente não realizou”, acrescenta.