Ações da Evergrande despencam em Hong Kong após 17 meses de suspensão
As incertezas em relação à companhia aumentaram com o atraso das principais votações do plano de recuperação da Evergrande
atualizado
Compartilhar notícia
As ações da gigante chinesa Evergrande, uma das maiores empresas da China no setor imobiliário, despencaram 87% nas negociações da bolsa de valores de Hong Kong, nesta segunda-feira (28/8). Os papéis voltaram ao pregão depois de uma suspensão de 17 meses.
As incertezas em relação à companhia aumentaram com o atraso das principais votações do plano de recuperação da Evergrande. A incorporadora enfrenta sérias dificuldades e está no epicentro de uma crise que atinge o setor imobiliário do país asiático.
Segundo a Evergrande, o adiamento se deve à intenção da empresa de permitir que os credores avaliem “acontecimentos recentes”, como a retomada da negociação dos papéis e os termos das propostas de recuperação.
A Evergrande anunciou seu plano de reestruturação em março deste ano. Em abril, a companhia informou que o apoio de um grupo importante de investidores, no entanto, ainda era “insuficiente”.
A empresa reportou um prejuízo aos acionistas de 33 bilhões de yuans (cerca de US$ 4,5 bilhões) no primeiro semestre deste ano. O resultado negativo foi menor do que o prejuízo registrado no mesmo período de 2022, de 66,35 bilhões de yuans (US$ 9,1 bilhões).
O “dragão” desacelera
As dificuldades da Evergrande reforçam uma onda de preocupações em relação ao mercado imobiliário e à economia da China.
Reportagem publicada pelo Metrópoles mostrou que os dados mais fracos da segunda maior economia do mundo acenderam um alerta no planeta.
Quando a China anunciou o fim gradual de sua política de Covid zero, que fez o país ter quarentenas severas por três anos, a expectativa era que a economia decolaria rapidamente. O governo definiu uma meta de crescimento de 5% para 2023 e o objetivo chegou a ser visto como bastante moderado para os chineses.
Ainda que frentes como o setor de serviços tenham, de fato, se reerguido no começo do ano, a projeção é que a meta poderá não ser atingida.
As vendas do varejo na China avançaram 2,5% em julho, na comparação com o mês anterior, enquanto a produção industrial cresceu 3,7%. Ambos os resultados vieram abaixo das expectativas do mercado.
Os novos e velhos problemas
Uma outra reportagem do Metrópoles mostrou que, mesmo antes do caso da Evergrande, o mercado imobiliário já levantava dúvidas fora da China, porque o governo Xi Jinping vinha fazendo um cerco ao setor nos últimos anos, na tentativa de conter a escalada dos preços nas grandes cidades.
Além disso, as próprias dinâmicas da economia indicavam que o auge do setor havia chegado ao fim. Após os picos dos anos 2010, estima-se que os preços dos imóveis caíram mais de 20% e as construtoras, altamente alavancadas nos anos de bonança, passaram a ter dificuldade em honrar seus compromissos e entregar as obras.
No limite, parte dos consumidores, sem ver as casas entregues, ameaçou parar de pagar seus financiamentos. Fundos e bancos nacionais e internacionais também fecharam as torneiras para muitas empresas desde então.
A leitura é que a situação deve desacelerar ainda mais a economia chinesa. As principais casas do mercado, como UBS, J.P. Morgan e Morgan Stanley, revisaram as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 4,7% ou 4,8%. Ou seja, abaixo da meta do governo chinês para o ano.