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A surpresa de Putin: como a guerra “bombou” a economia russa

Os analistas previam um ano devastador para a Rússia, com queda de 2,3% do PIB. Mas ele deve crescer 1,5% neste ano

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Em conflito com a Ucrânia e sob severas sanções econômicas, tudo apontava para que o desempenho da economia russa fosse um estrondoso fiasco neste ano. Faltou, contudo, combinar com os russos.

Desde o fim do ano passado, as projeções sobre a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do país mudaram radicalmente. Elas só fazem crescer. Passaram de 2,3% negativos, para um avanço de 1,5% (veja quadro abaixo). E há uma boa explicação para essa guinada: a máquina de guerra de Vladimir Vladimirovitch Putin está carregando a economia nas costas.

O fenômeno já ganhou nome. Foi batizado de “keynesianismo militar” por Alexandra Prokopenko, pesquisadora do Carnegie Russia Eurasia Center, em Berlim, e ex-funcionária do banco central russo. O britânico John Maynard Keynes (1883-1946), um dos economistas mais influentes do século XX, defendia, em linhas gerais, uma maior participação do Estado na economia.
Para os analistas, são inequívocos os sinais da influência da engrenagem militar na roda da economia – e é impressionante a sofisticação com que esses dados têm sido coletados. A Rússia é fotografada e filmada todos os dias pelos satélites em órbita do Centre National d’Études Spatiales (CNES), a agência espacial francesa.
Em recente artigo publicado pelo jornal italiano Corriere Della Sera, o jornalista Federico Rampini informou que a empresa parisiense QuantCube Technology usa as informações desse sistema para analisar a emissões de poluentes na Rússia em 232 pontos. É a partir desses “postos de observação” que uma equipe de estatísticos, matemáticos e engenheiros computacionais calcula a quantidade da produção local.

Economia no ar

Os técnicos medem a atividade industrial com base na intensidade e na qualidade dos gases liberados pelas fábricas. Como cada região concentra determinados setores produtivos – as empresas de defesa e metalurgia estão na área de São Petersburgo – é possível ter uma ideia nítida da atividade nos diversos segmentos econômicos. Além disso, cada indústria tem emissões específicas, como uma digital, reconhecíveis no espaço graças à concentração de gases (fornos metalúrgicos liberam dióxido de nitrogênio).

Dessa forma, os bisbilhoteiros da QuantCube concluíram que, na Rússia, a indústria de defesa em 22 de maio estava produzindo 2% a mais do que seis meses antes. A geração de eletricidade de fontes não nucleares cresceu 3% no mesmo período e as emissões de poluentes do setor metalúrgico, depois de longa queda em 2022, avançaram 4%. O refino de petróleo e a produção de materiais de construção também aceleraram entre 2,5% e 3,5%.

Virada oriental

O cientista político Leonardo Paz Neves, do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV NPII), observa ainda que não é apenas a máquina de guerra que faz o PIB russo engordar. As sanções impostas pelo Ocidente, nota o pesquisador, têm sido contornadas por um redirecionamento sem precedentes do comércio da Rússia para parceiros asiáticos, notadamente, a China e a Índia.

O comércio total entre a China e a Rússia atingiu um novo recorde em 2022. De acordo com dados da alfândega chinesa, ele cresceu 30%, alcançando US$ 190 bilhões. Os chineses compraram ainda US$ 50,6 bilhões em petróleo bruto russo, entre março a dezembro do ano passado, num aumento de 45% em relação ao mesmo período do ano anterior.

As importações chinesas de carvão aumentaram 54%, para US$ 10 bilhões e as compras de gás natural saltaram 155%, para US$ 9,6 bilhões. Por fim, mais um dado insólito: a participação do yuan no mercado de moedas estrangeiras da Rússia, que era de menos de 1% em janeiro de 2022, saltou para 48%, em novembro.

Longo prazo

Agora, diz Neves, da FGV, a questão é de longo prazo. Ou seja, a pergunta é: até quando essa estratégia com dois caminhos momentaneamente tonificantes – as turbinas ligadas da máquina de guerra e a virada comercial para o bloco China-Índia – vai se sustentar.

Em abril, Petya Koeva Brooks, vice-diretora do departamento de pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse que a Rússia havia usado todo o “espaço orçamentário que tinha para apoiar sua economia”. “Mas uma grande parte de seus gastos orçamentários é, na verdade, gasto militar”, afirmou. A previsão era que o déficit russo aumentasse em até 6,2% do PIB, em 2023.

Com isso, acrescentou o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, o confronto com a Ucrânia teria um forte impacto negativo nos próximos anos. “Até 2027, esperamos que a economia russa seja 7% menor do que deveria ser sem a guerra”, afirmou Gourinhas. Isso a menos que Putin prepare uma nova surpresa para o mundo.

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