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A grande incógnita do plano de Sergio Massa para a economia argentina

Para economistas, candidato governista à Presidência da Argentina ainda não disse como vai conter a inflação que pode chegar a 180% no país

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sergio massa ministro da economia argentina / Metrópoles
1 de 1 sergio massa ministro da economia argentina / Metrópoles - Foto: Reprodução/Redes sociais

Sergio Massa, o atual ministro da Economia e candidato governista à Presidência da Argentina, realizou um feito considerável neste domingo (23/10). Ele alcançou o segundo turno das eleições, mesmo deixando como legado uma inflação que pode chegar a 180% em 2023, juros de quase 140% ao ano e um dólar valendo 1.000 pesos no câmbio paralelo. Além disso, afirmam especialistas, ninguém sabe exatamente quais são suas propostas para desentortar as finanças do país.

“O plano econômico de Massa ainda é uma incógnita”, diz o economista Fabio Giambiagi, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). “Assim como também é uma incógnita quem vai ocupar o Ministério da Economia na sua ausência, caso seja eleito presidente.”

Giambiagi, porém, observa que dois fatores devem ser levados em conta em relação ao candidato peronista. “Um deles é que Massa é o animal político mais hábil que surgiu na Argentina depois do ex-presidente Carlos Menen (que governou o país entre 1989 a 1999)”, afirma.

O segundo ponto, acrescenta o economista, é que a Argentina terá eleições em outubro de 2025 para renovar parte da Câmara e do Senado. “E tenho 99% de certeza que, se eleito, Massa não vai chegar lá com uma inflação que pode beirar os 200% ao ano”, diz. “Antes disso, vai adotar algum tipo de choque econômico para enfrentar esse teste eleitoral. Para isso é imprescindível consertar a bagunça que ele mesmo agravou.”

Generalidades

O problema, notam os especialistas, é que o plano de governo de Massa, o candidato da coalizão de esquerda Unión por la Pátria, não traz indicações claras de como resolver um problema estrutural dessa envergadura. Ele mais se assemelha a um compêndio de generalidades (veja a íntegra neste link). O atual ministro informa em seu projeto, por exemplo, que pretende firmar acordos com credores, além de criar uma mesa de negociação de preços e salários para conter a inflação.  Algo que, dizem os técnicos, soa vago demais.

Já seu opositor no segundo turno, o ultraliberal Javier Milei, da coalizão de direita La Libertad Avanza, prometeu que vai dolarizar a economia e acabar com o Banco Central do país. A proposta tem deixado muitos analistas de cabelos em pé, basicamente por dois motivos: a Argentina não tem dólares suficientes para promover a medida e, mesmo que tivesse, teria de abrir mão de sua soberania na condução da política monetária, algo que poderia criar grandes entraves no médio e longo prazos.

Reservas pífias

Para o economista Matías Vernengo, professor da Bucknell University, na Pensilvânia (EUA) e ex-gerente sênior de pesquisa do Banco Central da Argentina (BCRA), embora com posições diametralmente opostas, os dois candidatos à Casa Rosada, a sede do governo argentino, teriam de superar a mesma barreira para implementar planos eficazes contra a inflação e começar a reorganizar o país.

“Para estabilizar a inflação, o governo terá de controlar o câmbio até para evitar uma série de reajustes de preços que ocorrem, por exemplo, com as importações. Agora, para segurar o câmbio é preciso ter reservas em dólares”, diz Vernengo. “O caso é que ninguém sabe exatamente qual é o tamanho das reservas líquidas da Argentina. O que todos têm certeza é de que elas são muito baixas.”

Caixa no vermelho

O economista afirma que, oficialmente, as reservas argentinas em dólares somam cerca de US$ 24 bilhões e estão em queda. No início do ano, alcançavam quase R$ 45 bilhões. Ainda assim, esses valores, nota o economista, incluem depósitos do sistema financeiro. 

Ele estima que o valor líquido, ou seja, a quantidade de dólares que de fato deveriam estar nas mãos do governo, simplesmente não existe. Isso porque as reservas estariam negativas em US$ 7 bilhões. “Não é por acaso que a Argentina está pagando o FMI (Fundo Monetário Internacional) com yuans (a moeda chinesa)”, diz. “Isso deve ser um fato inédito inclusive para o FMI.”

Ajuda de São Pedro

O professor da Bucknell University considera que, diante desse quadro, se eleito, o plano de Massa é acumular reservas aos poucos. Como? Com mais do mesmo. Com isso, poderia ganhar fôlego para conter a inflação de forma mais contundente no médio prazo. “Isso poderia ser feito, por exemplo, com melhores resultados na exportação, caso da agricultura, além de outras ações do governo”, diz Vernengo. 

De fato, a projeção da safra de soja argentina para 2023/2024 é de 50 milhões de toneladas, o nível mais alto dos últimos cinco anos e bem acima dos 21 milhões de toneladas da temporada anterior. Mesmo assim, nesse caso, as chances de recuperação da economia do país estariam condicionadas a fatores intangíveis, o que incluiria até o bom humor de São Pedro para garantir chuvas adequadas às colheitas. 

 

 

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