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A economia da Grécia renasce: o que o país fez para sair do buraco

Uma década após maior crise de sua história, Grécia é um dos países que mais crescem na Europa, puxada por turismo e investimentos. Por quê?

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Imagem colorida da bandeira da Grécia, em destaque, tremulando em uma dia de céu azul. Ao fundo, o mar e um conjunto de casas em um cenário paradisíaco - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida da bandeira da Grécia, em destaque, tremulando em uma dia de céu azul. Ao fundo, o mar e um conjunto de casas em um cenário paradisíaco - Metrópoles - Foto: Getty Images

Em 2012, mergulhada na maior crise econômica de sua história, a Grécia parecia condenada. O colapso financeiro global gerado a partir da quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos, quatro anos antes, levou pânico aos mercados em todo o mundo, fazendo com que diversos países se endividassem enormemente para salvar seus sistemas bancários.

O resultado foi o surgimento de uma outra crise, de endividamento, que se alastrou pela União Europeia nos anos seguintes, penalizando os países periféricos – como Portugal, Irlanda e Chipre. A catástrofe grega, no entanto, teve contornos ainda mais dramáticos. Em 2012, o Produto Interno Bruto (PIB) do país desabou 25% e o desemprego atingiu quase um terço da população (28%).

Apenas entre 2010 e 2015, a Grécia recebeu três pacotes emergenciais de resgate da União Europeia (UE), somando mais de 320 bilhões de euros. Centenas de milhares de empresas foram à falência. A renda das famílias despencou.

Uma década depois, é difícil acreditar que a Grécia esteja entre as economias que mais crescem na Europa. No ano passado, o PIB grego avançou 5,9%. Em 2021, o crescimento havia sido de 8,4%. O desempenho supera, e muito, a média dos países da zona do euro (5,3% em 2021 e 3,5% em 2022). Embora ainda elevada, a taxa de desemprego, que terminou o ano passado em 11%, é a mais baixa em uma década.

Turismo, tecnologia e (grau de) investimento

Principal setor econômico do país, o turismo vive um novo “boom”: mais de 10 milhões de estrangeiros tiveram a Grécia como destino no último verão, movimentando 21 bilhões de euros. O segmento já alcançou 97% do patamar pré-pandemia.

O país também vem recebendo novos investimentos. Recentemente, a gigante farmacêutica Pfizer abriu um centro de pesquisa científica na cidade portuária de Tessalônica, ao norte. Google, Amazon e Microsoft instalaram centros de dados e computação em nuvem no país. Em 2022, o investimento estrangeiro na Grécia somou US$ 7,6 bilhões.

A maior confiança dos investidores se reflete na avaliação das agências de classificação de risco. Em agosto, o país recuperou o grau de investimento, concedido pela Scope Ratings, depois de 13 anos, graças a “uma trajetória estável de declínio da dívida pública, crescimento econômico real acima do potencial, juros baixos da carteira de dívida vigente e obtenção de superávits fiscais primários”.

A decisão da Scope é um termômetro importante para o mercado porque indica que a Grécia tem plena capacidade de honrar seus compromissos financeiros, algo inimaginável há 10 anos. O grau de investimento é uma espécie de selo de bom pagador atribuído pelas agências a países ou instituições.

Reformas: a lição de casa da Grécia

Segundo economistas ouvidos pelo Metrópoles, o segredo da Grécia para sair do atoleiro que quase implodiu a zona do euro e voltar ao clube de bons pagadores está na austeridade fiscal adotada pelo país e nas reformas econômicas aprovadas nos últimos anos.

Os pacotes financeiros emergenciais encaminhados pela UE, especialmente durante a pandemia de Covid-19, também ajudaram. Em 2021, Bruxelas aprovou 30 bilhões de euros para investimentos na Grécia, como parte de um programa de apoio às economias do bloco europeu em meio à crise sanitária global.

À frente do governo desde 2019, o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, reeleito em junho deste ano, levou a cabo uma série de políticas de disciplina fiscal, como corte de gastos e reformas que diminuíram a máquina pública, gerando maior produtividade e dinamizando a economia grega.

Em 2021, o premiê lançou um ambicioso programa denominado “Grécia 2.0”, que prevê mais de 100 projetos de investimento e cerca de 70 reformas micro e macroeconômicas até 2026. Apesar de continuar em um patamar muito elevado, a dívida pública caiu de 206% para 171% do PIB no ano passado. É o menor nível desde 2012.

“O que explica a retomada grega é a política de austeridade fiscal. Aliás, o que levou o país a uma situação dramática em 2012 foi uma relação dívida/PIB elevadíssima, que empurrou os juros para cima e, consequentemente, levou a uma desconfiança do mercado em relação à adimplência da dívida”, afirma o economista Mauro Rochlin, professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Essa política restabeleceu a confiança dos investidores, o que gerou um aumento da procura por títulos públicos da Grécia. O governo conseguiu retornar ao mercado financeiro. De fato, o país pode ter entrado em um círculo virtuoso.”

De acordo com o economista da FGV, a Grécia “fez a lição de casa” e “endireitou seu desconcerto fiscal”. “Quando entrou na zona do euro, a Grécia, assim como outros países da periferia europeia, passou a gozar de crédito e se endividou tremendamente”, explica. “Os déficits primários do governo grego foram crescentes e turbinaram a dívida grega nos últimos seis anos. Agora, a questão fiscal passou a ser bem encaminhada. O governo passou a mirar no superávit.”

Para o economista Maurício F. Bento, diretor do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo (IFL-SP), as perspectivas da Grécia para os próximos 10 anos são muito melhores, hoje, do que eram no passado recente. “O país talvez esteja na transição entre uma década perdida em termos econômicos e uma possível retomada. Nós temos a expectativa de ver o início de uma nova fase de crescimento grego”, diz.

O jogo não está ganho

Apesar do bom momento econômico, a lição de casa da Grécia ainda está longe de ser concluída. O PIB atual do país é 24% inferior ao de 2008, antes do início da crise. A Grécia é a segunda nação mais pobre da UE – à frente apenas da Bulgária no ranking do PIB per capita, de acordo com dados do Banco Mundial. Embora tenha baixado, a dívida pública segue como a maior da Europa. No ano passado, a inflação quase alcançou os dois dígitos (9,3%).

“Se a política de austeridade for abandonada, a crise estará à espreita. A relação dívida/PIB ainda é altíssima. O que anima o mercado é uma trajetória descendente da dívida, mas o patamar dela é preocupante. A questão fiscal ainda sombreia esse processo”, afirma Rochlin.

Maurício F. Bento também alerta para os riscos de complicações econômicas à frente. “A Grécia tem hoje uma situação mais promissora, mas o quadro ainda não é tão confortável. Apesar do crescimento nos últimos anos, o PIB do país é apenas levemente superior aos valores de 2018. Em relação ao PIB per capita, a Grécia ainda não alcançou os valores de 2004, o que é espantoso”, observa.

“Apesar de o pior já ter passado, a ponto de vislumbrarmos um futuro economicamente mais próspero na próxima década, o trabalho ainda não acabou. As reformas não se encerram nelas mesmas. São um processo.”

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