Crise entre Venezuela e governo Milei ganha novos capítulos
Desde a contestada vitória de Nicolás Maduro, em julho deste ano, relação entre Venezuela e Argentina enfrenta picos de tensão e rusgas
atualizado
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Desde o início de dezembro a relação entre Venezuela e Argentina, já abalada após a contestada reeleição de Nicolás Maduro, voltou a ganhar novos pontos de tensão.
No último dia 13, a chancelaria argentina denunciou a prisão de um funcionário da representação do país em Caracas, por meio de um comunicado.
“Essa ação constitui uma violação flagrante e inaceitável das normas internacionais que garantem a inviolabilidade de sedes diplomáticas e da proteção de seu pessoas, incluindo aqueles que desempenham funções essenciais”, disse a pasta.
O episódio aconteceu após meses de rusgas entre Buenos Aires e Caracas, depois de Maduro expulsar diplomatas de países que contestaram a sua vitória na eleição de julho, ainda cercada de mistérios. Depois da retirada de funcionários, o Brasil assumiu a proteção do local em agosto, com base na Convenção de Viena.
No local estão asilados seis colaboradores que trabalhavam na campanha de María Corina Machado, antes de o principal nome da oposição ser impossibilitada de disputar o pleito, dando lugar para o ex-diplomata Edmundo González.
Desde então, os opositores que estão abrigados na embaixada da Argentina na Venezuela, um local protegido pelas leis e convenções internacionais, têm denunciado diversas violações contra o local, como cercos policiais e corte de serviços essenciais.
Policial argentino preso
Um membro da Gendarmaria Nacional Argentina, a principal força de segurança do país liderado por Javier Milei, foi preso em 8 de dezembro, após entrar em solo venezuelano a partir da fronteira com a Colômbia, pela ponte internacional de Táchira.
O governo venezuelano confirmou nesta segunda-feira (18/12) a prisão do argentino. Segundo o governo Milei, o policial Nahuel Agustín Gallo teria viajado à Venezuela para visitar sua companheira e filha. Ele estaria de férias de seu posto de trabalho, na fronteira entre Chile e Argentina.
“Um gendarme argentina entrou na Venezuela para visitar a esposa e a filha, e foi detido pelo regime chavista”, escreveu a ministra da Justiça da Argentina, Patricia Bullrich, em uma publicação no X do último dia 13 de dezembro. “Exigimos a libertação IMEDIATA deste cidadão argentina. Maduro, cada minuto que você aguentar será mais um passo em direção ao seu próprio fim”.
A versão dada pela Argentina para a visita do policial argentino não convenceu o regime de Nicolás Maduro. Sem provas, autoridades venezuelanas afirmaram que o oficial foi detido por entrar no país com o objetivo de cumprir uma “missão”.
“Uma pessoa foi presa. Você vai no Instagram dele e ele corre o mundo, mas o salário dele é de US$ 500. Como eles fazem isso?”, questionou o ministro do Interior, Justiça e Paz da Venezuela, Diosdado Cabello, ao confirmar a prisão de Gallo na segunda-feira (16/12). “Todo mundo finge que tinha namorada. Todo mundo dá essa desculpa. Doeu-lhes, porque ele veio cumprir uma missão”, disse.
Guerra e ironia
Deixando de lado as formalidades dignas de autoridades, Cabello ainda comentou as ameaças da ministra Bullrich após o caso envolvendo o policial argentino.
“Será causa de guerra? Pelo amor de Deus, declare guerra aos ingleses, que lhes tiraram as Malvinas”, ironizou o ministro chavista.
Bullrich, por sua vez, classificou a detenção de Gallo como “sequestro”, e tentou rebater as alegações de Cabello de que o policial argentino realizou diversas viagens ao redor do mundo.
Em uma publicação no X, a ministra da Justiça de Milei compartilhou um histórico de viagens recentes do policial custeados pelo governo argentino, entre os anos de 2018 e 2024.
“Diosdado Cabello, você é o lacaio de uma ditadura criminosa e covarde. Sequestrar um policial argentino não te torna forte, mas te mostra desesperado. A Argentina não se submete a tiranos. Solte Nahuel Gallo imediatamente ou enfrente as consequências. A cada minuto que você o segura, você fica mais exposto com o miserável opressor que você é. A liberdade nunca se ajoelha diante de ditadores”, escreveu Bullrich no X.
Até o momento, o regime chavista ainda não revelou onde o policial está detido. A ministra da Justiça da Argentina, no entanto, disse ter recebido informações de que Gallo estaria em uma base de inteligência chavista na região de Táchira.