Venezuela elege neste domingo (30/7) Assembleia Constituinte
Eleitores vão às urnas escolher os membros da Assembleia. Processo é criticado por oposição e comunidade internacional
atualizado
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Depois de mais um dia de protestos com morte, a tensão na Venezuela cresceu neste sábado (29/7) na véspera das eleições que escolherão os representantes da Assembleia Nacional Constituinte. A votação ocorre no domingo (30/7) em meio às fortes medidas de segurança e às críticas da oposição e da comunidade internacional.
Apesar do clima tenso, o sábado começou sem confrontos, apenas com algumas ruas bloqueadas pelo país em protesto, e com um alerta da procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, sobre os riscos da eleição.
“Esse domingo vai decidir se seguimos existindo como república ou se será instaurado um sistema personalista e totalitário”, afirmou em entrevista a procuradora, que, apesar de ser uma chavista declarada, se tornou nos últimos meses uma das vozes mais críticas ao governo de Nicolás Maduro.
Ortega Díaz pediu ainda que Maduro ouça o povo e suspenda a Constituinte. “Ainda há tempo para fazê-lo”, sugeriu, acrescentando temer uma escalada de violência contra o processo do presidente para tentar mudar a Constituição.“Os atores políticos do governo e da oposição devem entender que não podem pretender substituir a política pela guerra, que devemos aceitar a existência um do outro. O governo de Maduro está num estado de negação da realidade”, destacou a procuradora.
A Assembleia Constituinte é vista pela oposição como uma tentativa do governo para consolidar uma ditadura, sendo alvo de diversos protestos em todo o país. Caracas também sofre pressão internacional para cancelar a votação, que deve eleger os membros do processo que vão redefinir a Constituição da Venezuela de 1999.
Pressão internacional
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou na sexta-feira (28/7) que seu país não reconhecerá os resultados da votação. “Essa Assembleia Constituinte tem uma origem espúria e, por conseguinte, tampouco poderemos reconhecer os seus resultados”, disse.
Ao se referir a “um país vizinho que está vivendo uma época de obscurantismo”, o governante insistiu numa solução pacífica para o conflito na Venezuela, que enfrenta uma onda de protestos e indignação que já dura quatro meses e deixou 109 mortos.
Seguindo a Colômbia, o Panamá anunciou neste sábado que também não reconhecerá os resultados da votação devido aos vícios do processo. Já a Suíça pediu que Maduro suspenda a Constituinte e defendeu o diálogo entre governo venezuelano e oposição para solucionar o conflito.
“A Suíça está profundamente preocupada com a situação atual e o aumento da violência na Venezuela. Está profundamente preocupada com a polarização crescente, a violação dos direitos humanos, o uso da violência e as repercussões socioeconômicas cada vez mais sérias que afetam a população”, acrescentou o Ministério suíço do Exterior, em nota.
Eleições dos representantes
Mais de 19,8 milhões de venezuelanos foram convocados para ir às urnas no domingo para eleger os membros da Assembleia Constituinte. Segundo dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), cerca de 6,1 mil candidaturas foram admitidas na disputa por 545 vagas.
A oposição venezuelana se negou a participar da Constituinte por considerar o processo fraudulento e critica que não tenha sido convocado um referendo antes da escolha dos constituintes, como ocorreu em 1999, quando foi sancionada a atual Constituição.
As urnas serão abertas a partir das 6h (horário local) neste domingo (30/7). O encerramento da votação está previsto para às 18h, se não houverem eleitores em filas para votar. Cerca de 200 mil militares estarão nas ruas para garantir a continuidade do processo. As Forças Armadas disseram que responderão a qualquer ameaça fazendo “uso proporcional da força”.
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), principal aliança de oposição, tem convocado a população a levantar barricadas em várias cidades do país desde a quarta-feira. Os opositores pretendem ainda tomar as principais avenidas da Venezuela para expressar repúdio à Constituinte.
Desde abril, a Venezuela enfrenta uma onda de protestos e indignação, em meio a uma profunda crise política e econômica. A principal exigência dos opositores é a revogação da Assembleia Constituinte.