UE quer fechar acordo com Mercosul antes de Milei assumir na Argentina
Posse do futuro presidente da Argentina, Javier Milei, está marcada para 10 de dezembro. Ele é conhecido por criticar o Mercosul e o Brasil
atualizado
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A União Europeia (UE) quer assinar acordo com o Mercosul até 7 de dezembro, dias antes de Javier Milei, eleito nesse domingo (19/11) à Presidência da Argentina, assumir o comando da Casa Rosada. A posse do político ultraliberal está prevista para 10 de dezembro.
Nesta segunda-feira (20/11), o bloco europeu declarou que as negociações têm sido “extremamente construtivas” e que o plano é no sentido de que o processo seja encerrado até o fim de 2023. A declaração está em um comunicado publicado hoje pela União Europeia.
Um encontro entre as partes envolvidas para assinar o acordo deve acontecer até o dia 7 de dezembro, quando o Brasil sai da presidência do grupo e o Paraguai assume. “É importante que a presidência brasileira do Mercosul tente selá-lo antes do final do nosso mandato [em 7 de dezembro]”, afirmou um diplomata brasileiro ao Financial Times.
O presidente Lula estaria, inclusive, se envolvendo pessoalmente no assunto.
E mesmo na sede da União Europeia, em Bruxelas, o assunto estaria sendo tratado a toque de caixa para que Milei não faça o acordo melar. “Aumentaram a frequência e a intensidade das negociações na crença de que uma zona de aterrissagem para um acordo político só será alcançável sob a presidência brasileira do Mercosul”, apontou um alto funcionário da UE.
Milei é conhecido por “ameaçar” deixar o Mercosul caso fosse eleito presidente da Argentina. A saída do bloco econômico sul-americano teria um impacto no comércio entre os países-membros: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (suspensa).
Acordo entre UE e Mercosul
A declaração desta segunda indica o fim de uma negociação que dura mais de duas décadas. Tal acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia é uma das apostas do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou a pressionar o andamento das trativas entre os blocos.
Durante um encontro de cúpula do G20, na Índia, o petista disse: “Nos próximos meses, a gente tem que chegar a um acordo: ou sim ou não. Ou parar de discutir o acordo, porque, depois de 22 anos, ninguém acredita mais”.
Em nome do bloco sul-americano, Lula cobrou dos europeus “uma postura mais clara em torno da real possibilidade de acordo”. O petista também chegou a conversar pessoalmente com o presidente da França, Emmanuel Macron, sobre o tema.
O Mercosul foi criado em 2000, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, mas as bases do acordo de livre comércio entre o bloco e a UE só foram fechadas em 2019, no decorrer do governo de Jair Bolsonaro (PL). Porém, ainda depende da assinatura final de ambas as partes.
O texto final abrange a eliminação de tarifas de importação para quase todos os produtos, além de medidas sanitárias e regulatórias, propriedade intelectual e outras frentes.
“Salvar o Mercosul”
Após Javier Milei ser eleito presidente da Argentina, o assessor de assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou ao jornal O Globo que uma das preocupações do governo é “salvar o Mercosul”.
“Temos que respeitar o resultado da eleição, por um lado, manter as relações como dois Estados e, se possível, salvar o Mercosul. A relação entre Brasil e Argentina é a base do Mercosul e tem reflexo em toda a América do Sul”, declarou Amorim.
O assessor de assuntos internacionais reforçou que o Brasil pretende manter uma relação de dois Estados com a Argentina, mesmo com as falas incisivas de Javier Milei sobre o atual governo brasileiro. Em uma das ocasiões, o futuro chefe da Casa Rosada descreveu o presidente Lula como “corrupto e comunista” e disse que não se encontraria com ele.