Ucrânia investiga 15 mil potenciais crimes de guerra
Procuradora-geral da Ucrânia afirma que Justiça identificou 600 suspeitos. Procurador diz que país é “um cenário de crime”
atualizado
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A Justiça ucraniana identificou “milhares” de casos de supostos crimes de guerra desde que a Rússia lançou sua guerra de agressão contra o país, declarou sua procuradora-geral da Ucrânia em visita a Haia.
“Identificamos alguns milhares de casos com base no que vemos no Donbass“, disse a procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, em entrevista coletiva em Haia, na Holanda, onde se encontrou com o procurador do Tribunal Penal Internacional Karim Khan e o presidente da Eurojust, Ladislav Hamran. A Eurojust é uma agência europeia que lida com cooperação judiciária entre os Estados-membros da União Europeia.
No total, segundo Venediktova, a Ucrânia identificou 15 mil casos de supostos crimes de guerra. Segundo os ucranianos, incluem a transferência forçada de pessoas para diferentes partes da Rússia, tortura, assassinato de civis e destruição de infraestrutura civil.
Venediktova acrescentou que a cada dia surgem entre 100 e 200 denúncias de crimes de guerra atribuídos às forças militares russas.
“Não temos acesso ao terreno. Estamos investigando a partir de entrevistas. Mas cada dia que passa chegam entre 100 e 200 novos casos para investigar, com acusações de crimes de guerra perpetrados por soldados russos”, disse Venediktova.
Ela também afirmou que as autoridades ucranianas identificaram 600 suspeitos de crime de agressão, incluindo “oficiais militares, políticos e agentes de propaganda da Federação da Rússia”, e quase 80 suspeitos de crimes de guerra em solo ucraniano.
“Neste momento, temos uma prioridade: conseguir provas. Muitos destes casos vão demorar anos ou décadas para serem investigados. Mas, para já, é importante recolher provas que esclareçam se há crimes de guerra que foram cometidos, para mais tarde serem analisadas”, acrescentou Venediktova.
A procuradora-geral da Ucrânia mostrou-se preocupada com a falta de meios financeiros para muitas destas investigações, mas ainda mais preocupada com a falta de recursos humanos, de especialistas, para ajudar nas investigações.
“Há milhares de casos a serem investigados. Estamos usando, essencialmente, dinheiro do orçamento da Ucrânia e alguns fundos que nos chegam da União Europeia ou dos Estados Unidos. Mas, sobretudo, precisamos de especialistas, particularmente da área de direitos humanos internacionais”, disse a procuradora.
O presidente da Eurojust esclareceu que a sua organização está recolhendo fundos para ajudar nas investigações independentes, para auxiliar os procuradores nomeados pelo Tribunal Penal Internacional.
“Temos conseguido ser ouvidos por Bruxelas e temos promessas de ajuda financeira para breve”, admitiu Ladislav Hamran, que viu as suas palavras serem corroboradas por Karim Khan. “A realidade é que a Ucrânia é, neste momento, um cenário de crime na Europa. E as instituições europeias não podem fechar os olhos”, afirmou Khan.
Condenações
Um tribunal ucraniano condenou na terça-feira (31/5) dois solados russos a 11 anos e meio de prisão por múltiplos ataques com mísseis realizados a duas aldeias da região nordeste de Kharkiv.
Alexander Bobykin e Alexander Ivanov foram considerados culpados de “violação das leis e costumes de guerra” por terem bombardeado bairros residenciais no primeiro dia da invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro.
O julgamento dos dois homens começou em meados de maio, perto da cidade de Poltava.
De acordo com a agência de notícias ucraniana Interfax-Ukraine, os dois réus admitiram “plenamente a sua culpa” e afirmaram que se arrependiam dos atos cometidos.
No início do mês, um tribunal de Kiev já havia condenado um soldado russo de 21 anos à prisão perpétua, no que foi o primeiro julgamento por crimes de guerra desde o início do ataque russo. Ele foi acusado de matar um civil ucraniano desarmado.
Já a Rússia alega que as acusações de crimes de guerra feitas pela Ucrânia são “uma fabricação”. “Posso garantir que não é nossa ideia matar civis”, afirmou o embaixador da Rússia no Reino Unido no último domingo.
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