Ucrânia cede e admite neutralidade; Rússia promete frear bombardeios
Negociadores se reuniram em Istambul, na Turquia. A quinta rodada de conversas foi a única, até então, a apresentar resultados práticos
atualizado
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O 34º dia de guerra ficará marcado pelo primeiro passo concreto de entendimento entre russos e ucranianos. O país liderado pelo presidente Volodymyr Zelensky cedeu e admitiu que pode adotar um status de neutralidade sobre o ingresso na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Já a nação comandada por Vladimir Putin se comprometeu a diminuir os bombardeios.
Nesta terça-feira (29/3), negociadores se reuniram em Istambul, na Turquia. A quinta rodada de conversas foi a única, até então, a apresentar resultados práticos para o conflito.
O ministro de Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, intermediou as negociações e comemorou o que chamou de “o maior progresso para um acordo de paz desde o início da guerra”. O conflito começou em 24 de fevereiro.
O negociador ucraniano, Mykhailo Podolyak, anunciou que a Ucrânia apresentou uma proposta para a Rússia de negociar politicamente o território da Crimeia, que foi invadido pelos russos em 2014. Ele condicionou as conversas a um cessar-fogo completo na região.
Com o status neutro, a Ucrânia não pode se unir a alianças militares como a Otan nem hospedar bases militares em seu território.
Representantes ucranianos indicaram que houve avanços também para um encontro entre os presidentes Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.
Menos ataques
O vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomin, garantiu que as tropas do país vão reduzir “radicalmente” os ataques em Kiev, capital ucraniana.
“No sentido de fortalecer a confiança mútua e criar condições necessárias para negociações futuras e alcançar o objetivo final de assinar um acordo, tomamos a decisão de reduzir radicalmente e por uma ampla margem as atividades militares nas direções de Kiev e Chernihiv”, destacou após a reunião.
A mudança já havia sido anunciada na última semana, quando a Rússia admitiu que focaria a atividade militar no Leste da Ucrânia, sobretudo na região separatista pró-Rússia de Donbass.
Crimes de guerra
Após a negociação de um cessar-fogo parcial entre Rússia e Ucrânia, a Anistia Internacional denunciou crimes de guerra e acusou as tropas do presidente Putin de criarem “armadilhas mortais” no conflito.
Nesta terça-feira, a entidade de defesa dos direitos humanos defendeu que a guerra na Ucrânia se assemelha à que ocorre na Síria — país que vive instabilidade política há mais de uma década.
A secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, afirmou que há ataques intencionais contra infraestruturas civis e residenciais e bombardeios de escolas. Ela acusou a Rússia de proporcionar corredores humanitários para transformá-los em “armadilhas mortais”.
Callamard comparou Mariupol, no leste da Ucrânia, com a cidade síria de Aleppo, devastada pelo combate do regime de Damasco, que é apoiado pela Rússia.
Armas nucleares
O governo russo voltou a cogitar o uso de armas nucleares na guerra contra a Ucrânia. Segundo o Kremlin, a medida seria uma autodefesa em caso de “ameaça à existência” do país.
Em entrevista ao canal de televisão PBSO, o porta-voz do governo Putin, Dmitri Peskov, admitiu a possibilidade, mas garantiu que a Rússia não tem planos para esse tipo de ação.
“Nós temos o conceito de segurança muito claro de que apenas quando existir uma ameaça à existência do nosso país, nós podemos usar, e de fato usaremos, armas nucleares para eliminar essa ameaça”, frisou.
Peskov então respondeu que “ninguém está pensando na ideia de usar uma arma nuclear”.