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Uber Files: empresa interferiu em leis de países europeus, diz jornal

Reportagem de consórcio encabeçado pelo jornal The Guardian reúne 124 mil arquivos que mostram como a Uber fez para conquistar mercados

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Felipe Menezes/Metrópoles
homem segura celular dentro de carro com aplicativo uber
1 de 1 homem segura celular dentro de carro com aplicativo uber - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Documentos confidenciais que vierem à tona neste domingo (10/9) revelam que a Uber teria interferido nas leis de países europeus com o intuito de garantir o acesso a esses mercados. Reportagem chamada de “Uber Files“, em um consórcio de veículos encabeçado pelo jornal britânico The Guardian, reúne 124 mil arquivos, de 2013 a 2017, que incluem mensagens, e-mails e apresentações de executivos da companhia. As informações são do Estadão.

De acordo com a Uber Files, a empresa teria feito lobby junto de pelo menos seis líderes mundiais para ganhar o mercado de app de transportes. Dentre estes líderes, estaria Joe Biden, então vice-presidente de Barack Obama, o então ministro da Economia da França Emmanuel Macron e o então primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu. Membros da Comissão Europeia também teriam sido procurados pela companhia.

Segundo a reportagem, a empresa norte-americana tinha como objetivo alterar as legislações locais para acomodar o Uber, que muitas vezes operava fora da lei devido ao modelo de negócio batizado de “economia criativa”, por onde demanda e oferta encontram-se em plataforma digital. A movimentação teria sido comandada pelo fundador e presidente executivo Travis Kalanick.

Em 2014, Kalanick encontrou-se pelo menos quatro vezes com Macron para iniciar a expansão europeia do Uber, começando pela França. Com o lançamento do UberPop no país, o então ministro teria prometido reformar a legislação da França para permitir a operação da companhia após a explosão de protestos de taxistas franceses contra o aplicativo americano.

“Vou reunir todo mundo na próxima semana e preparar uma reforma para corrigir a lei”, escreveu Macron em junho de 2015, segundo a BBC. Meses depois, o ministro assinou uma legislação regulamentando o cadastro de motoristas para a empresa norte-americana.

Além disso, os documentos vazados apontam como executivos do Uber debochavam de políticos e se consideravam “piratas” por operarem fora da lei: “Somos ilegais para caramba”, brincou um executivo, segundo o The Guardian.

Violência contra motoristas

Segundo a Uber Files, o Uber incentivou violência contra os próprios motoristas, que eram alvo de protestos de taxistas em diversos países, como França, Itália, Bélgica, Espanha e Holanda. Para alguns executivos, esses casos eram uma forma de forçar regulamentação e ajudar a popularizar o aplicativo: “Acredito que valha a pena”, escreveu Kalanick. “Violência garante sucesso. E esses caras (taxistas) devem ser confrontados, não?”.

No lançamento na Índia, Kalanick recomendou a executivos do país asiático que “abracem o caos. Significa que vocês estão fazendo algo útil”. “Saibam que isso faz parte do negócio do Uber”, afirmou o CEO em referência a eventuais protestos no país.

Ao The Guardian, um porta-voz de Kalanick disse que o empresário nunca sugeriu que a companhia tirasse vantagem da violência às custas dos motoristas.

Uber se posiciona

Em nota à reportagem do Guardian, o Uber afirma que “milhares” de livros, reportagens e “até série de televisão” foram feitos sobre a história da companhia até 2017. “Esses erros levaram ao mais infame acerto de contas da América corporativa. Isso levou a um enorme escrutínio público, processos, investigações de governos e a demissão de diversos executivos”, escreve a empresa americana.

“Não vamos e não iremos dar desculpas por comportamentos passados que claramente não estão de acordo com nossos valores atuais. Em vez disso, pedimos ao público que nos julgue pelo que fizemos nos últimos cinco anos e pelo que faremos nos próximos anos”, finaliza.

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