Trump se despede da Casa Branca nesta terça. Veja os desafios que esperam por Biden
Derrotado, o atual presidente deixa o cargo de maneira melancólica, mas ainda com influência sobre uma militância apaixonada
atualizado
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Esta terça-feira (19/1) é o último dia do 45º presidente dos Estados Unidos como morador da Casa Branca. Derrotado nas urnas e nos tribunais, Donald Trump deixa o cargo de forma melancólica e descortês, pois vai se negar a participar da cerimônia de transferência do cargo para o democrata Joe Biden.
De acordo com o instituto de pesquisas Gallup, um dos maiores dos Estados Unidos, Trump termina o mandato com 34% de aprovação, a mais baixa desde que os levantamentos começaram, nos anos 1940. Para comparar, o antecessor do republicano Trump, Barack Obama, democrata como Biden, deixou a Casa Branca apoiado por 59% dos americanos, apesar de não ter conseguido fazer seu sucessor.
A luta para melar na Justiça uma eleição perdida nas urnas por milhões de votos de diferença parece ter afetado a popularidade de Trump, que caiu 12 pontos percentuais desde antes da eleição de 3 de novembro. Mas há mais problemas.
Pandemia avança
O país tem 25 milhões de casos confirmados de coronavírus desde o início da pandemia, um quarto de todas as infecções no mundo, e se aproxima dos 400 mil mortos. Adotando uma postura de negação da gravidade da pandemia desde o início, Trump promoveu eventos de campanha com aglomerações e, após perder, protestos como aquele que acabou na invasão do Capitólio, em Washington D.C., no início do mês e na aprovação do impeachment do presidente pela Câmara por incitação à insurreição.
O coronavírus em curva de crescimento é um dos principais desafios que Trump deixará para o sucessor. Para enfrentá-lo, Biden anunciou planos de vacinar 100 milhões de pessoas em seus primeiros 100 dias de governo. Até agora, pouco mais de 10 milhões foram vacinados contra o coronavírus no país.
Essa vacinação é fundamental para que Biden possa lidar com outro problema que Trump vai deixar como “legado”: mais de 10 milhões de desempregados, número que dobrou ao longo da pandemia, chegando a cerca de 7% da força de trabalho.
Relações internacionais
No campo diplomático, Trump entrega a Biden uma potência que se isolou, abrindo mão de boa parte de sua influência nos fóruns globais de governança. Um reposicionamento americano no cenário internacional será fundamental para enfrentar o crescimento da China como potência dominante.
Para reverter o isolamento, Biden deverá, nos primeiros dias, levar os EUA de volta ao Acordo Climático de Paris e reatar as relações com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A relação norte-americana com o Brasil, por outro lado, tende a esfriar. Como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) segue valorizando sua relação com Trump mesmo após a confirmação da vitória de Biden, o Brasil não deve esperar dos americanos um olhar amigo em objetivos como a entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países ricos.
Porém, como “presente” para Biden, Trump anunciou na noite de segunda-feira (18/1) a suspensão da restrição de viagem para brasileiros e europeus neste mês. Mas o porta-voz do presidente Joe Biden já reagiu nas redes dizendo que a nova administração não tem a intenção de manter essa abertura.
A sobrevivência do trumpismo
Trump já despachou sua mudança para um resort que possui na tropical Flórida, o Mar-a-Lago. De lá, tem se mostrado disposto a liderar uma barulhenta oposição não apenas aos democratas, mas às empresas de tecnologia e aos “globalistas” em geral.
A derrota na eleição foi tão grande que os republicanos entregaram também a maioria no Senado aos democratas. Ainda assim, a polarização política que Trump estimulou enquanto esteve na presidência deve se manter e inclusive se aprofundar quando o Senado for votar o impeachment que pode tomar seus direitos políticos e impedir que ele tente concorrer de novo ao cargo.
Para analistas da imprensa norte-americana, o fantasma de Trump tem tudo para ser duradouro e permeado de elementos perigosos, como destacou artigo publicado na segunda (18/1) no jornal The New York Times.
Nessa despedida, no entanto, Trump sai mais desmoralizado pelas acusações do que empoderado pela militância, que ficou atordoada com os efeitos do que alguns analistas chamaram de tentativa de golpe de Estado.