Sondas espaciais são lançadas e devem desvendar segredos de Mercúrio
A missão BepiColombo viajará por 7 anos para estudar o planeta em condições infernais e entender suas características incomuns
atualizado
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Duas sondas espaciais foram lançadas, por volta das 22h45 dessa sexta-feira (19/10), da base de Kourou, na Guiana Francesa, tendo como destino Mercúrio, o “elo perdido” dos planetas rochosos. Uma é da Agência Espacial Europeia (ESA), e outra, da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa). Os dois equipamentos, a bordo do foguete-lançador europeu Ariane 5, vão voltar como “um cavaleiro branco”, com dados mais precisos do planeta, como explicou o astrônomo do Observatório de Paris Alain Doressoundiram.
Antes de alcançar o destino final, as sondas devem viajar durante 7 anos, percorrendo cerca de 9 bilhões de quilômetros. De acordo com os especialistas é fundamental definir a composição e a estrutura do local, para esclarecer a formação de planetas rochosos em conjunto (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) antes de entender a formação do nosso planeta. O grande mistério até agora é que o planeta a ser visitado agora é diferente dos seus similares e não se sabe por quê. As sondas carregam 16 instrumentos a bordo para fazer esta pesquisa.
Mercúrio é o menor planeta do Sistema Solar, com diâmetro de 4,=.879 quilômetros – a Terra, por exemplo, tem 12.756. Segundo o chefe do projeto da contribuição francesa à missão BepiColombo, Pierre Bousquet, o planeta é “estranhamente pequeno.”
Planeta incomum
Essa característica particular pode sugerir que Mercúrio sofreu o impacto de um grande objeto em sua juventude. O engenheiro destaca que há uma “enorme cratera visível em sua superfície que poderia ser a cicatriz desse cataclismo”. A missão da Bepicolombo é justamente esta. Os resultados da pesquisa podem explicar, entre outras coisas, o tamanho incomum do núcleo do planeta, que é enorme em comparação à Terra: 55% da massa total do planeta contra 30% no caso do planeta onde os seres humanos habitam.
Os cientistas também têm muitas teorias para explicar o campo magnético surpreendente do “elo perdido”. Com exceção da Terra, Mercúrio é o único planeta telúrico que tem um campo magnético, gerado por um núcleo líquido. Segundo o tamanho do núcleo dele, o planeta teria que ter esfriado com o passar do tempo e solidificado, como Marte. Há teorias que indicam a presença de um elemento no núcleo capaz de impedir o esfriamento do planeta, o que explicaria esta anomalia.
Câmeras infravermelhas vão analisar também a presença de gelo acumulado mesmo com as grandes variações de temperatura por lá, com extremos 430°C registrados durante o dia. À noite, os termômetros caem abruptamente, atingindo até -180°C. Segundo a ESA, a variação ocorreria na Terra com a mudança das estações.
Mesmo com o calor extremo, missões anteriores revelaram que existe gelo no fundo das crateras polares, evidenciando que pode ter se acumulado lá ao longo de bombardeios de cometas e “escapado” dos raios ultravioleta do sol. A confirmação da presença de gelo possibilitaria à missão ter amostras de água e traços que datariam o início do sistema solar.
Ventos solares
Planeta mais próximo do Sol, a 58 milhões de quilômetros (a Terra dista 149,6 milhões de quilômetros da estrela), Mercúrio recebe diretamente ventos solares 10 vezes mais fortes que na Terra, um fluxo constante de partículas ionizadas que se deslocam a mais de 500 quilômetros por segundo.
A intenção dos pesquisadores é estudar o impacto desses ventos sobre o campo magnético do planeta e também explicar como eles afetam a superfície a longo prazo. Os astrônomos temem que se registre no nosso planeta uma tempestade solar potente, capaz de afetar a rede elétrica durante meses ou até anos em algumas regiões.