Compartilhar notícia
Soldados israelenses provocaram uma nova controvérsia ao divulgarem fotos e vídeos on-line de de militares brincando com roupas íntimas femininas encontradas em casas palestinas. As imagens foram feitas na Faixa de Gaza, em casas destruídas pelo próprio Exército israelense, e onde a fome aumenta entre a população sitiada.
Em um dos vídeos, um soldado está sentado sorridente em um sofá com uma arma em uma das mãos e uma calcinha de cetim branca na outra, fingindo colocar a peça íntima na boca aberta de outro soldado aparentemente dormindo ao seu lado.
Em outras imagens, um soldado leva um manequim feminino de loja para cima de um tanque de guerra, o manequim está de sutiã preto e um capacete. “Encontrei uma bela esposa, um relacionamento sério em Gaza, uma mulher maravilhosa”, diz com deboche o soldado israelense na publicação. Uma foto mostra um soldado segurando o peito da manequim e sorrindo.
Há também vídeos em que eles expõem, sobre uma mesa, calcinhas, lingeries e objetos íntimos de mulheres palestinas encontrados nas residências abandonadas por conta da guerra. Em outras imagens, soldados israelenses brincam segurando um buquê de flores encontrado em uma das casas palestinas e fingem que estão se casando.
WARNING: GRAPHIC CONTENT
Israeli soldiers posted videos and photos of underwear from Palestinian homes, which some experts say demeans women https://t.co/SvBBCndH9w pic.twitter.com/miVJDpA1mR— Reuters (@Reuters) March 28, 2024
Há dezenas de fotos e vídeos filmados em Gaza como esses e alguns foram vistos mais de meio milhão de vezes, principalmente após serem compartilhados por Younis Tirawi, que se identifica como jornalista palestino.
Quando questionado pela agência de notícias Reuters sobre a origem das imagens divulgadas entre 23 de fevereiro e 1º de março, Younis Tirawi disse que as originais foram publicadas pelos próprios soldados israelenses. A agência conseguiu verificar a autenticidade de oito delas no Instagram e no YouTube.
Desrespeito pelas mulheres
“A publicação de tais imagens é humilhante para as mulheres palestinas e para as mulheres em geral”, disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.
O Exército israelense disse à Reuters que estava investigando todos os incidentes que se desviaram das “ordens e valores esperados” dos soldados de Israel.
“Nos casos em que há suspeitas de um delito criminal que justifique a abertura de uma investigação, um inquérito é aberto pela polícia militar”, explicou ela. No entanto, o Exército não disse se esse foi o caso em relação às fotos e vídeos relatados pela agência de notícias, ou se algum soldado foi punido.
Os soldados israelenses identificados até agora não responderam aos comentários enviados a eles nas redes sociais. O YouTube disse que havia removido um dos vídeos ofensivos, citando uma violação de suas regras internas sobre assédio. O Instagram, que também tem vídeos com os conteúdos, não comentou.
Crimes sexuais no conflito em Gaza
A campanha militar de Israel em Gaza foi lançada em resposta a um ataque do grupo islâmico palestino Hamas contra Israel em 7 de outubro, no qual morreram cerca de 1.200 pessoas e 253 foram sequestradas, de acordo com Israel.
As mensagens chegam em um momento em que tanto o Hamas quanto Israel foram acusados de graves crimes de guerra. Uma equipe de especialistas da ONU afirmou em um relatório deste mês que havia motivos plausíveis para acreditar que a violência sexual, incluindo estupros e estupros coletivos, ocorreu em vários locais durante o ataque do Hamas em 7 de outubro.
Os especialistas também afirmaram que havia informações convincentes de que alguns reféns israelenses levados para Gaza haviam sido submetidos à violência sexual. Além disso, Israel é acusado de empurrar Gaza para a fome.
A equipe de especialistas da ONU também indicou em seu relatório recente que havia recebido informações de fontes institucionais e da sociedade civil, além de entrevistas diretas na Cisjordânia, sobre a violência sexual cometida pelas forças de defesa israelenses contra palestinos. Ambas as partes rejeitam as acusações.
As postagens dos militares israelenses com peças íntimas e manequins não são de gravidade comparável aos supostos crimes contra mulheres relatados desde 7 de outubro. No entanto, dois especialistas jurídicos afirmaram que elas violam provavelmente a lei internacional.
Ardi Imseis, professor assistente de direito na Universidade Queen, no Canadá, disse que as mensagens violam o Artigo 27 da 4ª Convenção de Genebra, que rege o tratamento de civis em tempos de guerra.
O artigo 27 afirma que os civis têm direito ao respeito por sua honra, direitos familiares, modos e costumes, e que devem ser protegidos contra insultos e curiosidade pública, e que as mulheres devem ser particularmente protegidas contra qualquer ataque à sua honra.
Em Israel, as postagens dos militares atraíram pouca atenção, disse Oren Persico do Seventh Eye, um site que cobre a mídia israelense. Por outro lado, mensagens mostrando armas ou bandeiras do Hamas supostamente encontradas em casas em Gaza foram amplamente divulgadas.