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Os dirigentes chineses, entre eles o presidente Xi Jinping, abriram nessa segunda-feira (15/7) a chamada terceira plenária do Partido Comunista Chinês (PCC), uma bateria de reuniões cruciais para a economia do país. O evento teve início um pouco após a publicação pelo Escritório Nacional de Estatísticas de números considerados decepcionantes.
Acalmar as preocupações dos investidores estrangeiros é, no entanto, uma tarefa árdua depois que o balanço apontou para uma desaceleração do crescimento a 4,7% ao ano, o mais fraco desde o início de 2023. Na época, Pequim finalizou as restrições draconianas contra a Covid-19, que pesavam sobre o país.
As vendas no varejo, principal reflexo do consumo, também decepcionam, com um aumento de 2% em relação ao ano anterior em junho, a taxa mais baixa desde dezembro de 2022. Além disso, produção industrial freia, registrando +5,3% em junho em comparação com +5,6% um mês antes.
Os especialistas esperam sinais fortes que permitam garantir um crescimento durável, ao mesmo tempo em que o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, afirmou que prefere avançar cautelosamente. De fato, os dirigentes chineses veem o momento com prudência, já que os objetivos são contraditórios: resolver a dívida dos governos locais incitando o consumo, mas sem aumentar as ajudas sociais.
Fragmentação do mercado interno
Na pauta da terceira plenária, está ainda a unificação do mercado nacional, segmentado pelo protecionismo regional. Uma nova reforma do “hukou” – o célebre “passaporte interno” destinado aos trabalhadores do interior que migram às grandes cidades – pode seguir esse caminho, com o risco de criar fortes tensões sociais e de descontentar as classes médias urbanas. O mesmo pode ocorrer em caso de reforma do sistema previdenciário, já que o envelhecimento da população aumenta a pressão sobre as finanças públicas.
A maioria dessas questões já estavam presentes na plenária de 2013, logo após a eleição de Xi Jinping para a presidência do país. Na época, os dirigentes do Partido Comunista lançaram grandes reformas, principalmente para reduzir a intervenção do Estado na economia. Mais de dez anos depois, a prática continua sendo aplicada.
“Trata-se de uma reunião sobre política (…) e não sobre a resolução de problemas econômicos específicos”, pondera o economista Larry Hu, do banco Macquarie.
“É uma situação um pouco esquizofrênica”, explica Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe do escritório Ásia-Pacífico do grupo Natixis. “A China não importa quase nada, ela só exporta. Isso conduz a uma balança comercial excendentária. Esse modelo de crescimento não é sustentável, porque o resto do mundo começa a reagir”, observa.
De fato, os Estados Unidos e a União Europeia multiplicam as barreiras comerciais para proteger seus mercados dos produtos chineses e da concorrência considerada desleal. Ao mesmo tempo, Xi Jinping não parece pronto a anunciar medidas para estimular o consumo interno.
“A reação lógica seria que ele se dissesse: ‘nos fecham as portas no exterior, então vamos tomar decisões para que o consumo se torne um motor de crescimento”, diz Garcia-Herrero. “Mas o mais provável é que, na verdade, a China continue a encorajar a produção industrial de bens com forte valor agregado”, prevê.
Setor imobiliário
Outra questão chave da terceira plenária é o superendividamento do setor imobiliário, um tradicional pilar de crescimento na China. As medidas de apoio anunciadas por Pequim até o momento tiveram um efeito limitado.
Por isso, vários analistas insistem em medidas “enérgicas”, consideradas essenciais neste momento. É o que diz um comunicado divulgado nesta segunda-feira pelo banco Goldman Sachs.
A pressão é um quebra-cabeças aos dirigentes chineses. “Grandes mudanças políticas podem ser vistas como uma admissão do fracasso” das medidas atuais, alertam Sarah Tan e Harry Murphy Cruise, da Moody’s Analytics.
Apesar do mistério que paira sobre o início do encontro, a portas fechadas, sabe-se que ele deve definir as grandes metas econômicas da China para os próximos cinco anos. No entanto, há a certeza de que regime não planeja uma revolução: “as reformas não consistem em uma mudança de direção”, afirmou na semana passada o “Diário do Povo”, jornal oficial do PCC.
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