Secretário-geral da ONU visita fronteira de Gaza: “Coração partido”
Diversos representantes da ONU se manifestaram sobre a situação na Faixa de Gaza, nesta sexta-feira (20/10), durante discurso em Geneva
atualizado
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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, visitou nesta sexta-feira (20/10) a passagem de Rafah, que divide a fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito. “Impossível estar aqui e não ficar de coração partido”, afirmou à imprensa.
O secretário secretário-geral adjunto das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência, Martin Griffiths, adiantou que a ajuda humanitária não chegará à Faixa de Gaza antes deste sábado (21/10). “Uma primeira entrega deve começar amanhã [sábado] ou próximo disto”, pontuou.
“São dois milhões de pessoas que passam por dificuldades, sem comida, sem remédios. (…) Esses caminhões não são apenas caminhões, mas diferenciam a vida da morte, e precisamos passar a maior quantidade possível [deles]”, afirmou Guterres.
ONU fala da necessidade de 2 mil caminhões
O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan, afirmou que o necessário é, na verdade, em torno de 2 mil caminhões para fornecer a ajuda humanitária equivalente a proporção das necessidades dos palestinos. O Egito removeu, nesta manhã, os blocos de concreto que eram utilizados para cercear a fronteira com a Faixa de Gaza, de acordo com fontes da Agência AFP.
As falas dos secretários foram proferidas durante discurso nesta sexta-feira (20/10), em Geneva. Guterres, inclusive, está na região desde quinta-feira (19/10), por causa de uma reunião organizada pelo presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, para enfrentar a crise de violência decorrente do conflito entre Israel e o grupo Hamas, que se estende desde o sábado (7/10). Também participa da reunião o ministro das Relações Exteriores (MRE), Mauro Vieira.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não irá participar, nem mesmo por videoconferência, da reunião.
Ataque terrestre a Gaza
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou na quinta-feira que um ataque terrestre a Gaza virá em breve. O ministro da Economia de Israel, Nir Barkat, corroborou a informação ao dizer que o exército israelense tem “sinal verde” para invadir a Faixa de Gaza quando estiver pronto. “Quem vê Gaza de longe agora verá de dentro. Eu prometo. A ordem virá”, apontou Gallant.
Os mais de 2 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza, nesse contexto, seguem entregues a uma guerra sem horizonte de fim. O número de palestinos mortos subiu para 3.785 nesta quinta-feira (19/10), de acordo com informações do Ministério da Saúde de Gaza. Até a quarta-feira (18/10), a quantidade de pessoas que perderam a vida era de 3.540. Com os dados de falecidos em Israel, o total de mortos chega a 5,1 mil.
Juntos, o número de feridos passa de 17,7 mil, mais de 12 mil sendo palestinos, e durante a semana metade dos óbitos na Faixa de Gaza eram de mulheres e crianças. A Agência da ONU ainda afirmou que ao menos 340 mil habitantes estão desabrigados na região em detrimento do conflito entre Israel e Hamas, e 2,4 milhões estão na situação de “deslocados”.
As autoridades de Israel ainda não divulgaram um número atualizado, com o último recorte oficial sendo de 1,4 mil mortes até agora. Dessas, 306 são de soldados.
O número de pessoas feitas reféns pelo Hamas aumentou, tendo passado para 203.
Diplomacia
De acordo com o primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, a decisão de permitir ajuda limitada a partir do Egito foi tomada após um pedido formal do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em visita a Israel.
No entanto, o governo tenta, desde semana passada, dialogar o cessar-fogo para conseguir repatriar os brasileiros “ilhados” na Faixa de Gaza. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou, entre sexta-feira (13/10) e sábado (14/10), negociar diretamente com os presidentes de Israel, Isaac Herzog, do Egito, Abdul Fatah al-Sisi, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
No domingo (15/10), os esforços pareciam ter tido resultado. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, havia afirmado que ficou acordado que a passagem de Rafah será reaberta, após reunião com o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, no Cairo. Contudo, isso não se concretizou na previsão estipulada, da última segunda-feira (16/10).
Após dias de negociação e consternação de diversos chefes globais, o Conselho de Segurança da ONU votou a minuta brasileira de resolução que poderia frear o conflito entre Israel e Hamas. O texto, no entanto, não passou – foi vetado pelos Estados Unidos (EUA), na última quarta-feira (17/10). Agora, uma perspectiva pacífica está mais distante no horizonte.
O governo federal já repatriou mais de 1,1 mil pessoas, tendo encerrado a primeira fase da maior operação já realizada pelo país em uma zona de conflito. Ao todo, já saíram de Israel para o Brasil em voos da Força Aérea Brasileira (FAB) 1.135 cidadãos brasileiros. O resgate, batizado Operação Voltando em Paz, começou logo após a declaração de guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas. Faltam, agora, os brasileiros que estão na Faixa de Gaza – impedidos de chegar à passagem de Rafah devido ao conflito.