Teste em macacas sugere que zika fica mais tempo no corpo de grávidas
Experimento também revelou que a infecção torna o paciente imune a novos contágios pelo vírus. Estudo foi publicado nesta terça-feira (28/6) na revista científica Nature Communications
atualizado
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Depois de inocular o vírus da zika em macacas grávidas, um grupo internacional de cientistas revelou que a infecção torna o paciente imune a novos contágios por zika e que a gravidez prolonga drasticamente o tempo de permanência do vírus no corpo do paciente.
O estudo, liderado pelo virologista americano David O’Connor, da Universidade de Wisconsin, em Madison (Estados Unidos), foi publicado nesta terça-feira (28/6) na revista científica Nature Communications.
Em fevereiro, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou com exclusividade que a equipe de O’Connor havia conseguido pela primeira vez infectar macacos com o vírus da zika e planejava infectar macacas grávidas, a fim de compreender os casos em que a infecção pode causar microcefalia.O novo experimento é o primeiro a ter realizado um modelo para o estudo sobre zika em primatas não-humanos. Segundo os autores, agora que o modelo está disponível, os estudos sobre o vírus poderão avançar mais rápido, abrindo caminho para a descobertas de terapias e vacinas.
A equipe que participou do estudo, que também incluiu cientistas da Universidade Duke (Estados Unidos), é formada por especialistas em doenças emergentes transmitidas por insetos, genética, imunologia, pediatria e obstetrícia.
“O que mostramos com o modelo para o estudo em macacos é bastante coerente com o que foi observado em pessoas em estudos epidemiológicos”, disse a pediatra Emma Mohr, da Universidade de Wisconsin, outra das autoras do estudo.
“É importante para nós demonstrar em um laboratório o que as pessoas têm observado em humanos – que a viremia (infecção pelo vírus da zika) cessa dentro de cerca de uma semana e que, depois disso, o paciente está protegido de futuras infecções pelo mesmo vírus”, disse Emma.
Os cientistas infectaram macacos com a linhagem do vírus da zika que está causando a epidemia no Brasil e que foi revelada na América do Sul em 2015. Eles constataram que, 10 semanas depois, os mesmos macacos já resistiam à mesma linhagem do vírus.
“Essa é uma excelente notícia para o desenvolvimento de uma vacina. Esse resultado sugere que o tipo de imunidade que ocorre naturalmente é suficiente (para deter o vírus). Se formos capazes de mimetizar esse processo em uma vacina, provavelmente teremos uma vacina muito bem sucedida”, disse O’Connor.
O estudo também mostrou um claro contraste na duração da infecção em macacas grávidas, em comparação aos macacos machos e às macacas que não estavam grávidas. Embora os animais não gestantes tenham ficado livres do vírus 10 dias após a infecção, o vírus persistiu no sangue das macacas grávidas por períodos de 30 a 70 dias.
A infecção prolongada tem implicações para os impactos severos do vírus zika durante a gravidez. Cientistas já haviam comprovado que a zika está ligada à ocorrência de problemas neurológicos em bebês, como a microcefalia.
“Temos boas notícias para a maior parte das pessoas: se você não está grávida e não tem risco de ficar grávida, você nem precisa se preocupar com a zika. Por outro lado, minha preocupação com o vírus da zika na gravidez é muito maior agora que há seis meses”, disse O’Connor.
Hipóteses
Uma possível explicação para a persistência do vírus na gravidez é que o sistema imunológico das mães esteja comprometido demais para eliminar o vírus com a rapidez suficiente. “A outra hipótese é que essa persistência seja um indicativo da infecção no feto e aquilo que observamos na corrente sanguínea da mãe seja a presença do vírus no feto, voltando para o organismo da mãe por meio da corrente sanguínea”, disse O’Connor.
Segundo ele, se a segunda hipótese estiver certa, é provável que os fetos tenham uma infecção prolongada, que permanece muito mais tempo do que a infecção da mãe. Caso se confirme esse processo – proposto pela primeira vez pela obstetra Rita Driggers, da Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos) -, ele poderia oferecer uma oportunidade para avaliar os riscos para um feto em desenvolvimento sem recorrer a testes invasivos.
“Se for esse o caso, poderemos medir semanalmente a carga viral presente em uma mulher grávida infectada com o zika. Isso nos forneceria uma indicação de qual é o grau provável de danos ao feto. Se uma mulher grávida for a uma clínica com zika e uma semana depois não apresentar mais sinais da infecção, isso poderia ser uma boa indicação de que o feto provavelmente não será afetado”, explicou O’Connor.
Utilizar a quantidade de vírus no sangue de macacas ou mulheres grávidas como um indicador para a infecção do feto também poderá fornecer aos cientistas que pesquisam tratamentos para proteger os bebês de danos neurológicos um método para avaliar seus progressos.
Os autores do estudo, no entanto, alertam que ninguém ainda compreende realmente a gama de problemas que a infecção por zika durante a gravidez pode causar aos bebês. “No Brasil, as crianças mais velhas nascidas de mães com zika durante a gravidez têm apenas um ano de idade, aproximadamente. Nós não temos nenhuma ideia se algumas das crianças que são aparentemente normais terão algum problema que só se manifestará em outras fases da vida”, disse O’Connor.