Pessoas com hepatite C têm mais chances de desenvolver diabetes
Pesquisa iniciada nos Estados Unidos há mais de uma década aponta que quanto maior a resistência à insulina, maior o grau de lesão no fígado
atualizado
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As doenças sistêmicas, em vez de afetar um único órgão, desencadeiam reações no organismo que podem agravar ou originar outros problemas. É o caso da hepatite C, infecção causada por um vírus que afeta, principalmente, o fígado. No entanto, com base em estudos realizados a partir dos anos 2000 nos Estados Unidos, especialistas alertam para a relação dessa doença viral com o desenvolvimento da diabetes tipo 2.
“O vírus da hepatite C é capaz de interferir na efetivação da insulina (substância que controle o açúcar no sangue), bloqueando parte da ação dela”, explica o professor de hepatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Edson Parise.
Um dos estudos feitos nos EUA mostrou que pessoas já diagnosticadas com hepatite C tinham quatro vezes mais chances de ter diabetes tipo 2 do que aquelas que nunca tiveram contato com o vírus. A incidência era maior, principalmente, em pacientes na faixa dos 40 aos 65 anos de idade.
A relação entre as duas doenças ganhou mais força anos depois quando pesquisadores eliminaram o vírus da hepatite C do organismo. O resultado foi a melhora da resistência à insulina, que desapareceu gradativamente. Porém, quando o vírus voltava, o nível de resistência também subia.
Os estudos revelaram também que quanto maior a resistência à insulina, maior era o grau de lesão no fígado. As alterações provocadas no processamento do açúcar no organismo resultam em acúmulo de gordura nesse órgão, o que pode complicar ainda mais o quadro hepático, chegando à cirrose e ao câncer.
Caminho inverso
O professor da Unifesp diz que, em média, a prevalência de hepatite C em pessoas que já têm diabetes é de 3,5%. “É importante que o paciente diabético saiba se tem o vírus da hepatite C, pois o tratamento controla a diabetes e previne complicações que a doença pode causar, como problemas renais e cardiovasculares”, alerta Parise.
Diagnóstico e tratamento. A boa notícia é que a hepatite C tem uma alta taxa de cura: 95% dos casos mundiais em um período de três a seis meses de tratamento. O problema é que a doença é silenciosa. No Brasil, ela atinge 2 milhões de pessoas, das quais 70% não sabem que a possuem e apenas 10% foram tratadas.
Segundo o hepatologista Fábio Marinho, diretor da Sociedade Brasileira de Hepatologia, a maioria das hepatites não apresentam sintomas, o que dificulta o diagnóstico precoce.
“Às vezes, os únicos sintomas são cansaço e fraqueza, mas são coisas comuns. Então, o paciente chega ao consultório já na fase de cirrose ou câncer de fígado”, diz. Esse quadro mais grave se desenvolve ao longo de 20 a 30 anos a partir da infecção pelo vírus.
O especialista alerta que pacientes com cirrose hepática têm 4% de chance ao ano de desenvolver câncer de fígado. Mesmo nesse estágio avançado, há solução.”É possível tratar em qualquer fase da doença, antes ou depois de se fazer transplante. Pessoas com cirrose tem até 90% de chance de cura”, diz o professor Edson Parise. Mas antes que o a doença se agrave, os especialistas orientam a população a realizar o teste anti-HCV, que determina a presença ou não do vírus da hepatite C.
Campanha
Em 28 de julho é comemorado o Dia Mundial de Combate às Hepatites. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 325 milhões de pessoas viviam com a doença crônica em 2015 (70 milhões só com hepatite C), o que provocou a morte de mais de 1,3 milhão. A meta é que a hepatite C seja erradicada até 2030.
Segundo o endocrinologista Luiz Turatti, presidente da SBD, o teste anti-HCV é rápido, feito com algumas gotas de sangue e está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Embora seja necessário um pedido médico para realizá-lo, é possível solicitar o teste em Centros de Testagem e Aconselhamento.