Saiba tudo sobre a onda de violência extremista na Inglaterra
Manifestações anti-imigração promovidas pela extrema-direita se espalharam pela Inglaterra. Entenda como e onde começou conflito
atualizado
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Até o momento, mais de 400 pessoas foram presas no Reino Unido após uma onda de manifestações anti-imigração promovidas pela extrema-direita se espalhar por várias cidades da Inglaterra e chegar até Belfast, na Irlanda do Norte. Marcadas pelo uso de violência, desordem e vandalismo, os atos foram desencadeados pelo assassinatos de três meninas, entre 9 e 6 anos, em Southport, no noroeste da Inglaterra, na última segunda-feira (29/7).
O que desencadeou a onda de violência?
Na manhã da última segunda-feira (29/7), Bebe King, de 6 anos, Elsie Dot Stancombe, de 7, e Alice da Silva Aguiar, de 9 anos, foram mortas durante um ataque com esfaqueamentos múltiplos, em uma aula de dança inspirada na artista Taylor Swift.
O atentado aconteceu em Merseyside, localizado na cidade de Southport, na Inglaterra. Outras oito crianças sofreram ferimentos. Cinco delas ainda estão em estado crítico. Dois adultos também ficaram gravemente feridos.
No mesmo dia, a polícia local prendeu Axel Rudakubana, de 17 anos, principal suspeito de cometer o atentado. O adolescente, que nasceu em Cardif, País de Gales, enfrenta três acusações de assassinato e 10 acusações de tentativa de homicídio. Até o momento não se sabe a motivação do crime.
Antes que a identidade de Axel fosse confirmada e divulgada pelas autoridades, rumores falsos de que o suspeito tinha origens mulçumanas e que havia pedido asilo no Reino Unido passaram a circular pelas redes sociais. Facções e indivíduos de extrema-direita, dentre eles neonazistas, hooligans e ativistas anti-muçulmanos passaram a promover e participar de manifestações anti-imigrantes por toda a Inglaterra.
As manifestações
- Como começaram?
As primeiras manifestações do tipo foram registradas na terça-feira (30/7), em Southport, apenas 36 horas depois do atentado que matou três meninas. Centenas de manifestantes invadiram uma vigília que era feita em homenagem às vítimas.
Na ocasião, mais de 50 policiais ficaram feridos após confronto com os protestantes, que incendiaram uma viatura, danificaram diversos veículos e depredaram a mesquita local com pedras e tijolos enquanto gritavam mensagens islamofóbicas.
“Esses manifestantes sequestraram a vigília pelas vítimas com violência e banditismo, e insultaram a comunidade em luto”, disse o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, sobre o ato.
- Onde estão ocorrendo?
No dia seguinte, quarta-feira (31/7), os atos anti-imigrantes se espalharam para outras regiões de Londres, além das cidades de Manchester, Hartlepool e Aldershot.
Durante o fim de semana, o tumulto se expandiu para mais cidades. No sábado (3/8), manifestantes estiveram presentes em Liverpool, Blackpool, Hull, Stoke-on-Trent, Leeds, Nottingham e Bristol, e também em Belfast, na Irlanda do Norte.
No domingo (4/7), extremistas tentaram incediar um hotel que acolhe imigrantes exilados, na cidade de Rotherham, em South Yorkshire. Mais tarde, no mesmo dia, outro hotel que recebe requerentes de asilo político, em Tamworth, foi atacado. Os extremistas chegaram a atirar contra os policiais.
Na cidade de Middlesbrough, no nordeste, manifestantes quebraram janelas de casas e carros, e atiraram objetos contra policiais.
- Quantas pessoas foram presas?
De acordo com o Conselho Nacional de Chefes de Polícia do Reino Unido, 378 pessoas foram presas apenas na semana passada.
Na manhã da segunda-feira (5/8), a secretária de Estado para Assuntos Internos do Reino Unido, Yvette Cooper, afirmou em entrevista que manifestantes extremistas “terão uma visita da polícia”. “Devemos deixar claro que haverá pessoas que pensaram que iriam tirar férias de verão esta semana e, em vez disso, enfrentarão uma visita da polícia”, disse Cooper à Sky News, canal de televisão britânico.
Ao Times, a secretária informou que os policiais ainda estavam revisando as filmagens para identificar “aqueles que estavam atirando contra policiais, ateando fogo, saqueando lojas e atacando motoristas e transeuntes inocentes”.
Também em entrevista à Sky News, o secretário do Interior do Gabinete Sombra, James Cleverly, demosntrou preocupação com o teor das manifestações. “Essas são as ações de pessoas que estão claramente respondendo à desinformação on-line, mas são obviamente motivadas pelo racismo. Vimos pessoas com tatuagens de suástica e fazendo a saudação nazista, atacando pessoas que não tinham nenhuma ligação com o terrível caso que vimos em Southport na semana passada”, afirmou.
- Quais grupos estão por trás?
David Miles, membro de destaque do Patriotic Alternative, um grupo fascista, compartilhou fotos de si mesmo durante os atos em Southport. O grupo neonazista British Movement também espalhou informações sobre o protesto nas redes sociais. A participação desses grupos foram constadas pelo grupo Hope Not Hate, apartir da análise de imagens dos protestos.
Segundo a polícia, também estiveram presentes nos atos apoiadores da English Defence League, movimento de extrema-direita conhecido por protestos violentos e uma postura anti-islã e anti-imigração, e pessoas ligadas à violência no futebol, ou hooliganismo.
O que diz o governo do Reino Unido?
Na manhã da segunda-feira (5/8), ocorreu uma reunião de emergência com chefes de polícia e ministros para debater a melhor maneira de conter a violência que eclodiu no país.
Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, declarou à imprensa que, como parte de uma “série de acções” resultantes da reunião, o governo iria “intensificar a justiça penal”, afim de garantir que “as sanções penais” fossem “rápidas”. O premiêr ainda afirmou que um “exército reserva”, composto por polícias especialmente treinados, estava pronto para ser acioanado, como suporte às forças locais “de onde quer que aconteçam novos distúrbios”.
Keir Starmer já havia alertado que qualquer um que “incitasse a violência on-line enfrentaria toda a força da lei”.
O porta-voz do primeiro-ministro também se posiciou sobre rumores falsos divulgados na internet. Para ele, não havia “justificativa” para comentários feitos por Elon Musk, bilionário dono da X, que disse que “a guerra civil é inevitável” após os tumultos.