Saiba quem foi o papa Bento XVI, morto neste sábado, aos 95 anos
Papa emérito Bento XVI foi o primeiro a renunciar o cargo na era moderna. Joseph Ratzinger estava internado no convento no Vaticano
atualizado
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O papa emérito Bento XVI, morto neste sábado (31/12), aos 95 anos, foi o 265º pontífice da Igreja Católica. Teólogo com perfil conservador, o pontífice foi defensor das doutrinas mais ortodoxas da Igreja Católica, e teve um pontificado marcado por protestos e escândalos, com denúncias de pedofilia dentro da Igreja.
O papa emérito, que renunciou em 2013 após sete anos na função, morreu às 9h34 deste sábado (31/12, horário da Itália), no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. A causa da morte ainda não foi confirmada. Ratzinger fez história como o primeiro papa da era moderna a deixar o cargo.
Nascido Joseph Aloisius Ratzinger, o religioso foi eleito em 2005 para suceder João Paulo II, e renunciou ao cargo em 2013. Desde então, mora no Mosteiro Mater Ecclesiae, dentro dos jardins do Vaticano, com o secretário dele, o arcebispo Georg Ganswein, auxiliares e uma equipe médica.
Origem humilde
Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927, em uma pequena vila chamada Marktl am Inn, na Baviera, região ao sul da Alemanha. Ele cresceu no período em que o regime nazista cresceu na região, e passou boa parte da juventude na Áustria, onde iniciou a trajetória religiosa.
Durante a adolescência, chegou a participar da Juventude de Hitler, o que gerou polêmica após sua eleição – a participação no movimento era obrigatória e o Vaticano justifica que, assim que pôde, o jovem Ratzinger optou pelo seminário.
Foi ordenado padre em 1951 e bispo em 1977. No mesmo ano, o Papa Paulo VI o nomeou cardeal. Chegou a ser arcebispo de Munique, na Alemanha, e de 1981 a 2005 ocupou o cargo de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, tornando-se braço direito do Papa João Paulo II, no comando das questões morais.
Conclave
A proximidade com o papa o tornou um dos favoritos no conclave que o elegeu. Na tarde de 19 de abril de 2005, Ratzinger foi escolhido como papa para suceder o futuro santo João Paulo II, que exerceu a função por 26 anos, 5 meses e 17 dias.
Após de dois dias e quatro rodadas, às 17h56 (horário local), a chaminé da Capela Sistina exalou a fumaça branca: havia sido escolhido o 265º sucessor de São Pedro. Então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger pediu para ser chamado de Bento XVI.
Ele justificou a escolha porque queria se inspirar na coragem de Bento XV (1914-1922) durante a 1ª Guerra Mundial. E também em São Bento de Núrsia, copadroeiro da Europa, chamado de Patriarca do monarquismo ocidental.
Bento XVI só veio uma vez ao Brasil. Aconteceu em 2007. O ponto alto foi a canonização de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, o primeiro santo brasileiro, no dia 11 de maio daquele. Do ponto de vista apostólico, porém, a principal razão veio a ser o início da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida, no interior de São Paulo.
Polêmicas
Enquanto líder máximo da Igreja Católica, o pontífice de postura conservadora recebeu críticas por posicionamentos como a rejeição a alterações nas doutrinas morais religiosas — que guiam entendimentos repassados aos fiéis —, à união de pessoas do mesmo sexo e à liberação de padres do celibato.
Outro ponto de destaque do papado de Bento XVI teve relação com denúncias de casos de pedofilia na igreja, que começaram aparecer entre 2009 e 2010. As acusações mencionavam, inclusive, supostos acobertamentos por parte de líderes religiosos das dioceses e do Vaticano.
O papa assumiu a responsabilidade sobre as denúncias, encontrou vítimas e emitiu pedidos de desculpas. Também adotou normas para dar mais transparência e celeridade às apurações dos casos. As acusações se tornaram mais uma mácula do período em que Bento XVI ficou na função.
Conservador, Bento XVI teve trajetória religiosa marcada por polêmicas
Renúncia
O papa Bento XVI anunciou sua renúncia em 11 de fevereiro de 2013, e deixou o cargo em 28 de fevereiro de 2013. Segundo o próprio papa, foi uma “escolha difícil”, mas feita “em plena consciência”. Diversas vezes ele falou que não se arrependia. E sempre deixou claro que renunciava por causa da velhice.
“Alguns de meus amigos um tanto ‘fanáticos’ ainda estão irritados, eles não quiseram aceitar minha escolha. Acreditam nas teorias de conspiração: alguns disseram que foi por causa do escândalo Vatileaks, outros por causa de um complô da lobby gay, outros ainda por causa do caso do teólogo conservador Lefebvrian Richard Williamson. Eles não querem acreditar em uma escolha feita conscientemente. Mas minha consciência está limpa”, explicou Bento XV, em uma entrevista reveladora ao jornal Corriere della Sera.