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Saiba quem é Emmanuel Macron, o presidente impopular da França

Emmanuel Macron triunfou nas eleições de 2017 e queria modernizar a França, mas vieram protestos dos “coletes amarelos”, pandemia e guerra

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Emannuel Macron
1 de 1 Emannuel Macron - Foto: Rita Franca/NurPhoto via Getty Images

Na época com quase 40 anos de idade, Emmanuel Macron fez um discurso otimista em 7 de maio de 2017 na esplanada do Museu do Louvre, em Paris, para comemorar a sensacional vitória eleitoral no segundo turno com seus apoiadores.

Um sopro de um novo começo pairava sobre o local. Ali estava um jovem reformador, intocado por um longo trânsito em instituições políticas, que queria modernizar a França por sua conta e trazê-la para o século 21.

E agora ele está lutando pela sua reeleição. Não apenas por mais cinco anos no poder, como ele enfatizou durante uma aparição em Marselha, mas por mais um recomeço, um novo contrato com o eleitorado francês. E isso é mais difícil do que se pensava.

A jovem esperança da Europa

Depois de seu antecessor, o muitas vezes desajeitado François Hollande, Macron entrou no palco como uma luz brilhante. Elegante, eloquente e com um grande senso de missão, ele se tornou a jovem esperança entre os chefes de governo europeus.

No entanto, seu perfil e ascensão eram tipicamente franceses. Como filho de uma respeitada família de médicos do norte do país, depois de estudar na Sorbonne, em Paris, ele deu um salto para a famosa instituição de elite Escola Nacional de Administração (ENA), onde líderes políticos e empresariais são formados há décadas.

Ele trabalhou nos seus primeiros anos na administração financeira, assumiu um emprego temporário como banqueiro de investimentos em 2008 para ganhar dinheiro e, depois, voltou para a administração pública.

A ascensão ao poder começou sob o socialista François Hollande, que nomeou Macron ministro da Economia em 2014. Apenas um ano depois, porém, ele deixou os socialistas para fundar seu próprio partido e renunciou ao cargo de ministro.

Na raiz do sucesso de Emmanuel Macron estava simultaneamente um regicídio clássico – ou seja, a traição de seu mentor político Hollande – e uma coincidência política – a acusação de uso indevido de recursos públicos pelo candidato presidencial conservador François Fillon, que destruiu suas chances eleitorais. Macron reconheceu o momento de sorte e aproveitou sua chance.

O que tornou o jovem ainda mais extraordinário foi seu casamento com sua ex-professora Brigitte, a quem está ligado desde sua juventude. Ela, que é 25 anos mais velha que o presidente, é considerada a conselheira silenciosa e a estrela-guia pessoal de Macron.

No entanto, nunca antes o caso de amor e casamento de um casal presidencial deu origem a tantas especulações e fofocas. Alguns observadores acreditam que a constelação incomum contribuiu para que a aura de Macron fosse diferente.

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Ex-presidente Lula foi recebido pelo presidente da França, Emmanuel Macron, com honras de chefe de Estado, em 2021
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Macron e Le Pen se enfrentam no segundo turno

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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen

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Ex-presidente Lula foi recebido pelo presidente da França, Emmanuel Macron, com honras de chefe de Estado, em 2021

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O homem do vazio político

Quando Macron assumiu o cargo de presidente, os destroços dos partidos tradicionais franceses estavam a seus pés. Os socialistas se autodestruíram em lutas internas após o fim inglório de Hollande, e os conservadores se desintegraram em uma ala de extrema direita e outra moderada, da qual Macron recrutou muitos de seus ministros e funcionários.

Ele ocupou o centro do espectro político, mas não definiu uma nova direção ideológica. Dependendo do clima no país, o presidente virava mais para a direita ou mais para a esquerda e, às vezes, dava a impressão de falta de direção.

No entanto, o jovem mandatário teve visões. Em seu famoso discurso na Sorbonne, ele não só mostrou seu talento retórico significativo, mas também sua visão extraordinária. Macron exigiu na época que a Europa se tornasse autônoma economicamente, politicamente e militarmente.

Em Berlim, a mensagem caiu em ouvidos moucos. Em Bruxelas, no entanto, essa se tornou a opinião predominante, pelo menos desde o início da guerra na Ucrânia.

O gerente de crises

Na política francesa, o vento rapidamente se voltou contra Macron. Os protestos dos “coletes amarelos” puseram fim aos seus planos no inverno europeu de 2018. As manifestações foram desencadeadas por causa de uma taxa ambiental sobre o diesel, mas rapidamente se transformaram em uma ampla luta contra o presidente.

Macron queria modernizar a engessada administração da França, tornar o país mais favorável aos negócios, reformar o caro sistema de pensões, etc. Mas, de acordo com o costume francês, muitas dessas preocupações foram esquecidas.

Logo que a paz social foi restaurada, chegou o coronavírus. Macron teve que provar ser um gerente de crises, o que não deu certo no começo, mas depois obteve bastante sucesso. A taxa de vacinação na França é alta, os hospitais não ficaram sobrecarregados e as consequências econômicas da pandemia foram absorvidas por meio de programas de ajuda do governo. A recuperação econômica na França se mostrou melhor do que a de seus vizinhos.

A alegria, porém, durou pouco. A guerra na Ucrânia trouxe incerteza política e aumentos de preços. Enquanto isso, a maioria dos eleitores franceses é movida pelo medo da explosão do custo de vida. A imigração e o papel do islã na sociedade – questões explosivas e polarizadoras dos últimos anos – ficaram em segundo plano.

Um presidente que é até mesmo odiado

Apesar de todo o desprezo e zombaria contra outros presidentes como François Hollande ou Nicolas Sarkozy, nenhum líder francês foi perseguido por um ódio tão grande como Emmanuel Macron: seu apelido é Júpiter, ele é considerado arrogante e distante, aquele que governa de cima.

No entanto, ele não desmantelou o Estado social nem transformou a França até o ponto de o país ficar irreconhecível. Parece ser uma espécie de um ódio extrapessoal que provavelmente não coloca em questão sua reeleição, mas torna a luta mais difícil do que se pensava inicialmente.

A razão não é a política de Macron, afirmou o historiador Pierre Rosanvallon na emissora de rádio France Inter, mas tem a ver com sua pessoa e seu caráter. “Ele representa algo que causa profunda rejeição. Uma imagem de distância e desprezo está ligada a ele.”

Além disso, é a falta de vivência política e o fato de que ele não cresceu, como outros presidentes, numa região onde conhece o povo e seu cotidiano. Macron simplesmente não tem reputação política. Ele é visto como um tecnocrata frio que não participou de feiras agrícolas e bailes de bombeiros o suficiente.

Em contraste, o grande sucesso dos extremistas e populistas de direita mostra um país amplamente dividido e um sedimento de nacionalismo reacionário, xenofobia e tendências antidemocráticas. Por essa razão, e tendo em vista a situação política global, esse fato poderia ser um lembrete para Emmanuel Macron quando se trata de seu segundo mandato: cuidado com o que você deseja.

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