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Retorno de Navalny, opositor de Putin, agita cenário político russo

Em uma publicação no X (antigo Twitter), ele falou, de modo sarcástico, acerca da transferência à colônia prisional “Lobo Polar”, no Ártico

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1 de 1 Imagem colorida mostra Alexei Navalny, principal opositor do presidente russo Vladimir Putin - Metrópoles - Foto: Getty Images/Anadolu/Colaborador

A cerca de dois meses para a eleição presidencial russa, o líder da oposição ao atual presidente Vladimir Putin, Alexei Navalny, ressurgiu após desaparecer por 20 dias. Nessa terça-feira (25/12), em uma publicação no X (antigo Twitter), ele falou, de modo sarcástico, acerca da transferência à colônia prisional “Lobo Polar” (Polar Wolf), no Ártico.

Na publicação, Navalny brincou com a atual situação dele. “Eu sou o seu novo Papai Noel”. Apesar do tom jocoso, o adversário de Putin descreveu que o contexto não está nada favorável. “Eu não digo ‘Ho-ho-ho’, mas digo ‘Oh-oh-oh’ quando olho pela janela, onde posso ver uma noite, depois a noite e depois a noite de novo”, publicou.

A região de Yamalo-Nenets, a cerca de 1.900 km a nordeste de Moscou, é conhecida por ter invernos longos e intensos. Também é lembrada por ser local para onde governo enviava condenados aos Gulags — campos de trabalho forçado nos quais ficavam opositores do regime soviético — e cujas minas de carvão eram classificadas como algumas das mais duras de todo o sistema de Gulags soviéticos.

O prisioneiro contou ter sido transferido no último sábado (23/12), numa viagem que durou 20 dias, e que não esperava que o mundo tivesse notícias dele tão cedo. “Fui transportado com tanta precaução e por uma rota tão estranha (cidades de Vladimir, Moscou, Chelyabinsk, Ekaterinburg, Kirov, Vorkuta e Kharp) que não esperava que alguém me encontrasse aqui antes de meados de janeiro”, escreveu.

Por fim, o ativista brincou mais uma vez com os seguidores dele numa última mensagem de Natal. “Como sou o Papai Noel, você provavelmente está se perguntando sobre os presentes. Mas eu sou um Papai Noel de regime especial, então só quem se comportou muito mal ganha presentes”, zombou.

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Adversário de Putin, Alexei Navalny está desaparecido desde a semana passada, dizem aliados

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Mas o que ele fez mesmo?

Em agosto deste ano, a Justiça russa condenou Navalny a 19 anos de prisão por extremismo. Segundo a acusação ele teria criado uma comunidade extremista, financiado atividades de mesmo cunho. O opositor de Putin já cumpre penas por outros delitos, as quais totalizam quase 11 anos. No entanto, ele afirma que as imputações são forjadas.

O julgamento terminou em junho deste ano, mas a sentença só saiu dois meses depois. A audiência que determinou a pena ocorreu a portas fechadas na colônia penal IK-6 em Melekhovo a aproximadamente cerca de 250km a leste de Moscou, onde o ativista estava detido anteriormente.

Durante a sessão, o ativista repudiou a condenação, a qual classificou como uma prisão perpétua. Ele também enviou mensagem a outros opositores e os incentivou a ir contra o governo. “Você está sendo forçado a entregar sua Rússia sem lutar a uma gangue de traidores, ladrões e canalhas que tomaram o poder. Putin não deveria atingir o seu objetivo. Não perca a vontade de resistir”, declarou.

Além de Navalny, o diretor de tecnologia do canal dele no Youtube, Daniel Kholodny, recebeu uma condenação de 8 anos por extremismo. Ele compartilhou uma carta no Telegram, na qual repudiou a pena que sofreu. “É importante compreender: condenaram-me não por ser extremista, porque qualquer tolo pode perceber que não houve extremismo, mas para que você fique horrorizado com o meu destino e não pensasse em lutar”, disse.

À época, a União Europeia demonstrou preocupação com o veredito russo, principalmente por “relatos de repetidos maus-tratos, medidas disciplinares injustificadas e ilegais e assédio equivalente a tortura física e psicológica por parte das autoridades prisionais”.

Em agosto de 2020, Navalny havia sido transferido à Alemanha, após ter sido envenenado com produto chamado Novichok — veneno desenvolvido na União Soviética nos anos 1970 e 1980 que provoca o colapso de funções corporais, convulsões e parada respiratória.

Uma investigação realizada pelo portal de jornalismo investigativo Bellingcat, em parceria com a CNN, apontou ligação do Serviço de Segurança Russo (FSB) no envenenamento. A apuração constatou que uma equipe de elite do serviço acompanhou Navalny em viagens pela Sibéria. Entre os integrantes do grupo, estavam especialistas em armas químicas.

Limpeza pré-eleitoral

Navalny soma-se aos figuras caladas pelo governo russo no período pré-eleitoral. A principal tese de alguns analistas internacionais é a de que a perseguição a rivais mais ferrenhos seja parte de um plano que visa não só limpar o caminho para a eleição de 2024, mas escudar o argumento de campanha de um presidente idoso, o qual, caso ganhe, ficará no poder até 2030.

Vladimir Milov, ex-vice-ministro da Energia da Rússia e conselheiro de Navalny, em entrevista à CNN, afirmou que os recentes eventos não são coincidência. “Putin realmente quer mostrar que vai entrar no Kremlin em outro mandato por meio da intimidação, da repressão, da pressão sobre a sociedade”, pontuou.

Ao afastamento soma-se o de Yekaterina Duntsova, ex-jornalista e ativista política que teve a candidatura barrada pela Comissão Eleitoral Central da Rússia, devido a “erros em documentos”. Entre as principais pautas da candidata estavam a busca pelo fim da Guerra Russo-Ucraniana e a libertação de presos políticos.

Enquanto o mundo aguarda atentamente os desenvolvimentos da política russa no próximo ano, Navalny e a oposição enfrentam os desafios impostos por um sistema político marcado por incertezas e controvérsias. A eleição será realizada durante três dias, de 15 a 17 de março, quando cerca de 110 milhões de cidadãos aptos a votar vão às urnas. O vencedor será anunciado no mesmo mês. Embora grande parte do Ocidente classifique Putin como um ditador e criminoso de guerra, entre a população ele ainda tem aprovação de 80%.

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