Remoção de moradores de rua gera protestos em Berlim, Alemanha
Devido à onda de frio, autoridades ordenaram que maior acampamento de sem-teto da Alemanha fosse esvaziado
atualizado
Compartilhar notícia
Na semana passada, as imagens do padre Júlio Lancelotti quebrando a marretadas pedras colocadas pela Prefeitura de São Paulo embaixo de viadutos – sob a alegação do pode público de evitar o acúmulo de lixo no local – circularam nas redes sociais. Na prática, as pedras manteriam afastados os moradores de rua que se abrigavam por ali.
A brutalidade da medida foi alvo de críticas e, diante delas, a prefeitura paulistana gastou mais dinheiro para retirar as pedras do local e colocou a culpa num único funcionário, que teria sido exonerado após a suposta iniciativa própria.
Enquanto São Paulo tentava expulsar moradores de ruas de viadutos, Berlim corria contra o tempo para disponibilizar mais vagas em abrigos e hostels da cidade para receber os sem-teto devido a uma frente fria intensa que se aproximava da cidade – a maior onda de frio e neve dos últimos anos, com temperaturas próximas a -15°C.
Além das 1.090 vagas já disponíveis em abrigos para moradores de rua passarem a noite, a cidade conseguiu em pouco tempo disponibilizar mais 320 camas num abrigo emergencial e em dois hostels. Esses locais funcionam 24 horas por dia. Mas nem todas as ações do fim de semana foram em prol dos sem-teto.
Uma delas causou protestos e gerou um debate na cidade. Sob a justificativa dos riscos gerados pelas temperaturas negativas, o vice-prefeito do distrito de Lichtenberg, o social-democrata Kevin Hönicke, ordenou a remoção dos moradores do maior acampamento de sem-teto da Alemanha, localizado na Baía Rummelsburger, no rio Spree. Cerca de 100 pessoas viviam em barracas improvisadas no local.
As primeiras críticas foram referentes ao horário da ação, que começou de madrugada – às 3h de sábado – e teria pego os moradores de surpresa. Na ocasião, muitos se queixaram de não terem sido informados. Também foi prometido que eles poderiam buscar seus pertences durante o dia e poderiam voltar a viver no local após o fim da onda de frio.
Promessa vazia
A promessa, no entanto, se revelou vazia algumas horas depois. Enviadas pelo dono do terreno, escavadeiras invadiram a área e arrastaram tudo o que havia no local. O vice-prefeito afirma que o proprietário do imóvel havia lhe prometido deixar tudo como está e se eximiu de qualquer responsabilidade.
O terreno em questão pertence a um grande investidor que deseja construir um aquário para atrair turistas a Lichtenberg. O projeto é extremamente controverso e criticado por moradores do bairro e ambientalistas, que defendem a manutenção do acesso público à beira da baía, além da construção de moradias sociais, uma escola e uma creche na área – obras, na minha opinião, muito mais úteis e necessárias na cidade do que um aquário para turistas. Uma ação corre na Justiça para impedir a obra.
A destruição do acampamento gerou protestos. Cerca de 300 manifestantes se reuniram no domingo, em meio a temperaturas negativas e tempestade de neve, em frente ao local.
Diante das críticas, o vice-prefeito se defendeu e disse que agora os moradores do acampamento têm um abrigo seguro até abril. O que vai acontecer depois, quando esse espaço emergencial for fechado, ninguém sabe.