Relembre como foi a renúncia de Bento XVI e as consequências do ato

Joseph Aloisius Ratzinger, o papa emérito Bento XVI, marcou a história da Igreja Católica por ter renunciado depois de oito anos de papado. Em entrevista publicada em 2021, ele declarou que amigos um tanto “fanáticos” ainda estavam zangados com sua decisão. Ratzinger morreu neste sábado (31/12) aos 95 anos.

O papa emérito assumiu em 2005, após a morte de João Paulo II, e renunciou em 2013. Na época, ele explicou que decidiu deixar a liderança do Vaticano devido à disposição física, que a velhice tinha tirado.

“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino”, escreveu em sua carta de renúncia. O termo “ministério petrino” faz referência ao nome do Apóstolo Pedro, considerado o primeiro papa, na tradição cristã.

“Fanáticos” não entenderam

No entanto, sua decisão não foi compreendida por todos os membros da Igreja Católica e trouxe consequências. Em março de 2021, em entrevista ao jornal italiano Corriere Della Sera, Bento XVI disse que até hoje havia pessoas que não compreendiam sua renúncia e até apelavam a teorias conspiratórias para justificar sua saída.

“Foi uma decisão difícil. Mas aceitei com plena consciência e acho que me saí bem. Alguns dos meus amigos um tanto ‘fanáticos’ ainda estão zangados, não quiseram aceitar minha escolha”, disse o papa emérito na entrevista.

“Penso nas teorias da conspiração que se seguiram: alguns disseram que era devido ao escândalo Vatileaks, alguns a uma conspiração do lobby gay, alguns ao caso do teólogo conservador lefebvriano Richard Williamson. Eles não querem acreditar em uma escolha consciente. Mas minha consciência está limpa”, afirmou ainda na entrevista.

Vatileaks foi um escândalo envolvendo documentos secretos que vazaram do Vaticano, revelando uma suposta rede de corrupção e nepotismo. Richard Williamson foi um bispo expulso da Igreja Católica, que colecionou polêmicas, entre elas, uma condenação por negar o Holocausto.

Bento XVI já estava debilitado na ocasião da entrevista. Segundo o repórter Massimo Franco, que colheu essas declarações, as frases do papa emérito saíam com voz baixa e como um conta-gotas. “A voz é um sopro, vem e vai”, relatou o jornalista. O funeral do papa emérito começa a partir de segunda-feira (2/1).