Projeções sugerem troca de governo na Polônia
Os cidadões da Polônia foram às urnas para “eleição mais importante desde a queda do comunismo”
atualizado
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As eleições na Polônia neste domingo (15/10) parecem ter terminado, segundo projeções, com o partido governista Lei e Justiça (PiS) se mantendo como a força política mais forte do país, embora sem os votos necessários para formar maioria. O resultado abriria caminho, portanto, para que partidos da oposição liberal formem uma coalizão de governo e tirem o nacionalista conservador PiS do poder.
A legenda governista do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki obteve 36,8% dos votos, segundo pesquisas boca de urna realizadas pelo instituto Ipsos. O partido liberal de oposição Coalizão Cívica (KO), do ex-primeiro-ministro Donald Tusk, ficou em segundo lugar, com 31,6% dos votos.
Para formar um governo na Polônia, um partido precisa somar 231 dos 460 assentos do Parlamento. Estima-se que o PiS leve cerca de 200 cadeiras, ou seja, aquém do necessário para formar maioria.
É possível ainda formar coalizões com outras legendas para se alcançar esse número. Porém, o único parceiro de coligação possível para o PiS seria a ultradireitista Confederação, que obteve 6,2% segundo os resultados preliminares, o equivalente a apenas cerca de 12 assentos.
De qualquer forma, a Confederação frisou repetidamente durante a campanha eleitoral que não estava aberta a uma aliança com o partido de Morawiecki.
Segundo as projeções, a Coalizão Cívica de Tusk conquistou 163 assentos, podendo assim formar uma coalizão com a conservadora cristã Terceira Via (13%) e a aliança A Esquerda (8,6%). A união entre os três partidos somaria um total de 248 cadeiras no Parlamento e, portanto, uma maioria.
Líder da oposição, Tusk já se viu como o vencedor da noite: “Nunca fiquei tão feliz com o segundo lugar. A Polônia venceu, a democracia venceu, este é o fim do governo PiS”, disse neste domingo.
O líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, por sua vez, afirmou que a legenda está esperando para ver o desenrolar dos acontecimentos.
O equilíbrio de poder no Parlamento ainda pode mudar por poucos pontos percentuais obtidos por partidos menores. A formação de um governo ainda deverá levar um tempo, com o resultado final previsto para ser anunciado apenas na próxima terça-feira.
Eleição mais importante desde o comunismo
As eleições deste domingo foram consideradas por muitos poloneses – incluindo o oposicionista Donald Tusk – como as mais importantes desde o retorno da Polônia à democracia, em 1989, após décadas de comunismo.
Em jogo estão a saúde da ordem constitucional da nação, a posição legal sobre os direitos LGBTQIA+ e o aborto, bem como as alianças estrangeiras de um país que tem sido um aliado crucial da Ucrânia desde que a Rússia lançou sua invasão em grande escala.
No poder desde 2015, o PiS corroeu os freios e contrapesos para obter mais controle sobre as instituições estatais, incluindo os tribunais, a mídia pública e o próprio processo eleitoral.
O apoio ao partido diminuiu desde a última eleição, em 2019, quando obteve quase 44% dos votos em 2019, em meio à alta inflação, alegações de clientelismo e brigas com aliados europeus.
Em meio à baixa popularidade, o PiS apostou todas as suas fichas em busca de um terceiro mandato nesta eleição, que foi dominada por questões relacionadas à migração e à guerra na Ucrânia.
Nas últimas semanas, os preços dos combustíveis no país despencaram, pois a empresa Orlen, controlada pelo Estado, começou subitamente a vender gasolina e diesel muito abaixo dos preços de mercado, no que a oposição classificou como um um claro golpe eleitoral.
O dia 15 de outubro é comemorado pela Igreja Católica na Polônia como o Dia do Papa, em memória do pontífice polonês João Paulo 2º. O PiS esperava que o momento levasse às urnas os eleitores conservadores que frequentam a igreja.
O comparecimento foi, de fato, o mais alto desde a queda do comunismo no país, em 1989, segundo anunciou a comissão eleitoral neste domingo: uma pesquisa boca de urna previu que 72,9% dos eleitores compareceram aos locais de votação.
“A participação é provavelmente a mais alta da história da Terceira República”, disse Sylwester Marciniak, líder da comissão, em entrevista coletiva.