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Primeira-dama após morte de 50 crianças na guerra: “Ucrânia quer paz”

Em carta aberta, publicada nesta terça-feira (8/3), a mulher do presidente Volodymyr Zelensky criticou os bombardeios russos

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A primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, com roupas brancas ao lado do marido, o presidente Zelensky, de terno - Metrópoles
1 de 1 A primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, com roupas brancas ao lado do marido, o presidente Zelensky, de terno - Metrópoles - Foto: Presidency of Ukraine/Handout/Anadolu Agency via Getty Images

“É assassinato de civis que são pacíficos.” Com essas palavras, a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, lamentou a morte de crianças durante o conflito no Leste Europeu e pediu urgência no fim dos bombardeios.

Em uma carta aberta, publicada nesta terça-feira (8/3), a mulher do presidente Volodymyr Zelensky criticou os ataques russos, iniciados em 24 de fevereiro, e chamou o presidente Vladimir Putin de “agressor” — leia a íntegra no fim da reportagem.

“Eu testemunho: apesar da propaganda do Kremlin, de que a invasão é uma ‘operação especial’, ela é, na verdade, o assassinato de civis que são pacíficos”, destaca trecho do documento.

Ao todo, ao menos 50 crianças, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), já perderam a vida durante o conflito. “Talvez o mais aterrorizante e devastador desta invasão sejam as vítimas infantis”, lamentou.

“Alisa, de 8 anos, morreu na rua e seu avô tentou protegê-la com o seu corpo. Polina morreu junto com os pais em tiroteio. Arsenij, de 14 anos, foi atingido na cabeça, e a ambulância simplesmente não conseguiu chegar”, assinalou a primeira-dama no texto.

Ela finaliza: “Os primeiros recém-nascidos da guerra viram o teto de concreto do porão e tiveram o primeiro suspiro no ar do subsolo, e foram recebidos por uma comunidade presa e aterrorizada. Neste ponto, existem várias dezenas de crianças que não sabem o que é ter paz em suas vidas”.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, demonstrou preocupação com o destino mundial após a guerra no Leste Europeu, iniciada em 24 de fevereiro. Para ele, o respeito às liberdades e o futuro da soberania dos países podem estar em risco se nada for feito agora.

Nesta terça-feira (8/3), em pronunciamento gravado, Zelensky voltou a pedir o fim dos bombardeios e comemorou o boicote norte-americano ao petróleo russo, como medida para frear as investidas do presidente Vladimir Putin.

“O mundo não acredita no futuro da Rússia. Não se fala sobre isso. Eles falam sobre nós, nos ajudam, se preparam para apoiar nossa reconstrução depois da guerra. Porque todos viram que, para as pessoas que se defendem tão heroicamente, esse depois da guerra certamente virá”, frisou o ucraniano em tom de alerta.

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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito
A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local
Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km
Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia
Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país
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A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerra

Anastasia Vlasova/Getty Images
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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito

Agustavop/ Getty Images
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A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local

Pawel.gaul/ Getty Images
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Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km

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Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia

Andre Borges/Esp. Metrópoles
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Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país

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A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro

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Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta

OTAN/Divulgação
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Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território

AFP
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Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território

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Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado

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O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles

Vostok/ Getty Images
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Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo

Vinícius Schmidt/Metrópoles

 

Zelensky agradeceu ao presidente americano, Joe Biden, pela sanção histórica contra o petróleo russo. “É um sinal mais forte para todo o mundo”, comentou. Depois, acrescentou: “Não se trata apenas de dinheiro, mas também de liberdade e futuro”.

A reflexão foi divulgada horas após os Estados Unidos proibirem a compra de petróleo russo. O Kremlin, sede do governo russo, reagiu imediatamente ao boicote norte-americano ao petróleo produzido no país.

Leia a carta na primeira-dama da Ucrânia na íntegra:

“Recentemente, um grande número de veículos de mídia de todo o mundo me procurou com pedidos de entrevistas. Esta carta funciona como minha resposta a esses pedidos e como meu testemunho sobre a Ucrânia.

O que aconteceu há pouco mais de uma semana foi algo impossível de acreditar. Nosso país era pacífico. Nossas cidades, subúrbios e vilarejos eram cheios de vida. Em 24 de fevereiro, todos nós acordamos com o anúncio de uma invasão da Rússia. Tanques cruzaram a fronteira da Ucrânia, aviões entraram em nosso espaço aéreo, lança-mísseis cercaram nossas cidades.

Apesar de os meios de comunicação de propaganda russos chamarem isto de ‘operação especial’, na verdade é o assassinato em massa de civis ucranianos.

Talvez o mais terrível e devastador desta invasão seja a morte de crianças. Alice, de 8 anos, morreu nas ruas de Okhtyrka enquanto seu pai tentava protegê-la. Ou Polina, de Kiev, que morreu num bombardeio junto com seus pais. Arseniy, de 14 anos, foi atingido na cabeça por destroços e não pôde ser salvo porque uma ambulância não chegou até ele a tempo devido à intensa troca de tiros.

Quando a Rússia diz que ‘não está travando guerra contra civis’, eu mostro o nome dessas crianças mortas.

Nossas mulheres e crianças agora vivem em abrigos antibomba e em porões. Vocês provavelmente têm visto as imagens das estações de metrô de Kiev e Kharkiv, onde pessoas deitam no chão com suas crianças e bichos de estimação — todos presos lá embaixo. Essas são apenas consequências de guerra para alguns; para os ucranianos trata-se de uma realidade terrível. Em algumas cidades, famílias não puderam sair dos abrigos antibomba durante vários dias seguidos por causa do bombardeio indiscriminado e deliberado de estruturas civis.

O primeiro recém-nascido da guerra viu o teto de concreto do abrigo, seu primeiro respiro foi o ar acre do subsolo e ele foi recebido por uma comunidade presa e aterrorizada. Neste momento há dezenas de crianças que não conhecem a paz em sua vida.

Esta guerra está sendo travada contra a população civil e não apenas através de bombardeios. Algumas pessoas precisam de cuidado intensivo e da continuidade de seus tratamentos que não podem ser feitos agora. Como é que se aplica insulina num porão? Ou como se trata de asma sob fogo cerrado? Sem mencionar as centenas de pessoas com câncer cujos tratamentos com quimioterapia e radioterapia foram adiados indefinidamente.

Comunidades locais mostram desespero nas redes sociais. Muitas pessoas, incluindo os mais velhos e os severamente doentes e com problemas de locomoção, acabaram se separando de sua família, estão sem nenhum apoio. Guerra contra essas pessoas é duplamente criminoso.

Nossas estradas estão cheias de refugiados. Olhe nos olhos dessas mulheres e crianças cansadas que carregam consigo a dor e a mágoa de deixarem para trás as pessoas que amam e a vida que tinham. Os homens que as levam para as fronteiras choram por terem de se separar de sua família, mas retornam bravamente para lutar pela nossa liberdade. Depois de tudo, apesar do horror, os ucranianos não desistem.

O agressor, Putin, acreditou que lançaria uma blitz na Ucrânia. Mas ele subestimou nosso país, nosso povo e nosso patriotismo. Ucranianos, não importa a visão política, a língua que falam, a crença, nem sua nacionalidade, permanecem unidos.

Enquanto os propagandistas do Kremlin anunciavam que os ucranianos lhes dariam as boas-vindas com flores e aplausos, o que aconteceu é que acabaram atingidos por coquetéis molotov.

Agradeço aos cidadãos das cidades atacadas que ajudaram quem estava em necessidade. Agradeço àqueles que continuam trabalhando — farmácias, lojas, transporte público e serviços sociais — e mostrando que, na Ucrânia, a vida vence.

Reconheço aqueles que providenciaram ajuda humanitária para nossos cidadãos e agradeço pelo seu apoio constante. Agradeço a nossos vizinhos, que abriram suas fronteiras para abrigar nossas mulheres e crianças. Obrigada por mantê-las a salvo quando os agressores nos tornaram incapazes de fazê-lo.

Para todas as pessoas ao redor do mundo que estão ao lado da Ucrânia: nós vemos vocês! Estamos aqui vendo e apreciando seu apoio!

A Ucrânia quer paz. Mas a Ucrânia vai defender suas fronteiras. Defender sua identidade. Nunca vamos ceder.

Nas cidades em que os bombardeios continuam, onde as pessoas estão sob escombros, impedidas de deixar os porões por dias, precisamos de corredores de ajuda humanitária e evacuação de civis em segurança. Precisamos que aqueles que têm poder fechem nossos céus.

Fechem os céus e nós mesmos vamos lidar com a guerra no chão.

Eu apelo a você, querida mídia: continue mostrando o que acontece aqui e continue mostrando a verdade. Na guerra de informação travada pela Rússia, cada pequena evidência é crucial.

E, com esta carta, eu testemunho e digo ao mundo: a guerra na Ucrânia não é uma guerra ’em algum lugar por aí’. É uma guerra na Europa, próxima das fronteiras da União Europeia. A Ucrânia está segurando a força que pode entrar agressivamente nas suas cidades amanhã sob o pretexto de salvar civis.

Na semana passada, para mim e para os meus, isso soaria como um exagero, mas é a realidade em que vivemos hoje. E não sabemos por quanto tempo vai durar. Se não pararmos Putin, que ameaça iniciar uma guerra nuclear, não haverá lugar seguro na Terra para nenhum de nós.

Nós vamos vencer. Por causa de nossa unidade. Unidade de amor pela Ucrânia. Glória à Ucrânia!”

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