Presidente da Colômbia ganha Nobel da Paz por negociações com as Farc
Os guerrilheiros tinham se comprometido a abandonar as armas e as técnicas de guerra, além de sinalizarem de que se tornariam um partido político
atualizado
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O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, foi laureado nesta sexta-feira (7) com o Prêmio Nobel da Paz 2016 por “seus esforços para chegar a um acordo” com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e colocar fim a um conflito de mais de meio século no país. “A guerra civil custou a vida de 220 mil colombianos e provocou quase seis milhões de desabrigados.
O Prêmio Nobel deve ser visto também como um tributo ao povo da Colômbia, a todas as partes que contribuíram para este processo de paz e aos representantes das vítimas”, disse o Comitê do Prêmio Nobel. Desde 2012, o governo colombiano negocia os termos de um acordo de paz com as Farc.
Apesar de não ter a obrigação de submeter o acordo à aprovação popular, o presidente colombiano, no cargo desde 2010, quis que a medida fosse legitimada pelo público. Com a derrota nas urnas, o acordo que demorou quatro anos para ser negociado em uma série de rodadas em Cuba precisará ser revisado. Isso atrasará sua assinatura e fará com que Santos tente convencer os que votaram no “não” a mudarem de ideia.
Santos, de 65 anos, foi ministro da Defesa do ex-presidente Álvaro Uribe, o principal crítico do acordo de paz. Durante seu governo (2002-2010), Uribe era um forte aliado dos Estados Unidos, que enviava aporte financeiro a Bogotá para missões contra o tráfico de droga e contra a violência.
Histórico
As Farc, que começaram sua história na luta pela reforma agrária na Colômbia, faziam uma série de reivindicações sociais durante décadas e adotavam estratégias de guerrilha para atingir seus ideias. O confronto entre o Exército colombiano e as Farc deixaram 220 mil mortos em 50 anos, além de uma história de sequestros, atentados, execuções e extorsões. Espalhados pela selva colombiana, os guerrilheiros mantinham como reféns personalidades políticas, militares e civis.
Uma das reféns mais famosas das Farc foi a política e ativista franco-colombiana Ingrid Betancourt, sequestrada pelo grupo durante as campanhas presidenciais de 2002 e libertada somente em 2008. Em entrevista à imprensa local, Betancourt disse que as Farc “também mereciam o Nobel da Paz” e que ela é “otimista com o futuro”. “A Justiça foi feita. Santos é um homem que merecia este prêmio. Sobre as Farc, é difícil eu falar, mas acredito que também [merecem]”, comentou. “A Colômbia passa por um momento de esperança, de reflexão e de alegria”, disse a ex-refém.
Pelo acordo de paz, as Farc tinham se comprometido a abandonar as armas e as técnicas de guerra, além de sinalizarem de que se tornariam um partido político. No entanto, a forma de punição de ex-guerrilheiros por crimes antigos descontentou parte da população colombiana, que é contrária a uma anistia política e ainda sofre com as feridas do conflito.
No ano passado, o prêmio foi concedido a uma associação de sindicatos, empresas, ativistas de direitos humanos e advogados, por sua contribuição para a democracia na Tunísia.
A Fundação Nobel informou que recebeu um número recorde de 376 inscrições em nome de indivíduos e organizações para o prêmio deste ano.