Presidência dos Brics ajuda Rússia a romper isolamento ocidental
Russos buscam nos países dos Brics mercados para compensar sanções dos Estados Unidos e da União Europeia
atualizado
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A Rússia enfrenta um isolamento imposto pelos Estados Unidos e pela Europa desde que invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022. Seguidos pacotes de sanções econômicas têm sido aplicados contra o país presidido por Vladimir Putin, marcas globais foram embora e mesmo voos para os países ocidentais foram descontinuados.
Para lidar com o isolamento, a Rússia tem tentado fortalecer a economia interna e buscar novos mercados em países que não aderiram às sanções. E a presidência rotativa dos Brics em 2024 tem ajudado os russos a diversificar suas opções.
Presidindo o bloco, a Rússia vai sediar o encontro anual de chefes de Estado dos países membros, que vai acontecer em outubro.
Mesmo ao longo do ano, porém, o governo russo está promovendo dezenas de eventos temáticos espalhados por seu território e convidando setores econômicos de países como Brasil, Índia, China e África do Sul, os membros originais do bloco; e de novos integrantes, como Egito, Arábia Saudita, Etiópia e Irã.
Nesses eventos, a maioria focados em economia, a Rússia busca novas rotas de comércio, de trocas tecnológicas e mesmo alianças militares. Há ainda eventos culturais e até esportivos. Em junho, por exemplo, Kazan sediou os Jogos dos Brics, que reuniram atletas universitários de mais de 60 países convidados.
O Brasil participou e ficou no quinto lugar, com 50 medalhas.
Também no mês passado, a região de Khanty–Mansi, na Sibéria, realizou um fórum de tecnologia da informação (TI) no qual empresas russas apresentaram seus produtos para representantes de países do chamado Sul Global.
Em uma conversa com jornalistas de países do bloco, o governador local, Ruslan Kuharuk, comentou que “a política atrapalha os negócios”, mas que, “nessa situação difícil, temos que buscar saídas”.
Sanções não derrubam a economia
Os Estados Unidos e a União Europeia têm aplicado seguidas rodadas de sanções à Rússia, que já atingem mais de 2 mil indivíduos e entidades.
Montadoras de veículos europeias deixaram o país, assim como lojas de grife e empresas multinacionais de alimentação, como McDonald’s e Burger King, tirando um pouco do brilho dos centros das grandes cidades. Cidadãos russos também não podem mais usar cartões das bandeiras MasterCard e Visa nem acessar serviços como Netflix e Spotify.
Na maioria dos casos, os russos substituíram as empresas que saíram com soluções locais ou chinesas (sobretudo os carros e computadores). E, apesar do efeito psicológico na população, a economia em si não foi derrubada pelas sanções e nem impediu que Putin continue sua guerra.
Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que a economia da Rússia deve crescer 3,2% em 2024, o que é mais do que o previsto para EUA, países europeus e mesmo a maioria das nações do Sul Global. Para o Brasil, por exemplo, o FMI prevê um crescimento de 2,2% este ano.
Lula irá à Cúpula dos Brics na Rússia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu o ministro de Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, em Brasília em fevereiro e aceitou o convite dele para participar da Cúpula de Chefes de Estado dos países que compõem o bloco, que está marcada para 22 a 24 de outubro em Kazan, na Rússia.
O petista enfrenta críticas por sua proximidade com um país que invadiu o vizinho e tenta tomar parte de seu território, mas tem optado por uma política pragmática, defendendo o fim da guerra contra a Ucrânia, mas sem aderir a sanções econômicas.
Seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), não teve comportamento muito diferente e chegou a viajar para a Rússia logo antes do início da guerra, buscando um acordo para a compra de fertilizantes.