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Por que pesquisas erraram projeções das eleições dos EUA?

As pesquisas eleitorais dos EUA apontavam para uma disputa acirrada e indefinida. No entanto, Donald Trump venceu o pleito com facilidade

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Imagem do DOnald Trump e da Kamala Harris na frente da bandeira americana
1 de 1 Imagem do DOnald Trump e da Kamala Harris na frente da bandeira americana - Foto: Arte/Metrópoles

As pesquisas eleitorais dos Estados Unidos anunciavam empate entre Donald Trump e a democrata Kamala Harris. Porém, o republicano ganhou a eleição presidencial com ampla margem na madrugada dessa quarta-feira (6/11). Entre os fatores apontados pelos especialistas consultados por Metrópoles para entender por que os institutos de pesquisa erraram nas projeções estão o voto oculto, envergonhado, e o eleitor não declarado.

O coordenador do curso de marketing digital e ciência de dados da Uniceplac, Gilmar Lucena, explica que o  voto oculto, que chamamos de “envergonhado”, acontece “em contextos polarizados, especialmente com figuras controversas como Trump, pois alguns eleitores podem hesitar em expressar sua verdadeira preferência. Esse efeito é bem documentado e pode distorcer os resultados, principalmente em segmentos de eleitores mais conservadores”.

Lucena elenca outros dois elementos que mostram por que os levantamentos erraram nas projeções: a mudança de comportamento nos últimos dias e as incertezas sobre o comparecimento eleitoral.

A mudança de comportamento nos últimos dias, explica o especialista, fez com que “muitos eleitores” decidissem o voto na última hora. “Isso tende a ocorrer mais em eleições norte-americanas, devido à alta exposição midiática e debates constantes. Esse comportamento é difícil de captar em pesquisas que são concluídas dias ou até semanas antes da eleição.”

As incertezas sobre o comparecimento eleitoral, diz Lucena, têm a ver com o fato de o voto nos EUA não é obrigatório. “Muitos eleitores inscritos não votam, e o engajamento de grupos específicos [jovens, minorias, conservadores] pode mudar o resultado de forma significativa”.

“Não necessariamente trumpistas”

O internacionalista Emanuel Assis cita o eleitor não declarado como fator essencial para indicar o porquê das projeções erradas sobre as eleições nos EUA. “O primeiro ponto que eu atribuo a esse resultado é o fator ‘eleitores não declarados'”, diz.

De acordo com o especialista, esses eleitores “não necessariamente se colocam como trumpistas, como republicanos, ou declaram abertamente o voto no Trump, por toda essa questão que hoje é se declarar abertamente uma pessoa conservadora, um eleitor conservador, trumpista, republicano, no caso dos Estados Unidos”. “[Existe] todo o estigma que isso traz sobre o fato de você ser um eleitor abertamente conservador.”

Assis destaca que o fato de os votos não serem obrigatórios também impacta na apuração.

“Outro fato e que é sempre uma questão nos Estados Unidos, em todas as eleições, é que o voto não é obrigatório. Não basta apenas você declarar que vai votar no candidato X ou Y, você precisa ir votar”, afirma.

Para ele, “um dos fracassos das derrotas da campanha democrata é o de não ter conseguido efetivamente fazer com que uma parte do seu eleitorado fosse as urnas votar”. Já os republicanos, alega Assis, conseguiram o feito.

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Cardápio da festa da vitória de Donald Trump
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Donald Trump foi eleito novamente presidente dos EUA
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Brasil X EUA

Ao ser questionado sobre o porquê dos institutos de pesquisas eleitorais no Brasil conseguirem acertos maiores do que as do EUA, Gilmar Lucena explica que o “contexto das pesquisas no Brasil difere substancialmente daquele dos EUA, e isso pode explicar a menor divergência entre os resultados das pesquisas e dos pleitos”.

O especialista em marketing elenca abaixo as diferenças entre os sistemas eleitorais que podem impactar na aferição dos dados de pesquisas:

  • Voto obrigatório no Brasil: a obrigatoriedade do voto no Brasil reduz a incerteza em relação ao comparecimento dos eleitores, que é um dos fatores críticos nos EUA. Com o voto obrigatório, as pesquisas brasileiras não precisam estimar com tanta intensidade quem comparecerá às urnas, facilitando uma amostragem mais representativa;
  • Sistema eleitoral direto: o Brasil adota um sistema eleitoral direto, enquanto nos EUA o Colégio Eleitoral cria uma dinâmica em que certos estados se tornam os “campos de batalha”. Isso requer segmentações e análises específicas em cada estado, o que aumenta a margem de erro, uma vez que estados como Flórida, Pensilvânia e Michigan podem ter comportamentos diferentes;
  • Padronização das pesquisas e regulação: no Brasil, há um controle mais rigoroso dos institutos de pesquisa, com requisitos regulatórios específicos para garantir a transparência da metodologia. Nos EUA, a falta de padronização e a independência dos institutos para definir suas próprias metodologias permitem uma maior variação nos resultados.

Lucena também explica quais são os elementos que interferem na precisão das pesquisas: amostragem e representatividade; ponderação dos dados; método de coleta e engajamento; e motivação do eleitorado.

Pequenas falhas, grandes distorções

Segundo o especialista “a representatividade da amostra é fundamental. Em alguns casos, como nos EUA, certas pesquisas podem sub-representar ou super-representar segmentos populacionais, como minorias, eleitores rurais, ou eleitores brancos da classe trabalhadora. Pequenas falhas no processo de amostragem geram grandes distorções”.

Lucena explica que “para corrigir eventuais falhas de amostragem, as pesquisas precisam ponderar os dados de acordo com a composição demográfica esperada do eleitorado. Isso inclui idade, raça, nível educacional e localidade. A ponderação pode ser especialmente desafiadora em um cenário de mudanças demográficas ou políticas inesperadas”.

O especialista em dados destaca que “a forma como os dados são coletados, seja por telefone, on-line ou em entrevistas presenciais, influencia os resultados. Nos EUA, pesquisas por telefone têm menos alcance entre jovens, e pesquisas online tendem a atrair um perfil mais específico de eleitores”.

Ele concluiu que, “em eleições polarizadas, o engajamento dos eleitores de cada lado é crucial. É comum ver campanhas de mobilização intensa em certos grupos demográficos, e prever quem realmente comparecerá às urnas é complicado. Nos EUA, onde o comparecimento não é obrigatório, a motivação para votar se torna um fator importante e difícil de prever”.

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