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Palestinos da Cisjordânia relatam abusos no rastro da guerra em Gaza

Tensão na Faixa de Gaza se espalha para a Cisjordânia, onde mais de 170 palestinos já foram mortos desde o último dia 7 de outubro

atualizado

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Colagem mostra bandeiras de Israel e Palestina sobrepostas ao mapa da Cisjordânia - Metrópoles
1 de 1 Colagem mostra bandeiras de Israel e Palestina sobrepostas ao mapa da Cisjordânia - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

Apesar dos mais de 100 km que separam as duas regiões, a guerra na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas reflete diretamente na Cisjordânia, provocando uma onda de tensão e insegurança no território, que vive sob ocupação israelense desde 1967.

Relatos de palestinos que vivem na região ouvidos pelo Metrópoles revelam que, desde o último dia 7 de outubro, quando o conflito em Gaza explodiu, a violência e a tensão aumentaram muito na região, que não é governada pelos extremistas do Hamas, mas pela Autoridade Palestina.

“A situação onde moro, em Ramallah, e em todas as cidades da Cisjordânia e também em Jerusalém, a capital, é muito tensa”, relata Zaid Ataya. “A ocupação [israelense] aproveita-se do que aconteceu no início da guerra e da preocupação de todos com o que está acontecendo na Faixa de Gaza para intensificar seus ataques e liberar os seus colonos para atacar palestinos”, completa o palestino.

Com o início da guerra, há mais de um mês, 173 palestinos, incluindo 46 crianças, foram mortos na Cisjordânia por colonos e soldados de Israel e mais de 2,5 mil ficaram feridos, segundo os últimos dados divulgados pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). No mesmo período, três israelenses foram mortos.

Já os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde palestino registram mais vítimas fatais. De acordo com a pasta, 196 pessoas morreram e cerca de 2,7 mil ficaram feridas na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém.

“Além de lhes proporcionar total impunidade e proteção, o governo israelita também tem armado os colonos para cometerem novos crimes sob a vigilância e proteção das forças de ocupação israelitas na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém”, afirma Zaid Amali, diretor internacional de advocacia e comunicação da ONG Iniciativa Palestina para a Promoção do Diálogo Global e a Democracia (MIFTAH).

A alegação de Zaid coincide com uma ordem emergencial do ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, que facilitou o armamento para cidadãos israelenses um dia após o ataque do Hamas ao território de Israel.

“Qualquer cidadão que cumpra os critérios para a posse de armas de fogo, sem registro criminal ou médico, poderá receber aprovação para a posse de armas de fogo”, disse o gabinete do ministro na ocasião.

Além de conflitos, moradores da Cisjordânia ocupada relatam uma alta no número de prisões na região, com o exército israelense “invadindo aldeias e casas de cidadãos ao amanhecer, atacando famílias e prendendo-os”.

Segundo os últimos números divulgados pelo Exército de Israel, desde o início do conflito mais de 1.350 pessoas já foram presas no na região, ocupada por assentamentos israelenses considerados ilegais pela ONU, sendo 870 deles membros do Hamas. O número, no entanto, é questionado pelo Clube dos Prisioneiros Palestinos. A organização alega que mais de 2,5 mil homens e mulheres foram detidas desde o início de outubro.

Em relatório divulgado na última semana, a Anistia Internacional alertou para o aumento de prisões arbitrárias por Israel na Cisjordânia, sem acusações ou julgamentos.

“Ao longo do último mês, testemunhamos um aumento significativo no recurso de detenção administrativa por parte de Israel – detenção sem acusação ou julgamento que pode ser renovada indefinidamente – que já estava em uma máxima de 20 anos antes da última escalada das hostilidades em 7 de outubro”, disse Heba Morayef, diretora regional para o Oriente Médio e Norte da África.

Questionadas pelo Metrópoles, as Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que seus soldados trabalham para garantir a segurança de residentes e prevenir o terrorismo na região, sem responder diretamente as acusações de moradores da Cisjordânia ocupada.

Leia a nota na íntegra:

“A missão das FDI é manter a segurança de todos os residentes da área e agir para prevenir o terrorismo e atividades que ponham em perigo os cidadãos do Estado de Israel. Em casos de violações da lei por parte de Israelitas, o principal órgão responsável pelo tratamento destas reclamações é a Polícia Israelita. Devido à presença constante das FDI na área, os soldados encontram incidentes de violações da lei por parte dos israelenses, alguns podem ser incidentes violentos ou incidentes dirigidos aos palestinos ou às suas propriedades. Nestes casos, os militares são obrigados a agir para impedir a violação e, se necessário, atrasar ou deter os suspeitos até a chegada da polícia ao local. Os soldados das FDI são instruídos a agir da seguinte forma. Em situações em que os soldados não cumprem as ordens das FDI, os incidentes são minuciosamente revistos e as ações disciplinares são implementadas em conformidade”.

 

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