Ponto a ponto: o que pensam Macron e Le Pen
Com poucos pontos em comum, franceses tem uma escolha clara nas eleições: uma populista de direita eurocética e um liberal pró-UE
atualizado
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O segundo turno das eleições presidenciais francesas, neste domingo (7/5), põe frente a frente dois candidatos que se propagandeiam como de fora do establishment político, mas que não podiam ser mais diferentes.
Com tão poucos pontos de intersecção, os franceses estão diante de uma escolha relativamente clara. Veja as principais diferenças entre os dois candidatos.
Europa: “Frexit” ou UE
Le Pen defende o “Frexit”, ou seja, a saída da França da União Europeia (UE). Se for eleita, a candidata populista de direita pretende realizar um referendo sobre o assunto. Ela culpa a União Europeia e, principalmente, a Alemanha pela estagnação econômica da França. Le Pen quer a completa soberania nacional; a totalidade de seus objetivos se opõe à ideia europeia e aos acordos relacionados.
Macron é o pró-europeu nesta campanha. Ele defende um fortalecimento da UE e ressalta que o futuro dos países europeus está somente na comunhão de interesses. A França, afirma, só irá adiante com ajuda dos vizinhos.
Moeda: franco ou euro
Marine Le Pen quer deixar o euro e voltar ao franco. Nesse processo, no entanto, todos os pormenores permanecem desconhecidos: como ela pretende pagar a dívida pública francesa? O que vai acontecer com as poupanças dos cidadãos? O risco de uma grave crise financeira na França, após o pretendido abandono da moeda comum europeia, continua ignorado.
Para Macron, a permanência da França na moeda comum europeia é uma obviedade. No entanto, ele tem grandes planos: ele quer um orçamento próprio para a zona do euro, inclusive ministro das Finanças e controles parlamentares. Isso inclui também mudança nas regras fiscais – ou seja, quanto de dívida um país pode fazer. Os detalhes não são claros. Essa reestruturação só seria viável com uma alteração dos tratados da UE.
Comércio: protecionismo ou livre-comércio
Le Pen quer proteger a economia francesa com total isolamento. O seu slogan central é “Primeiro a França”. A candidata promete proteção contra os efeitos da globalização, como a transferência de postos de trabalho para o exterior, ela é também uma opositora do livre-comércio. Ao mesmo tempo, Le Pen fala da exportação de mercadorias francesas para todo o mundo.
Mercado de trabalho: social ou liberal
Le Pen quer manter a proteção existente para trabalhadores e privilegiar franceses na alocação de empregos. A candidata populista de direita pretende fixar a idade de aposentadoria em 60 anos e financiar os encargos financeiros decorrentes, entre outros, por meio do combate à evasão fiscal.
Macron defende uma maior flexibilidade para o rígido mercado de trabalho e almeja reduzir custos sociais, principalmente no seguro-desemprego. Isso inclui cortes no direito à assistência. A princípio, ele planeja uma idade de aposentadoria de 62 anos, com um posterior aumento desse limite de idade.
Imigração: isolamento ou solução europeia
Le Pen quer fechar as fronteiras da França e reduzir o número de imigrantes a 10 mil por ano. Ela vê a identidade francesa em risco, especialmente devido a muçulmanos. Os migrantes não devem receber mais nenhum apoio governamental.
Macron considera o acolhimento dos requerentes de asilo e estudantes estrangeiros como “oportunidade e motivo de orgulho.” Ele defende a proteção das fronteiras externas da UE, a fim de limitar o influxo de imigrantes e, de resto, respeita as decisões dos acordos europeus.
Terrorismo: deportações ou Estado de Direito
Le Pen quer deportar todos os imigrantes suspeitos, endurecer as leis e penalidades, bem como criar milhares de novas vagas de emprego para a polícia. Para ela, as possibilidades de intervenção estatal devem ser expandidas.
Também Macron quer aumentar o número de policiais, que havia sido cortado sob o governo Sarkozy. No mais, ele aposta nos meios disponíveis e na cooperação europeia para o combate ao terrorismo.
Política de Segurança: Rússia ou Otan
Além de querer uma aproximação de Paris com Moscou, Le Pen defende a anexação da Crimeia pela Rússia e ambiciona fechar laços estratégicos na luta contra o grupo terrorista “Estado Islâmico”. Ao mesmo tempo, ela quer retirar a França da Otan. Quanto a novos planos de aliança, ela deixa a situação em aberto.
Macron defende as sanções e o distanciamento político existente entre a Europa e a Rússia. Espera-se que ele aposte amplamente na continuidade da política externa e de segurança da França.