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Políticos saúdam coragem de mulher cujo marido a dopava para estupros

Gisèle Pelicot declarou que agora tem confiança em um futuro no qual todos, mulheres e homens, possam viver em harmonia

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Nesta quinta-feira (19/12), os tribunais franceses condenaram Dominique Pelicot à pena máxima no extraordinário julgamento de estupro em série na França, mas proferiram sentenças menores do que as solicitadas pela acusação para seus 50 co-réus, uma decisão que Gisèle Pelicot disse “respeitar”.

Políticos, associações e imprensa do mundo todo comentam o caso histórico, seja exaltando a força da mulher que se tornou um verdadeiro ícone feminista, ou criticando as penas consideradas brandas por alguns.

Em um breve discurso após o veredicto, a ex-esposa de Dominique Pelicot, de 72 anos, disse que estava pensando “nas vítimas não reconhecidas” da violência sexual. Ela declarou que agora tinha “confiança” em “um futuro no qual todos, mulheres e homens, possam viver em harmonia”.

Gisèle Pelicot se tornou um verdadeiro ícone feminista desde sua decisão de se recusar a iniciar o julgamento histórico a portas fechadas em 2 de setembro, em Avignon, sudeste da França. Após o anúncio da sentença, ela disse que não se arrepende dessa decisão, mesmo se confirma que o processo foi uma “provação muito difícil”.

Ao ser questionada sobre a pena de 20 anos anunciada para seu ex-marido, Gisèle Pelicot disse apenas que “respeita o tribunal e essa sentença”.

Reações internacionais

No entanto, nem todos concordam com a vítima e alguns consideram que a sentença deveria ter sido mais severa. “Sinceramente, sinto pena de Gisèle Pelicot, que lutou tanto para que esse julgamento fosse histórico. Na realidade, as sentenças não serão históricas”, lamenta Isabelle Boyer, uma das integrantes do coletivo feminista Les Amazones d’Avignon, que há meses vem colando cartazes contra a violência sexual nos muros da cidade francesa.

E também segurava uma grande faixa em frente ao tribunal proclamando “Obrigado, Gisèle”.

O caso suscitou reações em vários países. O chanceler alemão Olaf Scholz que escreveu nas redes sociais “com coragem, você saiu do anonimato para lutar por justiça. Você deu uma voz forte às mulheres de todo o mundo. A vergonha está sempre do lado do agressor”. A capa do jornal alemão Tageszeitung dizia “Obrigado”, ao lado do rosto de Gisèle Pelicot.

O julgamento foi coberto por 180 veículos de imprensa, incluindo 86 do exterior. Os principais meios de comunicação, como a CNN, o New York Times, o BBC, The Guardian e o canal alemão Deutsche Welle, cobriram o veredicto ao vivo.

Gisèle Pelicot se tornou “o rosto da coragem” para o New York Times, que descreve como sua imagem se tornou o símbolo de um “ponto de virada coletivo” para o mundo inteiro, comparada ao manifestante em frente aos tanques na Praça da Paz Celestial em 1989 ou à “mulher de vermelho”, símbolo do movimento de protesto de 2013 na Turquia.

Ela é “uma mulher cujo marido pode ter conseguido destruir sua vida, mas não conseguiu destruí-la”, e cuja “imagem transcendeu o julgamento para se tornar um catalisador de mudanças”, diz o diário americano.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, saudou a “dignidade” de Gisèle Pelicot na quinta-feira, após a condenação de seu marido e 50 co-réus por estupros em série cometidos na França, dizendo que a “vergonha” deveria “mudar de lado”.

“Que dignidade. Obrigado Gisèle Pelicot”, escreveu o líder socialista na rede social X. Sánchez está à frente de um país considerado pioneiro na luta contra a violência sexista e sexual e que, nos últimos 20 anos, adotou uma legislação altamente específica, principalmente sobre o conceito de consentimento.

Reações na França

“Obrigado por sua coragem. Através de você, as vozes de tantas vítimas estão sendo ouvidas hoje, a vergonha está mudando de lado, o tabu está sendo quebrado. Graças a você, o mundo não é mais o mesmo”, disse a presidente da Assembleia Nacional Francesa, Yaël Braun-Pivet, no X.

“Com sua dignidade e coragem, você está possibilitando a mudança de que nossa sociedade precisa: enfrentar o flagelo da violência sexual na nossa intimidade, educar as pessoas sobre respeito e consentimento e mudar a lei”, reagiu a ex-ministra francesa Aurore Bergé.

“Ao solicitar e obter a abertura do caso, Gisèle Pelicot transformou seu sofrimento em um ato de resistência (…) Que o julgamento de Mazan e a provação de Gisèle Pelicot causem ondas de choque (…) Um país inteiro apoiou Gisèle Pelicot”, escreveu Gabriel Attal, ex-primeiro-ministro da França.

A condenação

Os filhos de Gisèle disseram à AFP que estavam desapontados com as sentenças baixas.

Seu agora ex-marido Dominique Pelicot, também de 72 anos, foi condenado à pena máxima possível por estupro agravado, ou seja, 20 anos de prisão, como a promotoria havia solicitado em seus argumentos finais no final de novembro.

Ele estava sendo julgado por ter dopado Gisèle Pelicot com ansiolíticos durante um período de dez anos, tornando-a seu objeto sexual e entregando-a para ser estuprada por dezenas de homens recrutados pela Internet.

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