União Europeia é cobrada por censura à imprensa na Turquia
A União Europeia enfrenta crescente pressão para se manifestar contra a erosão da liberdade de imprensa na Turquia depois que o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan assumiu o controle do jornal de maior circulação no país
atualizado
Compartilhar notícia
A União Europeia enfrenta crescente pressão para se manifestar contra a erosão da liberdade de imprensa na Turquia depois que o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan assumiu o controle do jornal de maior circulação no país. Mas poucos esperam os europeus adotem uma ousada abordagem, já que precisam da ajuda dos turcos para lidar com a crise de refugiados.
Pelo segundo dia consecutivo neste sábado (5/3) os policiais usaram gás lacrimogênio para dispersas centenas de manifestantes que se reuniram do lado de fora da sede do jornal Zaman, agora cercado pela polícia. O prédio foi invadido na sexta-feira (4/3), em cumprimento à ordem de apreensão judicial da publicação, que está ligada ao principal rival do presidente Erdogan, o clérigo da oposição Fethullah Gulen.
Tropas de choque usaram escudos e gás lacrimogêneo para conter a multidão aos gritos de “Imprensa livre não pode ser silenciada” e “Zaman não pode ser silenciado”. Alguns foram vistos esfregando o rosto com pedaços de limão para mitigar os efeitos do gás, informou a agência de notícias Dogan. Vários manifestantes ficaram feridos.
Histórico
O tribunal de Istambul nomeou curadores para administrar o Zaman e suas outras publicações, reduzindo o número de órgãos de imprensa de oposição na Turquia, hoje dominada por mídia pró-governo. A medida levanta preocupações sobre uma deterioração dos direitos no país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que também deseja aderir à UE, antes de reunião marcada para 7 de março, na qual líderes europeus tentarão convencer a Turquia a agir mais para conter o fluxo de refugiados viajando à Europa.
Os países europeus estão preocupados com a crise de imigração, eles não mais estão preocupados com a violação de direitos na Turquia. Eles dirão algumas coisas apenas para constar, mas eles sabem que são dependentes da Turquia
Semih Idiz, colunista dos jornais Cumhuriyet e Daily Hurriyet
A edição deste sábado da versão em inglês do Zaman, publicada antes de o governo assumir o controle do prédio, trouxe a primeira página toda em preto com a manchete: “Dia vergonhoso para a imprensa livre na Turquia”. A invasão da sede do jornal pela polícia é parte de uma repressão ao movimento Gulen, que Erdogan alega tentar derrubá-lo.
Autoridades acusam os seguidores do movimento de se infiltrarem na polícia e no judiciário, além de orquestrarem acusações de corrupção em 2013 e implicarem o círculo mais íntimo de Erdogan, em uma tentativa de desmantelar o governo.
Gulen, que se autoexilou nos Estados Unidos desde 1999, já foi aliado do atual presidente turco. Nos últimos anos, contudo, o governo expurgou milhares de funcionários públicos supostamente ligados ao movimento e apreendeu negócios afiliados. O movimento também foi rotulado como organização terrorista, ainda que não tenha executado qualquer atentado.
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, insistiu em visita ao Irã que a indicação de administradores para a publicação foi uma decisão legal, e não política. Ele também negou o envolvimento do governo na tomada do jornal. “Nós não interferimos…e nem o faremos”, afirmou ele.
Fonte: Associated Press.