Revista Nature: Bolsonaro minimizou ciência em “épica crise de saúde”
Publicação científica diz que surto de Covid-19 no Brasil se deve à recusa da adoção de medidas restritivas e a informações enganosas
atualizado
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Em reportagem publicada na revista científica Nature na terça-feira (27/4), pesquisadores denunciam o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo surto de Covid-19 que o Brasil enfrenta.
Segundo os estudiosos, a “épica crise de saúde pública” se deve à recusa da administração federal em adotar medidas restritivas de âmbito nacional, como lockdown, e à disseminação de informações enganosas.
“Um aumento nas infecções por coronavírus levou muitas das unidades de terapia intensiva do Brasil à beira do colapso. E o número de mortes diárias e mensais atingiu níveis recordes”, diz o texto, ressaltando que o país responde por 13% do total de óbitos por Covid, apesar de ter 3% da população mundial.
A Nature ressaltou também que apenas um em cada 10 brasileiros recebeu a vacina contra a Covid-19 até agora.
“Bolsonaro, uma figura polarizadora que foi comparada ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, vem contradizendo a opinião científica desde o início da pandemia, quando chamou a Covid-19 de ‘gripezinha’. No fim do ano passado, ele também deu a entender que as vacinas contra a Covid-19 podem ser perigosas, dizendo: ‘Se você virar um jacaré, é problema seu’”, diz trecho do texto.
A publicação lembra que Bolsonaro adotou postura anticientífica antes da pandemia, quando cortou fundos para as universidades brasileiras e os ministérios da Ciência e da Educação.
Recusa na adoção de protocolos
A resistência de Bolsonaro em adotar o uso de máscaras e a recusa em firmar protocolos nacionais para fechar negócios não essenciais durante a pandemia são ressaltadas pela reportagem. A guerra política com governadores também é mencionada, com o episódio em que o mandatário chamou autoridades que aplicaram medidas de restrição de circulação de “tiranos”.
Para os pesquisadores, a inação e o negacionismo do governo federal permitiram a circulação maior das novas variantes do coronavírus no país. Além disso, citam a falta de recursos para estudos como impedimento para o desenvolvimento científico.
Por fim, a publicação ressalta que cientistas têm deixado parte de seus trabalhos de lado para fazer aparições em redes de televisão a fim de promover práticas como o distanciamento social.