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Quem ganha e quem perde com a eleição de Joe Biden nos EUA?

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles indicam que eventual queda de Trump simbolizaria enfraquecimento de populismo e antiglobalismo

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Joe Biden segurando máscara
1 de 1 Joe Biden segurando máscara - Foto: Alex Wong/Getty Images

Uma eventual vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos não simbolizará apenas o retorno do Partido Democrata ao poder quatro anos depois da derrota de Hillary Clinton para Donald Trump, que teve contornos de hecatombe política para progressistas norte-americanos. Para cientistas políticos ouvidos pelo Metrópoles, isso demonstraria o enfraquecimento do movimento populista, em meio ao cenário de instabilidade mundial provocado pela pandemia do novo coronavírus.

A expectativa dos estudiosos é de que uma gestão de Biden promova uma reviravolta em muitos pontos polêmicos do governo do republicano Donald Trump.

Com a ascensão do progressista ao posto presidencial, os Estados Unidos trocariam o antiglobalismo e o conservadorismo mais cru por ideias mais progressistas (mesmo que Biden seja um político de centro, distante da ala mais à esquerda do Partido Democrata) e políticas voltadas para a aproximação da potência mundial dos demais países – movimento contrário ao adotado pelo governo Trump, principalmente, nas relações do país com a China.

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Ele trava batalha com Donald Trump nas eleições deste ano
Os debates foram intensos e marcados por trocas de acusações
Joe Biden era o candidato democrata à Presidência dos EUA
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Joe Biden foi vice-presidente dos EUA na era Obama

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Ele trava batalha com Donald Trump nas eleições deste ano

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Os debates foram intensos e marcados por trocas de acusações

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Joe Biden era o candidato democrata à Presidência dos EUA

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Ainda conforme os especialistas, a vitória dá indicativos de que as decisões do governo Trump no âmbito da pandemia de Covid-19 não agradaram a população. Se os baixos índices de desemprego atingidos pelos EUA em 2019 fizeram o republicano crescer no conceito dos eleitores, a crise sanitária mundial provocou queda drástica no apoio nacional em relação à gestão.

Vale lembrar que, em meio ao cenário pandêmico, o país atingiu alto índice de desemprego, cenário que não era vivenciado há anos no país. Com Trump na presidência e a pandemia com números explosivos no país, os EUA foram de 3,5% de desempregados para taxas de desocupação acima dos 10,2%.

Nem mesmo a criação do Coronavoucher foi suficiente para segurá-lo na Casa Branca. O programa prevê ajuda financeira aos cidadãos impactados durante o período, em modelo semelhante ao auxílio emergencial aplicado no Brasil pelo governo do presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem partido).

Com base na análise de estudiosos da área, o Metrópoles elencou os principais vencedores e perdedores da ascensão de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos.

Perde-ganha

Professora da escola de políticas públicas e governo da Fundação Getúlio Vargas, Graziella Testa defende que o resultado nas urnas é, antes de tudo, “demonstração clara do enfraquecimento populista”. “Trump é parte de um movimento mais amplo, dos chamados populismos de direita, que assumiram em vários países do mundo”.

“[A derrota de Trump] É um indício de que essa onda populista atingiu o  auge e caminha para uma queda. Tivemos um sinal como esse no Chile. Essa é uma avaliação muito importante porque estamos falando de ondas que tendem a ter uma certa contaminação no contexto latino-americano. É muito grande a influência dos EUA na política da América Latina”, explica.

A professora da FGV ressalta que a vitória do Partido Democrata não necessariamente implica em políticas mais progressistas no país.

“É fato que Biden não vai querer dar prosseguimento a uma agenda pautada em retrocessos. No entanto, o congresso dos Estados Unidos é majoritariamente republicano. Portanto, ele não vai conseguir mudar sozinho. Joe Biden não está à esquerda do Partido Democrata, é, sim, um candidato de centro-direita.”

Grupos minoritários

Mesmo assim, para a cientista política, há previsão de que haja, na gestão de Biden, enfoque maior nos “americanos não documentados”, ou seja, os imigrantes em situação irregular no território. “Sofreram muito durante a administração de Trump, assim como grupos minoritários”.

Quem também venceria, de acordo com ela, seriam os movimentos pró-escolha e os grupos minoritários que lutam por maior equidade, principalmente no próprio sistema eleitoral.

“É uma vitória também do sistema eleitoral. É um país onde o voto é facultativo e o problema com o registro para se votar é muito sério. Grupos de negros e latinos mesmo sofrem para conseguirem ter direito ao voto”, defende.

Segundo Graziella, na contramão de Trump, o progressista Joe Biden promoverá, gradualmente, o retorno às políticas multilaterais e globalistas por parte dos EUA.

Relação com a China

“As relações com a China vão mudar. Toda essa guerra comercial travada pelos republicanos pode vir a ser revertida ou apaziguada pelos democratas, que dão indícios de que lidarão de forma diferente. Mas lembre-se que os EUA, de modo geral, sempre adotaram política centralizadora”, completa a especialista.

A fala da professora encontra ressonância na análise do cientista político André Rosa. Ao Metrópoles, Rosa diz crer em “vitória do sistema internacional”.

“Ainda não o conhecemos (Biden) como presidente, mas, até por ter sido vice-presidente no governo Barack Obama, tem um preparo técnico mais avançado em relações diplomáticas, que falharam durante a gestão de Trump. O republicano teve uma forma de ação pouco estratégica do ponto de vista de maximização econômica”, explica.

Relação com o Brasil

Uma possível derrota de Donald Trump no processo eleitoral também trará impactos para o Brasil. Os estudiosos acreditam que áreas como direito humanos e meio ambiente estarão entre as principais pautas a serem discutidas na relação de Joe Biden com Bolsonaro.

Biden é crítico da gestão do governo brasileiro, principalmente, na maneira como lidou com as recentes queimadas na Amazônia e no Pantanal. O tema foi, inclusive, debatido pelo candidato republicano durante um dos embates eleitorais televisionados travado com Donald Trump.

Como medida de retaliação, os Estados Unidos, inclusive, se opuseram à ampliação de acordos comerciais. A decisão partiu de 24 deputados democratas, que integram a Comissão de Orçamento e Tributos (Ways and Means) da Câmara dos Deputados norte-americana.

A pandemia nas urnas

André Rosa crê em um maior impacto da pandemia do novo coronavírus no contexto socioeconômico do país norte-americano, no comparativo com o Brasil.

“É maior porque é um país mais estruturado, falamos de uma forma de leitura de cenário diferente. Isso mostra que o eleitor foi muito mais crítico ao Trump do que o brasileiro é crítico ao Bolsonaro, que se aproveita do negacionismo para ver sua aprovação crescer”, defende.

Para o especialista, grande parte das pautas que vencem eleições presidenciais no país é voltada para questões da economia nacional.

“A personalidade do presidente e a forma como ele resolveu as questões revoltaram o eleitorado, principalmente no tocante ao crescimento acentuado na taxa de desemprego. A ideia do auxílio emergencial foi uma resposta lenta, suficiente para enfraquecimento político do republicano.”

Investimentos

Graziella Testa analisa que uma mudança de poder também criaria cenário fértil para investimentos em pesquisas e estudos científicos, algo que, segundo a professora da FGV, foi travado durante a gestão “negacionista” de Donald Trump.

“Não diria que [uma vitória de Biden] é uma derrota do negacionismo. Isso seria assumir que as pessoas votam por este motivo, quando votam por motivos muito diferentes. No entanto, com certeza, abre portas para políticas públicas voltadas para o financiamento de pesquisas e estudos científicos. O governo Trump só abriu uma exceção quando falou-se em vacina contra Covid-19”, acredita.

 

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