Partido Trabalhista condiciona Brexit a promessa de empregos
Número dois do principal partido opositor do Reino Unido diz que apoiaria acordo negociado pela premier se ela defender a economia nacional
atualizado
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A primeira ministra britânica, Theresa May, pode eventualmente conseguir aprovar o acordo do Brexit no Parlamento, se ela negociar um compromisso com o Partido Trabalhista, afirmou à Reuters nesta quarta-feira (16/1) o segundo mais importante membro trabalhista da oposição, John McDonnell.
“Nós iremos apoiar um acordo que una o país, proteja trabalhos e apoie a economia”, disse McDonnell, diretor de finanças da sigla “Nós sempre tivemos essa política de portas abertas, e, durante dois anos, ela (May) não nos contatou, não nos procurou.”
Na terça-feira, May, do Partido Conservador, sofreu uma derrota considerada histórica no Parlamento ao ter o seu acordo, negociado desde 2016 com a União Europeia (EU), reprovado por 432 votos contra 202 a favor.
Logo após a votação, o Partido Trabalhista protocolou um voto de desconfiança contra a premiê, previsto para esta quarta. Se aprovado, ela terá de convocar eleições gerais, o que pode colocar em risco a maioria das cadeiras conservadoras na Câmara dos Comuns.
Com os conservadores divididos, a oposição tem grande poder de influência sobre a decisão final do Brexit, mas é difícil saber se algum plano pode ser aprovado sem o apoio dos 256 parlamentares trabalhistas.
McDonell, membro do gabinete paralelo que checa as ações do governo vigente, afirma que não havia maioria no Parlamento para deixar a UE sem um acordo, então as duas opções mais prováveis são um acordo de compromisso ou eleições nacionais. “É bizarra a situação, mas aqui estou, chanceler paralelo, indo aos jornais para acalmar os mercados porque os conservadores e o atual chanceler não conseguem fazer isso”, disse.
“O motivo é que há uma grande maioria no parlamento contra uma saída sem acordo. Nós iremos usar todos os mecanismos parlamentares para prevenir isso”, afirmou McDonnell.
Mas os trabalhistas também estão divididos, com muitos apoiadores mais jovens decidindo ficar na UE, enquanto outros apoiam a saída. McDonnell, de 67 anos, defende uma eleição geral rápida para que o seu partido chegue ao poder e decida como seria um Brexit com uma alfândega permanente com a UE. Ele prefere essa opção a um segundo referendo.
“Nossa visão é que deveríamos ter uma eleição geral enquanto existe um debate sobre o Brexit junto com todas as outras questões, um debate muito amplo em que você pode escolher o time que irá fazer a negociação”, afirmou. Ele acredita que é extremamente possível que o governo peça um adiamento do processo de saída, previsto para ser concluído em 29 de março, em 10 semanas.
Pensamento da UE
A UE está disposta a alterar o acordo negociado por dois anos com o Reino Unido, se os britânicos mudarem as suas principais demandas, avisou ao Parlamento Europeu nesta quarta o chefe de negócios da UE, Michel Barnier. Ele defendeu o acordo com May e afirmou que o risco de uma saída abrupta é maior do que nunca.
Segundo ele, o único jeito de Londres aceitar um alinhamento com Bruxelas seria acertar uma relação comercial muito próxima entre os blocos. Por exemplo, Londres poderia abandonar a sua determinação de sair da alfândega comum e do mercado comum.
“Se o Reino Unido escolher por abandonar suas principais exigências no futuro, e aproveitar esta escolha para tirar proveito da ambição de ir além de um acordo de comércio livre simples, então a União Europeia estaria pronta imediatamente para … responder favoravelmente”, sinalizou Barnier.
Já na França, um funcionário do alto escalão da presidência afirmou que a Europa não fará concessões que possam danificar a essência da UE, incluindo a integridade do mercado único.
De acordo com a fonte, que falou sob condição de anonimato, qualquer pedido de extensão do prazo do Brexit deverá vir com um novo plano e estratégia do governo britânico. Ele acrescentou que “ninguém acredita” que a EU será “fraca e febril”. “E eu não acho que a Theresa May acredita nisso”, completou.
Já a chanceler alemã, Angela Merkel, é mais otimista. De acordo com a líder alemã, que lamentou a decisão do Parlamento britânico na terça-feira, ainda há tempo para negociações. “É claro que nós iremos fazer de tudo para achar uma solução razoável, mas estamos nos preparando para nenhuma solução”, declarou a premiê nesta quarta a repórteres em Berlim.