Para equipe, ideia de embaixada em Israel deixa Bolsonaro refém
Presidente voltou a dizer que poderia mudar representação diplomática em Israel para Jerusalém, mas possibilidade é considerada remotíssima
atualizado
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Enviado especial a Riade (Arábia Saudita) – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) já foi plenamente convencido de que a ideia de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém traria incalculáveis prejuízos para o nosso país, mas nunca poderá descartar publicamente a ideia, analisam membros de sua equipe ouvidos pelo Metrópoles.
Frustrando a expectativa de negociadores do Ministério das Relações Exteriores, que costuraram por meses o giro árabe que o presidente está realizando, Bolsonaro voltou a falar nessa possibilidade na passagem pelo Catar, na segunda-feira (28/10/2019):
“No Brasil, são quase 40% de evangélicos, que querem essa mudança da embaixada. Acho que, mais cedo ou mais tarde, pode acontecer a transferência”, disse.
Para um integrante do círculo do presidente, trata-se de uma estratégia para não perder o apoio da militância religiosa. “Você vê que é uma frase cheia de condicionais. ‘Acho que’, ‘pode acontecer’. Não tem absolutamente nada de concreto”, disse uma autoridade próxima ao presidente na condição de anonimato.
“Tem que observar cada frase pelo contexto. Ver para quem ele está passando o recado”, afirma outro membro do governo. “Internamente, todo mundo sabe que não tem a menor condição, colocaria a perder, por exemplo, todo este esforço que está sendo feito aqui [na viagem], que está sendo super positiva”, complementa outro servidor graduado, sem se identificar.
A avaliação interna é que a ideia só poderia voltar a ganhar força se o governo entrar em uma crise sem precedentes e perder grande parcela do apoio popular, o que não está no radar segundo as pessoas consultadas.
Um fator imprevisível, porém, é o tamanho que o tema pode ganhar quando estiver se aproximando a campanha presidencial de 2022, caso Bolsonaro (que, na imagem em destaque aparece em sua audiência desta terça com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman) seja candidato à reeleição, como vem indicando.
“Ou seja, ele sempre será refém dessa promessa, e nos levar junto”, avalia uma das fontes ouvidas pela reportagem.