Mídia de Israel destaca “recuo” de Bolsonaro na mudança da embaixada
Dias antes da chegada do presidente brasileiro, essa foi a principal citação ao seu nome nos maiores jornais locais
atualizado
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Enviado especial a Jerusalém (Israel) – Dois dias antes da sua chegada em Israel, prevista para o próximo domingo (31/3), as principais referências na mídia local à visita do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL), noticiam o seu suposto recuo na promessa de campanha de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Em tom de questionamento, os periódicos destacam que ainda há resistências internas no Brasil quanto à alteração, inclusive das forças armadas.
Na quinta-feira (28), o presidente disse que o país deve abrir um escritório de negócios em Jerusalém. A Embaixada do Brasil em Israel está localizada em Tel Aviv e, na campanha, Bolsonaro disse que tinha planos para transferi-la para Jerusalém. “Talvez a gente abra um escritório de negócios”, reformulou o capitão da reserva.
O movimento é parecido com o do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que, depois de flertar com a ideia de transferir a embaixada, anunciou há uma semana apenas um escritório de negócios em Jerusalém. Outros países, como Romênia, Lituânia e Eslováquia já demonstraram interesse em mudar a embaixada. Até o momento, porém, os únicos dois países que de fato efetivaram a troca foram os Estados Unidos e a Guatemala.
Jerusalém é considerada uma cidade sagrada para as principais religiões monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo. Por isso, ao oficializar a cidade como capital do país judaico, o Brasil entraria em conflito com nações muçulmanas, que não reconhecem a definição.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro defendeu a mudança de localização da representação diplomática brasileira em Israel. Nesta quinta, porém, ele destacou que o presidente Donald Trump, com quem se reuniu recentemente, levou aproximadamente nove meses para efetuar a alteração.
O jornal Haaretz informa que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tinha “alta expectativa” que o brasileiro anunciasse formalmente a mudança na embaixada. No próximo dia 9 de abril, Israel terá eleições gerais e o atual mandatário é candidato a permanecer no cargo. A mudança poderia sinalizar apoio político internacional ao líder.
O jornal Jerusalem Post destacou, na reportagem, que setores importantes de apoio ao presidente são contrários à mudança. Entre eles os produtores de carne, que temem perder o mercado árabe – um dos mais importantes para a área em todo o mundo – e os militares. Dois dias antes, citando uma fonte do governo local, o mesmo jornal havia destacado a dificuldade em efetuar a alteração.
“Há muitos elementos no Brasil [contrários], incluindo oficiais do exército. Além disso, muitos países expressaram a sua oposição à mudança, incluindo países árabes, que ameaçaram o Brasil que reações seriam tomadas se a mudança fosse feita”, destacou. O vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), afirmou que “por ora” a mudança não será feita.