Indulto concedido a Alberto Fujimori agrava crise no Peru
Decisão de Kuczynski provoca protestos de parentes das vítimas dos esquadrões da morte do Exército e renúncia de deputado governista
atualizado
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A decisão do presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, de conceder indulto humanitário a Alberto Fujimori – três dias depois de escapar da destituição graças ao apoio de um dos filhos do ex-presidente – provocou protestos de parentes de vítimas dos abusos ocorridos na gestão do ex-líder, condenado a 25 anos de prisão por abuso de poder e crimes contra a humanidade, e deve agravar a crise política peruana.
Em Lima, houve confrontos entre a polícia e mais de 200 jovens que tentaram realizar uma marcha de protesto até o Palácio do Governo. Os manifestantes carregavam fotos de algumas das vítimas da repressão do regime de Fujimori. Estima-se que o perdão provocará mudanças no gabinete ministerial de Kuczynski, cujo partido Peruanos Por El Kambio, minoria no Parlamento, está ainda mais enfraquecido pela deserção de um de seus legisladores.
Abstenções
Na votação de quinta-feira (21/12) sobre a destituição de PPK, como é conhecido o presidente, a abstenção de Kenji e outros nove deputados do partido fujimorista Fuerza Popular evitou que o presidente deixasse o cargo. O filho de Fujimori foi contrário à orientação da legenda, comandada por sua irmã, Keiko, que queria tirar Kuczynski do poder. Deputados do partido, favoráveis e contrários à decisão de Kenji, atribuíram as abstenções a um acordo pela libertação do ex-presidente.
Nesta segunda-feira (25), Keiko também agradeceu. “Hoje é um grande dia para a minha família e para o fujimorismo. Finalmente, meu pai está livre. Esse será um Natal de esperança e felicidade!!!”, escreveu a líder do partido Força Popular, nas redes sociais.
Kuczynski, no entanto, atribui o indulto exclusivamente a razões humanitárias. “O presidente da república, no uso das atribuições conferidas a ele pela Constituição Política do Peru para tais fins, decidiu conceder um indulto humanitário ao sr. Alberto Fujimori e a outras sete pessoas que se encontram em condições semelhantes”, afirmou a presidência em um comunicado.
Fujimori foi examinado no dia 17 por uma junta médica que o avaliou na sede da Direção de Operações Especiais da polícia, onde estava preso desde 2007. A junta determinou que Fujimori sofre de uma doença progressiva, degenerativa e incurável e as condições carcerárias significam um sério risco para sua vida, saúde e integridade.
Além do indulto, Kuczynski concedeu a Fujimori a graça presidencial “para todos os processos penais até a data que se encontram vigentes”. Com isso, Fujimori se salva de ser processado e julgado pelo caso Pativilca, no qual o ex-governante é acusado de ser responsável pelo massacre de seis pessoas em 1992 a cargo do grupo militar Colina.
Críticas. O indulto provocou o protesto das famílias de 25 vítimas assassinadas por esquadrões da morte do Exército durante o regime de Fujimori. Esse caso foi o que acabou levando Fujimori à prisão, após ser condenado como responsável pelos homicídios.
“Se você, sr. presidente, perdoar Fujimori sem o devido processo e sem uma junta médica imparcial, está viciando este processo e atropelando o direito das famílias à justiça”, escreveu Gisella Ortiz no Twitter.