Forte nas cidades, Macron ganha apoio de rivais contra Le Pen
Números mostram França dividida: um urbano, que votou no candidato pró-globalização, e outro de regiões desindustrializadas
atualizado
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Um dia depois da eleição que definiu o duelo do segundo turno, Emmanuel Macron e Marine Le Pen lançaram-se à campanha pelo voto em 7 de maio. No país que fundou a oposição entre direita e esquerda, a disputa agora será entre militantes pró-União Europeia e os nacionalistas. Os números mostram um país dividido: um urbano, que votou no candidato pró-globalização, e outro de pequenas cidades e regiões desindustrializadas.
O resultado final do primeiro turno foi divulgado no início da noite desta segunda-feira (24/4). Macron, do partido En Marche! (Em Movimento!, social-liberal, de Terceira Via), somou 24,01% dos votos, uma vantagem maior do que a prevista sobre Marine Le Pen, da legenda de extrema direita Frente Nacional (FN), com 21,3%.
Em terceiro lugar chegou o conservador François Fillon, do partido Republicanos, que reuniu 20,01% dos votos — quase superando a nacionalista. Completou o quarteto o radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, que somou 19,58%. Distante do pelotão de frente ficou Benoit Hamon, do Partido Socialista (PS), com 6,36% (o pior resultado da legenda desde o fim dos anos 60).Para comemorar a vitória parcial, Macron reuniu a família e apoiadores mais próximos em um restaurante do bairro de Montparnasse — com menu (entrada, prato principal e sobremesa) a € 44, nada excessivo em valores parisienses.
As imagens, entretanto, foram duramente criticadas nas redes sociais por integrantes da Frente Nacional e pela nova oposição de esquerda, que acusaram o vencedor de arrogância e esnobismo.
Na saída, Macron demonstrou insatisfação com a repercussão negativa. “ Eu não tenho lições a receber da elitezinha parisiense”, disse, irritado. Surfando na polêmica, Marine Le Pen visitou uma feira popular pela manhã, em Roubaix, no norte.
Apoios
Mas o dia seguinte ao primeiro turno não foi só positivo para a candidata nacionalista. Ao longo de todo o dia, Macron recebeu apoios incondicionais para o segundo turno. Pela manhã, o escritório nacional do PS pediu o voto no candidato social-liberal. “Essa tomada de posição foi unânime, o que é raro o suficiente para eu mencionar”, afirmou o secretário-geral do partido, Jean-Christophe Cambadélis.
Horas depois, foi a vez o presidente François Hollande, de quem Macron foi conselheiro político e ministro da Economia, declarar voto por seu ex-pupilo. “Frente ao risco, não é possível se calar ou se refugiar na indiferença”, argumentou. “Votarei Macron.”
À direita, a situação é mais complexa. A direção dos republicanos optou por defender o voto “contra Le Pen”, mas parte dos líderes do partido e o movimento ultraconservador cristão Senso Comum, a ala mais à direita da legenda, rejeitou aderir à posição. Alain Juppé, ex-primeiro-ministro e um dos líderes da sigla, foi o mais enfático e pediu votos a Macron, desejando-lhe que seja firme nas reformas que pretende fazer.
Frente à onda de adesões a seu adversário, Marine Le Pen ironizou afirmando que o sistema se reúne em torno de Macron. “Nós podemos ganhar”, argumentou. “Nós vamos ganhar.”
Duas Franças
O resultado nacional, entretanto, mostra apenas a divisão entre as novas e velhas forças políticas, e não as diferenças entre o eleitorado dos dois finalistas. Em termos de regiões, Macron saiu vencedor em sete, de um total de 13, incluindo Ile-de-France, onde se localiza Paris. Na capital, o ex-ministro obteve 34,8% dos votos e Marine Le Pen, 4,99%.
Já nacionalista levou a melhor no norte e nordeste e no sul e sudeste da França. A primeira é uma antiga região operária e industrial que sente os efeitos da globalização, enquanto a segunda uma região mediterrânea que enfrenta a pressão imigratória.
Mais detalhes sobre as diferenças entre os dois eleitorados vieram de uma pesquisa realizada pelo instituto Ipsos — que acertou em cheio sua boca de urna. A sondagem mostra que Marine Le Pen venceu entre operários, reunindo 37% de seus votos. Esse perfil de eleitor é o que demonstra maior adesão ao populismo, seja de direita ou de esquerda, já que em segundo lugar ficou Jean-Luc Mélenchon, com 24%.
Macron fez apenas 12% dos votos entre esse público. Entre desempregados, Mélenchon foi o primeiro, com 36% das preferências, contra 21% de Marine Le Pen, em segundo. Mais uma vez Macron — que prega a flexibilização e um controle mais estreito do seguro-desemprego — foi mal entre esse público, com apenas 14% de apoio.
A situação se inverte quando se trata de trabalhadores independentes e profissionais liberais. O vencedor do primeiro turno obteve ótimo resultado entre executivos de empresas de médio e alto escalões, mobilizando 33% desse eleitorado — só atrás de Fillon, que reuniu 36% desses votos.
A pesquisa mostra ainda que a percepção do futuro foi decisiva para a definição do voto. Pessoas pessimistas com o futuro profissional, em razão do declínio de suas atividades, tendem a votar em Le Pen (30%). Pessoas que trabalham em setores da economia em expansão optam por Macron — 27%. Seguindo a lógica, a renda também foi fator decisivo: quem ganha menos optou pelos extremos políticos.