Entrada do Brasil na OCDE vai demorar, apostam analistas
Especialistas acreditam que aposta da diplomacia brasileira em apoio real dos EUA é “inocente” e que processo de ingresso é complicado
atualizado
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Após o Brasil ficar de fora das indicações para ingresso imediato na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o governo brasileiro tem afirmado que é apenas uma questão de tempo passar a integrar o grupo de países ricos e em desenvolvimento que compartilham políticas públicas, da economia ao meio ambiente. Especialistas consultados pelo Metrópoles avaliam, entretanto, que o processo de entrada pode ser muito mais lento do que faz parecer o alto escalão da administração Bolsonaro.
Não há uma “janela” para outros nomes, tampouco uma periodicidade para as convocações, explica o analista político Creomar de Souza, fundador da consultoria Dharma Politics. “Os pedidos têm que ser referendados pelos membros da OCDE ou podem ocorrer convites. O Brasil tem demonstrado vontade, mas depende da percepção de outros atores políticos”, sustentou.
O Brasil solicitou formalmente a entrada no grupo em maio de 2017, ainda no governo de Michel Temer. Desde então, tem procurado adotar medidas para estar no foco dos membros da OCDE. Uma das iniciativas do governo brasileiro, por exemplo, foi aumentar de 600 milhões para 750 milhões de litros a cota para importações anuais de etanol dos Estados Unidos sem tarifa.
“A OCDE estabelece parâmetros rígidos em qualidade de politica públicas, regulação, liberdade econômica, e o Brasil não é visto ainda como um ator integrado nas cadeias globais de valor. O Brasil é percebido como um país protecionista e pode complicar nesse processo”, complementa Souza.
O país deixou de receber o apoio rápido que esperava do presidente dos EUA, Donald Trump, que optou por pleitear as vagas para a Argentina e a Romênia. Ele havia dito em março deste ano, publicamente, que endossaria a entrada do Brasil no grupo. Na tarde desta quinta-feira (10/10/2019), a Embaixada dos EUA no Brasil emitiu uma nota em que, ao mesmo tempo que reafirmava o apoio à pretensão brasileira, deixava evidente que esse é um suporte ainda mais teórico que prático. A representação norte-americana afirmou que a expansão da OCDE deve ocorrer em “ritmo controlado” – sem explicar o que isso significaria concretamente.
O economista e analista político Carlo Barbieri, presidente do Oxford Group, consultoria de negócios para brasileiros nos EUA, avalia que o governo tem uma “postura inocente” em relação ao país norte-americano. Segundo Barbieri, a visão do Ministério de Relações Exteriores e da Cúpula de Comércio Exterior “está defasada”.
Para o especialista, não há “experiência suficiente” para que entendam que “uma coisa é promessa de campanha ou uma conversa de presidentes, e outra completamente diferente é a realidade após as negociações”. “Essa indicação não saiu agora e não vai sair a curto prazo esse apoio”, reforçou.
O governo precisa começar a adotar uma política de “ganha-ganha”, justifica Barbieri. “Empresários brasileiros, por exemplo, já adotam isso nos EUA para prosperar e oferecer algo de volta ao país. Vimos concessões da base de Alcântara e o aumento do limite de importação do etanol livre de tributos, sem que isso gerasse contrapartidas efetivas”.
A pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV IBRE Lia Valls comenta que para o Brasil não é prioridade para o governo americano. “As pautas são diferentes”, comentou. “Esse apoio é muito genérico. Os EUA, sozinhos, não vão decidir isso”, completou. Há, ainda, o fato de que os membros da OCDE não querem “um alargamento” dos países-membros de repente.