Eleição de senador no Alabama é pautada por denúncia de crimes sexuais
Nacionalizada, disputa coloca em xeque força de Trump e de onda feminista
atualizado
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Acontece, nesta sexta-feira (12/12) no Alabama, uma eleição especial para escolha de senador. No estado, normalmente, os republicanos ganham com facilidade. Seu candidato, porém, é Roy Moore, um ex-juiz conservador acusado por várias mulheres de manter relações sexuais com elas quando ainda eram adolescentes. No caso de uma, aos 14 anos. O presidente Donald Trump preparou uma gravação convocando eleitores, mas as pesquisas são inconclusivas. Seu adversário, o democrata Doug Jones, se põe particularmente à esquerda para os padrões do Alabama. A informação é do jornal O Globo.
Ultimamente, tanto Trump como Obama participaram da disputa, em mensagens gravadas aos eleitores do estado. O democrata pedindo o voto pelo futuro das pessoas e Trump afirmando que votar em Moore é votar em sua agenda, em itens como ser contra o aborto. O Alabama não elege um senador democrata há 25 anos. A simples possibilidade de um giro no local, e as denúncias de assédio, criaram um ambiente novo.Enquanto eleitores democratas em todo o país cobram do partido a expulsão de parlamentares suspeitos de assédio em relação a mulheres adultas, os republicanos vêm mostrando ambivalência no caso de Moore — acusado de pedofilia.
“Mesmo antes de saber o resultado, esta eleição mostra o que está se tornando o Partido Republicano, cada vez mais nativista, ultraconservador e dominado por evangélicos radicais. Isso vai ter um custo para o partido”, afirmou Juan Carlos Hidalgo, analista de políticas do Cato Institute. “Uma vitória democrata será um golaço para as eleições de 2018. Já a vitória de Moore vai gerar novos problemas, pois já se fala, inclusive entre republicanos, de tentar impedir que ele tome posse, com ações no comitê de ética do Senado”.
Segundo a reportagem, a eleição é especial pois ela visa substituir Jeff Sessions, que trocou seu cargo pelo posto de procurador-geral de Trump. No estado onde Donald Trump obteve 28 pontos de vantagem sobre Hillary Clinton no ano passado, especialistas tinham como certo que o assento continuaria com o Partido Republicano, e que o mais importante foram as primárias, onde o apoiado pelo presidente perdeu a vaga para Roy Moore, considerado um dos mais radicais da direita americana.
Previsões embaralhadas
Todas as pesquisas indicavam uma vitória folgada de Moore, até que, no começo de novembro, o “Washington Post” publicou uma denúncia de uma mulher, que afirmara ter sofrido assédio sexual de Moore há 30 anos. Outras denúncias vieram, inclusive com relatos de que ele teria abusado sexualmente de menores.
O escândalo ocorreu ainda no meio da onda de denúncias de assédio sexual de Hollywood, que cresceu em todos os Estados Unidos com o movimento #metoo (eu também), que incentivou casos novas denúncias em todo o país. Em um primeiro momento, o democrata Doug Jones ultrapassou Moore nas pesquisas mas, depois que Trump deu seu aval ao republicano, os levantamentos voltaram a mostrá-lo na dianteira. Nas últimas horas, pesquisas desencontradas, algumas com 10 pontos de vantagem para Jones, outras com nove pontos de diferença pró-Moore, embaralharam as previsões.
De acordo com o texto, assim, a eleição de Moore, em um primeiro momento, vai colocar em xeque a força republicana no estado, conservador e religioso, diante de tantas denúncias graves. Uma vitória de Moore seria uma conquista de Trump. Para o presidente, este resultado é importante por garantir a maioria de 52 cadeiras no Senado.
A margem já apertada do partido tem se mostrado, muitas vezes, infiel: projetos importantes para o presidente não passaram, como na revogação do Obamacare (sistema de saúde criado pelo democrata) e a reforma tributária só foi adiante com um voto a mais que o mínimo necessário. Se perder este assento, as corriqueiras traições de sua base tendem a ter força ainda maior.
Para os democratas, além de conquistar um importante posto em um estado tradicionalmente republicano, a vitória de Jones indicaria um caminho que poderia ser seguido nas eleições de novembro do próximo ano, quando o partido sonha em crescer e recuperar a maioria em ao menos uma das duas casas do Congresso.
O Globo afirma que, a vitória do republicano, segundo analistas, não seria tão ruim para o partido. Primeiro porque Moore será uma fonte de conflitos dentro da legenda — a ponto do outro senador do Alabama, Richard Shelby, ter anunciado que não votou no correligionário. E faria com que os republicanos tivessem o ônus de ter em suas fileiras alguém com tamanha acusação. Neste sentido, a renúncia na semana passada do senador democrata Al Franken, também acusado de assédio sexual, conferiu uma bandeira contra a tolerância e este tipo de crime na legenda, que pode conquistar importantes votos de moderados.
“Você será perguntado 10 mil vezes sobre o que pensa de Roy Moore. O resultado definirá as eleições de 2018. Não dá para eleger Roy Moore sem ter que carregar seu peso nas eleições do ano que vem, isso é ingênuo”, afirmou o senador republicano Lindsey Graham, um dos maiores críticos a Trump dentro do partido, na segunda-feira (11).
As urnas serão fechadas às 19 horas no Alabama (23 horas no Brasil). Não há previsão de quando será divulgado o resultado final.