Chanceler venezuelano rebate Bolsonaro sobre oxigênio: “Obrigação moral”
Jorge Arreaza se mostrou espantado com as declarações do presidente de que o socorro aos hospitais em Manaus não é atribuição do governo
atualizado
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O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, usou suas redes sociais para rebater a fala do presidente Jair Bolsonaro de que o governo federal não tem a atribuição de levar oxigênio ao Amazonas, estado que, vive nas últimas semanas um colapso no sistema de saúde e onde muitas pessoas infectadas com o novo coronavírus morreram devido à falta de cilindros nos hospitais.
Arreaza demonstrou espanto com a fala do brasileiro e informou que o governo venezuelano continuará socorrendo hospitais no Amazonas: “É nossa obrigação moral e humana”, disse o chanceler por meio de sua conta no Twitter.
“Incrível…! Enquanto isso, por instruções expressas do Presidente @NicolasMaduro da Venezuela, continuaremos enviando oxigênio para os estados de Amazonas e Roraima. É nossa obrigação moral e humana.”
¡Increíble…! 😲
Mientras tanto, por instrucciones expresas del Presidente @NicolasMaduro, desde Venezuela seguiremos enviando oxígeno a los estados de Amazonas y Roraima.
Es nuestra obligación moral y humana. 🇧🇷 🇻🇪 https://t.co/Y6nmsMGeuB— Jorge Arreaza M (@jaarreaza) January 30, 2021
O presidente Jair Bolsonaro disse, neste sábado (30/1), que “não é competência” e “nem atribuição” do governo federal levar oxigênio para o Amazonas, que sofre com a falta do insumo para atender pacientes da Covid-19. Bolsonaro elogiou ainda a atuação do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, dizendo que “não há omissão” diante da crise.
A fala do presidente ocorreu durante uma saída do Palácio da Alvorada na manhã deste sábado (30/1), quando ele visitou uma loja de motos, próxima à feira dos Importados, em Brasília. O estabelecimento é o mesmo no qual ele comprou uma moto em 2019.
“Não é competência nossa e nem atribuição levar o oxigênio pra lá, demos os meios”, disse Bolsonaro.
O presidente comentava a decisão do procurador-geral da República, Augusto Aras, de pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar a conduta do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na crise sanitária do Amazonas após analisar representação do partido Cidadania.
“Trabalho excepcional do Pazuello, tremendo gestor. Pode investigar o Pazuello, não tem omissão. Duvido que com outra pessoa teria tido outra resposta. Quando ele ficou sabendo (sobre a situação em Manaus), em três dias fez o oxigênio chegar lá e a transportar o pessoal doente para outros estados. Ele faz tudo que é possível. Não temos nada a temer na investigação”, declarou Bolsonaro.
Inquérito
Por determinação do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal abriu inquérito na sexta-feira (29/1) para investigar a conduta de Pazuello na crise sanitária do Amazonas.
A investigação vai tramitar no Serviço de Inquéritos Especiais (Sinq) da PF, porque Pazuello, na condição de ministro, tem foro privilegiado.
A autorização para a abertura da investigação sobre a conduta do ministro foi dada na última segunda-feira (25/1).
Caos no Amazonas
Manaus tem vivido semanas de caos na saúde pública, em decorrência da explosão no número de casos de Covid-19. Houve falta de oxigênio nas unidades de saúde, levando à morte pacientes que necessitavam de tratamento hospitalar para a doença.
No pedido de abertura do inquérito a PGR afirma que o Ministério da Saúde recebeu informações sobre um possível colapso do sistema de saúde na capital do Amazonas ainda em dezembro. Entretanto, só enviou representantes ao estado em janeiro deste ano. A denúncia aponta indícios de atraso no envio efetivo de oxigênio hospitalar aos municípios do estado.
Além disso, dentre as providências adotadas pelo governo e relatadas ao STF, está o envio de 120 mil unidades de hidroxicloroquina, fármaco apontado pelo governo como medicamento para tratar a Covid-19. Os efeitos dessa substância contra a Covid-19 não são reconhecidos cientificamente.
Ao relatar a necessidade da investigação, Aras classificou como “gravíssimos” os fatos imputados ao ministro. “Considerando que a possível intempestividade nas ações do representado, o ministro Eduardo Pazuello, o qual tinha dever legal e possibilidade de agir para mitigar os resultados, pode caracterizar omissão passível de responsabilização cível, administrativa e/ou criminal”, diz Aras na denúncia aceita pelo STF.