Buscando evitar política, Bolsonaro inicia visita a países árabes
Presidente chega a Abu Dhabi neste sábado (26/10/2019) e tentará se esquivar de polêmicas relacionadas a Israel
atualizado
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Enviado especial a Abu Dhabi — Após visitar Japão e China, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) chega neste sábado (26/10/2019) a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, acompanhado por comitiva de ministros, parlamentares e empresários. O presidente chega com o discurso de fazer negócios e não política. Entretanto, a viagem — costurada pelo Itamaraty desde o início do ano — tem também o objetivo de desfazer o mal-estar que o forte alinhamento do Brasil com Israel desde a posse de Bolsonaro causou.
Na perseguição desse objetivo, o Ministério das Relações Exteriores se esforça para mostrar que a ideia de mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, propósito que incomoda o mundo árabe, está descartada.
“A decisão tomada é de abrir o escritório de negócios em Jerusalém”, disse o diplomata e secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Kenneth Félix da Nóbrega, há poucas semanas, em Brasília, durante a preparação para a viagem.
“Sabemos que há visões nem sempre convergentes no governo, há os interesses do agronegócio e a questão religiosa. No encontro dessas visões, o governo foi sensível a uma solução no meio do caminho”, considerou Nóbrega.
Em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos, há bandeiras do Brasil nas avenidas, esperando para saudar a chegada da delegação brasileira. A imprensa local concede ampla cobertura para a visita (imagem em destaque), em suas versões em árabe e em inglês. O foco é nas possibilidades comerciais.
Entrevista
A agência oficial de notícias do país entrevistou o embaixador do Brasil no país, Fernando Luís Lemos Igreja, e tratou das possibilidades de acordos comerciais e do fato de cerca de 10 mil brasileiros viverem por aqui. No número estão incluídos 1.600 instrutores de jiu jitsu — febre na rica monarquia árabe.
A polêmica sobre a embaixada não aparece nos relatos da mídia local. Porém, é importante lembrar que não há liberdade de imprensa nos Emirados Árabes Unidos, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras.
A programação de Bolsonaro neste sábado tem apenas uma cerimônia no Monumento aos Mártires da Pátria, no fim da tarde (horário local). O principal evento será no domingo (27/10/2019): o Seminário Empresarial Brasil-Emirados Árabes Unidos.
O presidente também visitará o palácio de governo e tem um encontro privado marcado com o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, xeque Mohamed bin Zayed Al Nahyan.
Negócios
O presidente chega a esse giro pelo golfo árabe com o objetivo declarado de buscar negócios para o Brasil. Na saída da China, o presidente buscou evitar polêmica sobre o tema, pano de fundo para essa visita: “Os países árabes também estão se alinhando a Israel. Os Estados Unidos são um catalisador positivo nisso aí. Mas a minha viagem não é política, é comercial”, disse Bolsonaro, na última sexta (25/10/2019).
Nos Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita, o presidente e a comitiva de ministros, parlamentares e assessores vão tentar atrair investimentos para projetos do Plano de Parcerias de Investimento (PPI), uma série de concessões e privatizações. Apesar da expectativa, porém, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não veio para o golfo árabe.
O agronegócio também está na agenda, mas o foco principal, além da atração de investimentos dos fundos bilionários da região, é buscar negócios na área de defesa. O Brasil quer vender aos árabes o recém-lançado avião de transporte militar KC-390, da Embraer (que está sendo comprada pela americana Boeing por US$ 4,2 bilhões).
De acordo com o secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, as possibilidades vão além do avião, “mas negócios na área de defesa não são divulgados abertamente antes de estarem perto da conclusão, por questões estratégicas”, disse Félix da Nóbrega, em entrevista em Brasil.