Biden x Bolsonaro: relembre histórico de farpas entre os dois líderes
Os presidentes de Brasil e EUA se reúnem nesta quinta (9/6), em Los Angeles, para uma reunião bilateral paralela à 9ª Cúpula das Américas
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou nesta quinta-feira (9/6) aos Estados Unidos com a expectativa de ganhar uma foto ao lado do presidente norte-americano, Joe Biden, e, assim, mostrar ao mundo que não está isolado no cenário internacional.
A ida de Bolsonaro a Los Angeles é para participar da 9ª Cúpula das Américas, em edição organizada pelos EUA com a intenção de manter a influência na região, num momento em que o país enfrenta embaraços no Oriente Médio. Além disso, a potência mundial demonstra preocupação com as investidas comerciais da China no continente.
Bolsonaro estava reticente acerca da participação no evento e tinha decidido não viajar para se concentrar em questões domésticas. Para convencê-lo a comparecer, e preocupado com um possível esvaziamento da cúpula, Biden escalou um enviado especial, o ex-senador Christopher Dodd, que fez uma visita pessoal a Bolsonaro no Palácio do Planalto.
O chefe do Executivo federal aceitou participar do evento após ser oferecida a ele uma reunião bilateral com a contraparte americana, que deve ocorrer nesta quinta, após a abertura da sessão plenária. O colunista do Metrópoles Igor Gadelha apurou que Bolsonaro foi convencido a participar após sinalização dada por Biden de que pretende falar, no encontro bilateral, sobre fertilizantes, combustíveis e inflação global, problemas que afetam os dois países e que estão na pauta eleitoral do presidente brasileiro.
A reunião dos dois líderes deve ser marcada por alguns constrangimentos diplomáticos, dada a distância ideológica da dupla e os ataques mútuos. O governo dos EUA tenta neutralizar a situação, dizendo que a relação entre os dois países é baseada em instituições, não em personalidades.
Bolsonaro troca rusgas com Biden desde a campanha eleitoral americana de 2020, que alçou o ex-vice-presidente à Casa Branca. Veja abaixo os principais pontos em que os dois já divergiram:
Eleições
Admirador declarado de Donald Trump e adepto da tese de que houve fraude nas eleições americanas, Bolsonaro expressou sua preferência pela reeleição do então presidente republicano.
Após as apurações dos votos, sem provas, ele disse que o pleito norte-americano foi fraudulento. “Minhas fontes de informações dizem que realmente teve muita fraude lá, isso ninguém discute”, disse Bolsonaro.
Insatisfeito com o resultado, Bolsonaro foi o último líder global do mundo democrático a parabenizar Biden por sua vitória. Em comunicado divulgado pelo Itamaraty, ele disse estar pronto para trabalhar com o novo governo e disposto a dar “continuidade à construção de uma aliança Brasil-EUA”.
Amazônia
Em setembro de 2020, durante a campanha, Biden disse que, no seu governo, os EUA aportariam US$ 20 bilhões para ajudar o Brasil na conservação do meio ambiente. E disse qual seria a contrapartida dos brasileiros: “Parem de destruir a floresta ou enfrentarão consequências econômicas significativas”.
“As florestas no Brasil estão sendo derrubadas”, disse o democrata ao debater com Trump a questão climática e ambiental. Em resposta, Bolsonaro classificou como “lamentável” a proposta e reforçou a soberania brasileira.
Com Biden já na Presidência dos EUA, Bolsonaro disse que o norte-americano tem “quase uma obsessão pela questão ambiental” e isso atrapalha a relação entre os dois países.
Em maio deste ano, o presidente brasileiro declarou que Biden e líderes da França, Emmanuel Macron, do Canadá, Justin Trudeau, e do Reino Unido, Boris Johson, estão “o tempo todo fustigando” o Brasil pela gestão sobre o território amazônico.
Ataques pessoais
As críticas de Bolsonaro a Biden alcançaram até questionamentos sobre a saúde mental do democrata. Ao relator encontro do G20, em outubro de 2021, Bolsonaro disse:
“Encontrei ele no G20, ele passou como se eu não existisse. Mas foi com todo mundo por parte do Biden, não sei se é a idade, não sei o que é”, insinuou Bolsonaro, em conversa com jornalistas na última quinta-feira (26/5).
Biden e Bolsonaro nunca se falaram, nem mesmo por telefone. Enquanto isso, Biden já estabeleceu relações com outros líderes do continente americano, como o argentino Alberto Fernández.
Em fevereiro, a poucos dias da invasão da Ucrânia pela Rússia, Bolsonaro foi recebido no Kremlin pelo líder russo, Vladimir Putin, ocasião em que, diz ele, garintiu o suprimento de fertilizantes para o Brasil.
O jornal The New York Times reportou que a viagem do presidente Bolsonaro à Rússia ocorreu dias depois de o brasileiro ter cobrado de autoridades norte-americanas um convite para visita ou ao menos um telefonema do presidente Joe Biden. Segundo a reportagem, brasileiro teria alertado que, se não recebesse o contato, buscaria se reunir com um líder de outra potência.
Congelamento da relação
Enquanto os EUA frisam a relevância regional do Brasil e destacam a tradição de bom relacionamento entre as duas nações, Bolsonaro tem se queixado de um “congelamento” nas relações desde a chegada de Biden ao poder.
Um dia antes de embarcar, Bolsonaro disse que não seria “moldura de retrato para ninguém” e reclamou do distanciamento.
“Eu não ia ser moldura de retrato para ninguém. Tínhamos um bom relacionamento com o governo anterior, de Donald Trump. Quando Joe Biden assumiu, ele simplesmente congelou esse relacionamento. Não brigamos, continuamos fazendo comércio etc. Agora, um evento sem o Brasil é bastante esvaziado.”
Sobre o processo eleitoral, Bolsonaro voltou a levantar dúvidas: “Olha, quem diz é o povo americano. Não vou entrar em detalhes na soberania de outro país. Agora, o Trump estava muito bem. E muita coisa chegou para a gente, e a gente fica com o pé atrás. A gente não quer que aconteça isso no Brasil. Tem informação dos próprios brasileiros, de que teve gente que votou mais de uma vez”.