Após renúncia de Evo Morales, Bolívia vive vácuo de poder
A Constituição prevê que a sucessão começa com vice-presidente, passa pelo titular do Senado e depois da Câmara, mas todos deixaram o cargo
atualizado
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A renúncia de Evo Morales, após três semanas de protestos contra sua reeleição e depois de perder o apoio das Forças Armadas, deixa um vácuo de poder na Bolívia, onde no momento ninguém sabe quem comanda o país. A Constituição prevê que a sucessão começa com o vice-presidente, depois passa para o titular do Senado e depois para o presidente da Câmara dos Deputados, mas todos eles renunciaram com Evo.
As renúncias do vice-presidente Álvaro García, da presidente e do vice-presidente do Senado, Adriana Salvatierra e Rubén Medinacelli, e do titular da Câmara dos Deputados, Víctor Borda, criaram uma situação de incerteza e vazio sobre a cadeia de sucessão constitucional.
Neste cenário, a segunda vice-presidente do Senado, a opositora Jeanine Añez, reivindicou o direito de assumir a presidência da Bolívia. “Ocupo a segunda vice-presidência e na ordem constitucional me corresponderia assumir este desafio com o único objetivo de convocar novas eleições”, afirmou Jeanine em uma entrevista ao canal Unitel.
Um governo de transição, insistiu ela, será para renovar o Tribunal Supremo Eleitoral e convocar eleições, em um prazo de 90 dias, segundo a Constituição.
A senadora também defendeu a convocação de sessões do Congresso bicameral, o mais rapidamente possível, “para considerar a renúncia dos primeiros mandatários”. Também é necessário – de forma prévia – uma sessão de senadores para elegê-la no cargo de presidente. Para isso, Jeanine deverá obter um “consenso dos movimentos cívicos” que pediram nas ruas a renúncia de Evo.
Evo Morales renunciou no domingo, pressionado por militares, policiais e pela oposição, que exigiram que deixasse o cargo que ocupava desde 2006 com o objetivo de pacificar o país.
“Renuncio a meu cargo de presidente para que (Carlos) Mesa e (Luis Fernando) Camacho não continuem perseguindo dirigentes sociais”, disse Evo em Cochabamba, em discurso exibido pela TV, em referência aos líderes opositores que o acusaram de fraude nas eleições de 20 de outubro.
Bolívia
A saída de Evo do poder provocou muitas comemorações, mas também violência em La Paz e outros pontos do país. O agora ex-presidente denunciou a existência de uma ordem de prisão “ilegal” contra ele, uma afirmação negada pelo chefe da polícia do país, o general Yuri Vladimir Calderón.
Ainda não está claro qual será o destino de Evo. Ele afirmou que não abandonaria a Bolívia, mas o México ofereceu asilo a ele, segundo o chanceler Marcelo Ebrard, que falou em “20 personalidades do Executivo e do Legislativo da Bolívia” refugiadas na embaixada mexicana na capital boliviana.
Confira a lista de autoridades bolivianas que renunciaram:
Antes da renúncia do presidente Evo Morales, diversas autoridades bolivianas deixaram seus cargos. Algumas relataram violência contra parentes e atos de vandalismo, de acordo com informações dos jornais La Razón e El Deber.
O presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda, e o ministro de Mineração, César Navarro, se demitiram após denunciar que suas casas foram incendiadas por vândalos mobilizados em Potosí, que, segundo eles, também colocaram em risco a vida de suas famílias.
• Evo Morales, presidente
• Álvaro García, vice-presidente
• Adriana Salvatierra, presidente do Senado
• Víctor Borda, presidente da Câmara dos Deputados
• María Eugenia Choque, presidente do Tribunal Supremo Eleitoral
• Pablo Menacho, procurador-geral
• Luis Alberto Sánchez, ministro de Hidrocarbonetos
• Luis Arce, ministro de Economia
• Mariana Prado, ministra de Planejamento
• César Navarro, ministro de Mineração
• Tito Montaño, ministro de Esportes
• Manuel Canelas, ministro de Comunicação
• Rubén Medinacelli, vice-presidente do Senado
• René Joaquino, senador
• David Ramos, deputado
• Mario Guerrero, deputado
• Carmen Almendras, vice-chanceler
• Oscar Cusicanqui, vice-ministro do Tesouro
• Marcelo Arce, vice-ministro de Turismo
• José Luis Quiroga, vice-ministro do Interior
• Wilfredo Chávez, vice-ministro de Segurança
• Iván Canelas, governador de Cochabamba
• Alex Ferrier, governador de Beni
• Juan Carlos Sejas, governador de Potosí
• Esteban Urquizo, governador de Chuquisaca
• Williams Cervantes, prefeito de Potosí
• Iván Arciénega, prefeito de Sucre
• Mario Cronenbold, prefeito de Warnes
• Gonzalo Durán, embaixador da Bolívia na França
• Natalia Campero, cônsul em Washington
• Marlene Ardaya, presidente da Alfândega Nacional
• Mario Cazón, presidente de Impostos Nacionais
• Beniana María Argene Simón, senadora
• Saúl Aguilar, prefeito de Oruro
• Orlando Careaga, senador