Aliados europeus de Bolsonaro são acusados de receber recurso de Putin
Na Itália, Alemanha, Espanha, França e Hungria, grupos de extrema direita estão sendo questionados por ligações com o Kremlin
atualizado
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Os principais aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) na Europa estão sendo acusados de receber recursos do presidente russo Vladimir Putin para campanhas eleitorais ou movimentos políticos.
Segundo o colunista do UOL Jamil Chade, grupos de extrema direita da Itália, Alemanha, Espanha, França e Hungria estão sendo alvos de críticas e questionamentos por conta de suas relações com o Kremlin.
Um deles é o ex-vice-primeiro-ministro da Itália Matteo Salvini. Bolsonaro esteve com Salvini em novembro de 2021, quando o brasileiro visitou a cidade de seus antepassados no norte da Itália.
Uma gravação revelada pelo Buzzfeed, em 2019 mostra interlocutores de Salvini articulando um acordo para canalizar secretamente dezenas de milhões de dólares do petróleo russo para o partido de Salvini, a Liga Norte.
Nos dias seguintes às revelações, o italiano negou ter recebido dinheiro dos russos. “Nunca tomei um rublo, um euro, um dólar ou um litro de vodka em financiamento da Rússia”, disse Salvini. No poder, ele tentou aproximar a Itália do presidente russo Vladimir Putin e fez várias visitas a Moscou. “Salvini tem uma atitude acolhedora em relação a nosso país”, disse o chefe do Kremlin.
Le Pen e Orbán
A candidata de extrema direita na França, Marine Le Pen, recém derrotada por Emmanuel Macron nas eleições presidenciais, também tem relações com o governo russo.
Em 2014, o partido de seu pai, Jean Marie Le Pen, conseguiu um empréstimo de 2 milhões de euros de uma empresa offshore, com sede no Chipre. Segundo uma investigação do site Mediapart, a empresa tinha relações com um ex-agente da KGB ligado a oligarcas russos.
Marine Le Pen teria pedido um empréstimo para o partido de seu pai para a campanha eleitoral de 2017. Quando as leis foram revisadas e foi estabelecido que bancos não europeus não poderiam financiar campanhas eleitorais, Le Pen passou a apostar numa relação com a Hungria, uma sólida aliada de Putin no continente europeu.
Chamado por Bolsonaro de “irmão”, Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, também possui relações próximas com o Kremlin. Ele foi o primeiro líder europeu a romper com uma posição comum da União Europeia e receber Putin em Budapeste, depois da anexação da Crimeia, em 2014.
Naquele mesmo ano, seu governo escolheu a estatal russa Rosatom para renovar a única usina nuclear da Hungria, por um valor de 12,5 bilhões de euros. Para isso, os próprios russos iriam fazer um empréstimo em condições generosas de 10 bilhões de euros e que teria de ser pago em apenas 21 anos, contando a partir de 2026.
Em 2017, após bloqueios, a UE deu seu sinal verde para a obra, o que causou a indignação da oposição húngara.
Alemanha e Espanha
Outro país europeu que também registra um interesse especial de Putin é a Alemanha. O Kremlin é acusado por forças políticas de Berlim de ser um dos principais apoiadores do partido Alternativa para Alemanha (AfD, sigla em alemão), de extrema direita.
Uma das representantes do movimento, Beatrix von Storch, é neta de um dos mais importantes ministros de Adolf Hitler e foi recebida pelo presidente Jair Bolsonaro no ano passado, assim como pelos principais nomes do bolsonarismo no país. Na Europa, porém, o partido é alvo de suspeitas por suas relações com o Kremlin.
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O movimento de extrema direita na Espanha também vem sendo alvo de questionamentos. Um dos membros do Conselho da organização ultracatólica CitizenGO, Alekséi Komov, chegou a ser alvo de sanções por sua proximidade com o Kremlin.
Numa investigação, a entidade OpenDemocracy revelou como a CitizenGO é apoiado por milionários russos, com o suposto objetivo de ajudar o movimento espanhol a ganhar força para eleições.