Política alemã viajará ao Brasil em busca de mão de obra na saúde
Secretária de Saúde do estado da Saxônia e gestores de clínicas locais querem recrutar profissionais para compensar a escassez
atualizado
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A secretária de Saúde do estado alemão da Saxônia, Petra Köpping, viajará ao Brasil nesta semana com o intuito de recrutar mão de obra para reforçar as equipes médicas estaduais.
Köpping, do Partido Social-Democrata (SPD), mesma legenda do chanceler federal, Olaf Scholz, embarca na próxima terça-feira (23/1) com destino a Recife, onde deverá ficar até 28 de janeiro. Ela estará acompanhada por gestores de diversas clínicas da Saxônia.
A secretária de Saúde informou que a viagem visa abrir caminho para que principalmente instituições de saúde e hospitais menores do estado encontrem os profissionais que necessitam com tanta urgência, especialmente enfermeiros, em meio à escassez de mão de obra.
Segundo Köpping, o recrutamento de profissionais brasileiros é uma medida em que ambos os lados ganham. “O Brasil não é um país em que há prejuízo quando as pessoas vão embora. É claro que não é possível recrutar [profissionais] em países que têm seu próprio problema de escassez”, ponderou.
Entre os membros da comitiva de Köpping estarão gestores da Clínica Vamed Schloss Pulsnitz, especializada em reabilitação neurológica e neurocirúrgica. A instituição na cidade de Pulsnitz, perto de Dresden, conta com profissionais brasileiros na equipe.
Köpping afirmou que a Clínica Vamed faz esse recrutamento de estrangeiros “maravilhosamente”. “[A clínica] tem um responsável pela integração que cuida não só da integração dentro da empresa, mas também do que os especialistas estrangeiros podem fazer no seu tempo livre.”
Ultradireita condena viagem
O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) na Saxônia reagiu à viagem de Petra Köpping ao Brasil em uma nota intitulada “O que Köpping faz no Brasil? Treine profissionais alemães em vez de brasileiros!”
O texto afirma que a “viagem provavelmente custará muito dinheiro dos contribuintes”. Também põe a culpa da escassez de mão de obra na própria Köpping, que, segundo a AfD, “expulsou muitos profissionais de enfermagem do setor com sua exigência discriminatória de vacinação”.
Em 2022, a vacinação contra a covid-19 passou a ser obrigatória para profissionais de saúde da Alemanha. A medida foi aprovada pelo Parlamento alemão (Bundestag) e confirmada posteriormente pelo Tribunal Constitucional Federal do país.
Na nota, a AfD diz ainda que “milhares de ucranianos na Saxônia estão recebendo benefícios de cidadania em vez de serem incentivados pela secretária a trabalhar”. E acusa Köpping de querer aproveitar a viagem ao Brasil para fazer um “passeio agradável a trabalho”.
Autoridades alemãs têm sido categóricas ao afirmar que a contratação de profissionais estrangeiros qualificados é essencial para compensar a falta de mão de obra. “Precisamos da imigração”, disse Andrea Nahles, chefe da Agência Federal de Trabalho alemã, no ano passado, quando dados mostraram que o déficit de profissionais qualificados atingiu nível recorde no país.
A AfD tem sido alvo de intensos protestos nas ruas da Alemanha nos últimos dias justamente por sua retórica anti-imigração. São crescentes os pedidos para que o partido seja banido no país, após vir à tona que alguns de seus membros realizaram uma reunião secreta para discutir um plano de deportação de milhões de estrangeiros.
O encontro ocorreu em Potsdam em novembro e incluiu, além de membros da AfD, neonazistas e políticos de outros partidos, como a União Democrata Cristã (CDU), da ex-chanceler federal Angela Merkel, hoje a maior sigla da oposição.
Durante a reunião, um líder extremista austríaco, Martin Sellner, teria apresentado um plano para expulsar da Alemanha milhões de requerentes de refúgio e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.
O caso chocou muitos na Alemanha, num momento em que a AfD está em alta nas pesquisas eleitorais antes de três grandes eleições regionais no leste do país, onde o apoio ao partido é mais forte, incluindo no estado da Saxônia.
Escassez de mão de obra na Alemanha
A Alemanha enfrenta um problema sério de escassez de profissionais qualificados na área médica. Enquanto vem aumentando o número de habitantes que precisam de cuidados de saúde, em meio ao envelhecimento da população, encolheu o número de profissionais da área.
Em 2022, mais de 53 mil pessoas iniciaram treinamento especializado de enfermagem – 4 mil a menos do que no ano anterior, numa queda de 7%. Para cada enfermeiro desempregado da Alemanha, há atualmente três vagas à espera de candidatos, segundo dados de 2023.
Portanto existe “uma óbvia falta de profissionais de cuidados”, como define a Agência Federal de Trabalho alemã. Para piorar, a Fundação de Proteção dos Pacientes alerta que nos próximos anos se aposentam 500 mil funcionários de hospitais, clínicas e ambulatórios.
Em contrapartida, o Brasil conta com 2,5 milhões de cuidadores formados, e em 2021 a taxa de desemprego no setor era de 10%, registra o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
A situação na Saxônia, assim como a média alemã, é crítica. O número de habitantes que precisam de cuidados no estado aumentou em quase 24% entre 2019 e 2021, chegando a cerca de 311 mil pessoas. Até 2035, estima-se que esse número suba para 326 mil.
A fim de atender essa demanda, o governo estadual prevê que até 2035 será necessário contratar ao menos 5 mil profissionais em instituições de saúde.
Ministros alemães já foram ao Brasil
A viagem de Köpping ao Brasil – o principal parceiro comercial da Alemanha na América Latina – em busca de mão de obra qualificada não é pioneira.
Em junho do ano passado, os ministros alemães do Exterior, Annalena Baerbock, e do Trabalho, Hubertus Heil, já haviam ido ao Brasil como parte de uma iniciativa oficial visando trazer profissionais brasileiros da área de saúde para trabalharem na Alemanha.
À época, Baerbock declarou que enfermeiros brasileiros “já são recebidos de braços abertos na Alemanha” e que, agora, o governo federal queria “ampliar essa parceria”.
Heil, por sua vez, afirmou que àquela altura menos de 200 enfermeiros brasileiros atuavam em seu país, enquanto a Agência Federal de Trabalho planeja contratar até 700 profissionais por ano.