Para identificar possíveis terroristas, China colhe DNA de muçulmanos
Disfarçado de programa de saúde, projeto é usado para mapear possíveis radicais islâmicos
atualizado
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A ONG Human Rights Watch divulgou um relatório nesta quarta-feira (13/12), no qual acusa o governo chinês de colher amostras de DNA e dados biométricos da minoria muçulmana uigur, que vive na província ocidental de Xinjiang, como medida de segurança. Segundo a entidade, a política chinesa consiste numa grave violação de direitos humanos.
A província de Xinjiang tem sido palco há vários anos de confrontos entre a minoria uigur e a etnia majoritária han, com a ação, segundo Pequim, de grupos radicais islâmicos. A onda de violência levou à criação de um duro aparato de repressão na província, que inclui patrulhas em larga escala da polícia e restrição à manifestação religiosa e cultural.
“O cadastramento obrigatório de dados biológicos de uma população inteira é uma violação grosseira de regras internacionais de direitos humanos e é ainda mais perturbador que isso seja feito sob o disfarce de um programa de saúde”, disse a diretora da Human Rights Watch para a China Sophie Richardson.
O governo regional de Xinjiang disse em julho que o objetivo do programa era colher dados biométricos da população entre 12 e 65 anos. “Tipos sanguíneos devem ser reportados às delegacias de polícia, assim como amostras de sangue e DNA”, diz o plano. Dados de “indivíduos prioritários” – um eufemismo para suspeitos de militância islâmica – eram colhidos a despeito de critérios etários.
Negativa
O porta-voz da chancelaria chinesa, Lu Kang, disse que o relatório contém “inverdades”. O representante disse ainda que a situação geral em Xinjiang é “boa”.
O relatório traz ainda depoimentos de residentes de Xinjiang sobre a coleta biométrica. Um deles, que não se identificou, disse que ele temia ser acusado de deslealdade política se não participasse. Ele nunca recebeu os dados coletados.
A imprensa estatal chinesa, no entanto, diz que os cadastramentos eram voluntários. Segundo a agência Xinhua 18,8 milhões de pessoas receberam tratamento médico na região depois de participar da coleta de sangue e DNA. Xinjiang tem uma população de 10 milhões de muçulmanos.
Ainda no relatório da Human Rights Watch, um uigur do oeste de Xinjiang disse que a administração do vilarejo onde mora lhe obrigou a participar dos exames. No relatório, a ONG ainda alertou para o risco de autoridades chinesas ampliar para todo o país o monitoramento com base em dados biométricos e biológicos.
“As autoridades chinesas acreditam que podem alcançar a estabilidade social ao colocar as pessoas num microscópio, mas esses programas abusivos têm potencial para agravar a hostilidade com o governo”, disse Richardson.