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Palco de pequenas batalhas, internet “esquece” de guerra na Ucrânia

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles mostram por que o conflito entre ucranianos e russos tende a ocupar cada vez menos as redes

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Homem anda por rua com cachorro após ataques aéreos russos na cidade de Kalynivka, Ucrânia. os escombros soltam muita fumaça e fogo - Metrópoles
1 de 1 Homem anda por rua com cachorro após ataques aéreos russos na cidade de Kalynivka, Ucrânia. os escombros soltam muita fumaça e fogo - Metrópoles - Foto: null

O presidente russo Vladmir Putin fez com que os olhos do mundo se voltassem – de uma vez por todas – para o leste europeu ao anunciar a invasão russa na Ucrânia, no amanhecer do dia 24 de fevereiro de 2022. Além da questão separatista nas regiões de Donetsk e Luhansk, a tentativa de aproximação da Ucrânia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) já elevava a temperatura na região – e na internet – antes mesmo do início do conflito.

Dados do Google Trends mostram que a sede da internet pelo assunto crescia dias antes do início da guerra. O interesse por termos envolvendo o conflito aumentava ao mesmo tempo em que a tensão subia durante as tentativas de negociações diplomáticas entre Ucrânia e Rússia.

Alegando ser a única forma de proteger civis e de manter a aliança militar de 30 países liderada pelos Estados Unidos longe das fronteiras russas, Putin deu início a um conflito diferente de todos o que aconteceram – e ainda acontecem – no século XXI. Enquanto soldados e armamentos militares travavam combates em solo e no ar, as redes sociais se tornaram palco de outras batalhas.

As bombas explodem, os números também

Cerca de 10,6 mil quilômetros separam o Brasil da Ucrânia em uma viagem feita de avião. Contudo, a distância dos países em conflito com o resto do mundo não foi capaz de impedir que a guerra no leste da Europa se tornasse um dos assuntos mais comentados e consumidos no início deste ano.

Segundo estimativas do último relatório Digital Global Report 2021, o mundo conta com cerca de 4,2 bilhões de usuários ativos nas redes sociais. E foi essa massa que deu voz e visibilidade para o conflito entre Ucrânia e Rússia.

Dados da plataforma de monitoramento de redes sociais Crowdtangle dão uma ideia de como a guerra na Ucrânia se tornou o assunto do momento; e a nova obsessão da internet nos primeiros dias de conflito.

Em um mês de guerra, as interações envolvendo o termo “Ukraine” no Facebook, por exemplo, cresceram cerca de 586% quando comparado com o mesmo período de 30 dias anteriores, entre janeiro e fevereiro. Já no Instagram, o aumento visto foi de cerca de 416%, com mais de 852 milhões de interações.

Ao Metrópoles, especialistas afirmam que o crescimento nos números e a viralização da guerra da Ucrânia nas redes sociais deram uma nova cara para o conflito, e uma nova dinâmica na cobertura de conflitos bélicos.

“Estamos tendo acesso aos acontecimentos na Ucrânia praticamente em tempo real. No passado, ter informações sobre um conflito bélico sem a presença de correspondentes de veículos de comunicação era praticamente impossível”, explica Alan Costa, publicitário e especialista em redes sociais.

A grande guerra da era digital

Apesar de 17 países ao redor do mundo viverem situações de conflitos armados e conviverem com crises semelhantes a que se instalou na Ucrânia. especialistas em conflitos militares e relações internacionais ouvidos pelo Metrópoles classificam o conflito, que já dura quase 60 dias, como a primeira grande guerra da era digital.

Para Ricardo Wahredorff Caldas, professor de ciências políticas da Universidade de Brasília, além das potências mundial envolvidas e da iminência de uma possível 3ª Guerra Mundial, a explicação para o fator que diferencia conflitos que continuam acontecendo, como na Síria e Afeganistão, do que acontece na Ucrânia é o local onde a guerra é travada.

“Um fato que acontece na Europa ganha nível mundial. Recentemente, existiram outros conflitos, principalmente na África e Oriente Médio, mas nenhum ganhou a dimensão global da Ucrânia”, afirma Wahredorff.

Com essa dimensão, as redes sociais acabaram se tornando palco para os dois lados do conflito em uma guerra de narrativas, com personagens que utilizaram o poder da comunicação na internet de formas diferentes – ambos entendendo a capacidade e importância dessas novas ferramentas.

A sede pelo próximo assunto do momento

Há anos, as redes sociais se tornaram uma grande máquina de “moer assuntos”. Por todo o poder de comunicação e de troca, cada vez mais assuntos viralizam e são deixados de lado rapidamente, por a sede pelo próximo assunto do momento.

“Essa é uma característica natural desses novos meios de comunicação. Isso tem a ver com o comportamento das pessoas após a popularização da internet. A noção de tempo mudou, e o consumo de notícias também mudou”, explica o publicitário e especialista em redes sociais Alan Costa.

A queda dos números relacionado ao conflito na Ucrânia traduzem bem esse novo comportamento, quase compulsivo, pela próxima novidade que vai bombar e ser o assunto do momento nas redes sociais.

No Brasil, o número de interações no Facebook com o termo “Ucrânia” cresceu 450% no primeiro mês de conflito em comparação ao mesmo período entre janeiro e fevereiro. Contudo, bastaram poucos dias para o interesse pelo assunto começar a cair.

Dados do Crowdtangle mostram que em 24 de fevereiro, quando Putin anunciou o início da invasão de tropas russas em solo ucraniano, as interações com a palavra Ucrânia no Facebook chegou a cerca de 16,4 milhões no primeiro dia de guerra. Um mês depois, em 24 de março, o número caiu para cerca de 500 mil. Já no Instagram, as mais de 51 milhões de interações envolvendo o termo caíram para cerca de 357 mil após um mês de conflito.

“É muito difícil a gente iniciar e finalizar a semana falando sobre o mesmo assunto nas redes sociais. O ambiente das redes sociais é muito dinâmico e superficial. As pessoas ficam ávidas por novidades”, afirma Alan Costa.

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